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Por Rogerio Ruschel
Meu caro leitor ou leitora, como sempre repito aqui, nos meus livros e palestras, o uso sustentável de produtos, insumos, práticas e saber-fazer agrega valor a qualquer produto convencional, porque produtos com Origem e Identidade valem mais no mercado.
Como vocês já sabem, quem garante isso – além de mim, é claro – são “papas” do marketing mundial como Philip Kotler, que afirma que “Marketing 3.0 procura não só vender produtos; Marketing 3.0 contempla produto, serviço e valor”; John Quelch,Reitor da Harvard Business School que garante que “Para ser global, um produto precisa primeiro ser local, porque todos os negócios são locais.”; e Michael Porter, que insiste em garantir o valor do saber-fazer com frases do tipo “Transformar capital intelectual em ativo econômico é Inovação“.
Pois pequenos agricultores do Centro-Oeste brasileiro estão demonstrando isso na prática, de uma maneira realmente diferenciada: estão inovando com um doce tradicional, de baixissimo valor agregado, a tradicional rapadura. Impulsionados por um programa que incentiva o desenvolvimento sustentável, eles resolveram adicionar frutos típicos do Cerrado à receita. Hoje alguns dos sabores usados, como rapadura de baru, cagaita e pequi, já são vendidos por até o dobro do preço da rapadura “comum” – 100% de v alorização!!!
Sabe porque? Porque Valor é uma percepção de procura, é definido pelo comprador: se muitos querem a mesma coisa, o valor aumenta; se ninguém quer um produto, o valor diminui. E Preço é uma percepção de oferta, é definido pelo vendedor: não importa o preço que você acredita que seu produto valha, porque se o consumidor não pagar, o produto não vai ser vendido. Como só tem rapadura de baru, cagaita e pequi na região do Lago Serra da Mesa, no Noroeste de Goiás, o Valor é maior – simples assim. E quando outros produtores copiarem a idea – o que vai acontecer, cedo ou tarde – espero que estes produtores criativos já estejam investindo na identidade e na origem de sua rapadura criativa, para permanecer liderando o processo e mantendo o valor das rapaduras.
A história é simples e se repete por todo o Brasil. Os agricultores enfrentavam diversas dificuldades até conhecerem o Programa Redes, uma parceria com o Instituto Votorantim e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O objetivo do programa é contribuir para o desenvolvimento sustentável de municípios.
A rapadura é um produto original das Ilhas Canárias, da Espanha, chegou ao Brasil em 1532 e servia de alimento para os escravos por possuir muitos nutrientes. Se espalhou e popularizou em todo o Brasil, mas era sempre igual. A ideia da rapadura com frutos tradicionais do Cerrado surgiu porque os produtores queriam um doce exclusivo. E não era dificil porque os frutos são coletados na beira da estrada.
Durante um ano, o programa ofereceu cursos aos agricultores. Com a ajuda dos especialistas, as nove famílias associadas decidiram investir mais na rapadura. O trabalho em conjunto garante que os gastos e os lucros sejam divididos igualmente. E como se sabe, este á apenas um dos benefícios de trabalhar um produto com Orige e Identidade em conjunto com outros produtores. Lembro outros:
- Valoriza as propriedades rurais
- Compartilha despesas com gestão, promoção e divulgação
- Enriquece o portfólio do produtor
- Atrai fornecedores, distribuidores e investidores
- Melhora a eficiência de operação das cadeias produtivas locais
- Estimula a organização de grupos produtivos locais – APL
- Valoriza a atividade
- Atrai e retém mão-de-obra
A princípio, a produção da rapadura pelas chácaras que rodeiam o Lago Serra da Mesa, ao noroeste de Goiás, era apenas para consumo próprio, mas na década de 1990, 76 agricultores familiares se uniram e formaram uma associação – atualmente, apenas nove famílias permanecem no grupo, que são os que estão colhendo os resultados, porque como se sabe, quem persiste, ganha.
Meus caros leitores, falta aproveitar mais um pouco este produto exclusivo inserindo ele em roteiros turísticos regionais. As cidades banhadas pelo Lago criado para criar a Usina Serra da Mesa e que compõem a Região Turística do Vale da Serra da Mesa, já tem muitos atrativos turísticos, e vale a pena conhecer as belezas de Minaçu, Porangatu, Uruaçu, Niquelândia e Padre Bernardo. Mas talvez acrescentar novos produtos à base de rapaduras com frutos do cerrado ajude outras cadeias produtivas locais.
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Já há muito tempo, em Minas Gerais, regiões norte e nordeste, especialmente no Vale do Jequitinhonha, temos um “doce” de rapadura, com mamão ou amendoim, conhecido por “Tijolo”. Muito gostoso, pouco conhecido e bastante desvalorizado, infelizmente. Espero que essa experiência tenha a sorte de cair no gosto dos consumidores.
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Pois é, Danusa. Infelizmente a tendência no Brasil é que os moradores não dêem valor a seus produtos locais, é parte de algum tipo de sindrome ou complexo de inferioridade. Espero que o “Tijolo” passe a ser mais conhecido – mas isso só vai acontecer se os criadores divulgarem… Obrigado pela leitura, Rogerio Ruschel