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Por Rogerio Ruschel
Meu prezado amigo ou amiga, o Brasil práticamente desconhece seus 266 povos indígenas e nunca ouviu as 70 línguas remanescentes da imensa riqueza do Brasil originário. Mas agora você, que tem bom gosto, pode conhecer parte deste tesouro cultural através da produção audiovisual feita exclusivamente por produtoras indígenas, mulheres que se organizaram em rede e que estão a partir deste mes em uma plataforma na internet, a Katahirine – Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas – em https://katahirine.org.br/ , uma iniciativa do Instituto Catitu.
Katahirine – que significa constelação no idioma da etnia Manchineri – une mulheres dos povos Munduruku, Arara, Juruna, Yanomami e Tapajós – entre tantos outros. São mais de 50 produções, a maioria com equipamentos profissionais, algumas de realizadoras já consagradas como Graci Guarani e Olinda Wanderley Yawar Tupinambá, respectivamente diretora e codiretora do projeto Falas Da Terra, da TV Globo. E Patrícia Ferreira Pará Yxapy, que tem filmes exibidos em festivais no Brasil e no mundo – Doclisboa, em Portugal, Berlinale, na Alemanha, e Margareth Mead Film Festival, em Nova York, EUA. A seu lado estão aquelas que realizaram um único vídeo na aldeia, numa oficina de audiovisual.
Composta por mulheres que atuam nas áreas do audiovisual e comunicação, a rede Katahirine é coordenada por Mari Corrêa, Sophia Pinheiro e Helena Corezomaé. Foi concebida pelo Instituto Catitu, organização que promove oficinas de audiovisual com povos indígenas para valorizar os saberes femininos e fortalecer o protagonismo das mulheres e jovens na defesa de seus direitos. Helena Corezomaé, da etnia Balatiponé (MT), assessora de comunicação do Instituto Catitu, foi a única jornalista indígena entre os entrevistadores da ministra Sonia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas, no programa Roda Viva. Mestre em antropologia social pela UFMT, ela realizou o curta “Elotinopopare, o córrego do povo Umutina Balatiponé que secou”.
Já Sophia Pinheiro é educadora popular, artista visual e cineasta, com trabalhos exibidos dentro e fora do Brasil. Com doutorado em Cinema e Audiovisual pela UFF, mestre em Antropologia Social pela UFG, há quase 10 anos colabora junto a mulheres indígenas cineastas na realização de filmes e formação audiovisual. A equipe é integrada ainda pela jornalista e cineasta Natali Mamani, da etnia Aymara, participante de exposições e festivais dentro e fora do Brasil e assistente de coordenação da Katahirine.
Trata-se da vitrine com uma imensa diversidade cultural entre os povos, como informa o site “Outras Palavras”, em texto de Inês Castilho, “Dessa constelação participam mulheres de todos os biomas, de diferentes regiões e etnias, que se uniram com o objetivo de fortalecer a luta dos povos originários por meio do audiovisual. Nela, cada cineasta tem uma página com perfil, biografia e criações. O conjunto revela uma produção que está escondida nas redes – um cinema diverso e plural, com imagens encantadas de cuidado e afeto, memórias, saberes e luta por direitos e territórios. A rede é uma aliada na elaboração de práticas anticoloniais e antirracistas, e seu principal objetivo é fortalecer a luta dos povos originários por meio do cinema.”
A Katahirine recebeu o apoio da Fundação Ford através do Projeto Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas, da Rainforest Foundation Noruega através do projeto Aliança dos Povos Indígenas e Extrativistas pelas Florestas do Acre e do Fundo de Direitos Humanos dos Países Baixos através do projeto Rede de Comunicação das Mulheres Pataxó.
E antes que você fique pensando que “organizações internacionais querem se apropriar da nossa Amazônia”, lembre que como infelizmente nenhuma organização brasileira, pública ou privada, apoiou um projeto como esse, a alternativa seria deixar a cultura norrrer. Eu prefiro que viva e porisso divulge aqui.
E se você também quer que nossa cultura originária continue existindo, apoie a iniciativa, acesse e divulgue o site dentro e fora do Brasil, em https://katahirine.org.br/
Fonte: “Outras Palavras”