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Por Rogerio Ruschel
Entrevista exclusiva com Francisco Mitidieri, Presidente
Prezado leitor ou leitora, o Estado de São Paulo é a maior economia do Brasil: teve um PIB de 3,2 bilhões de Reais em 2023 (2,6 vezes maior do que o PIB de Portugal), cerca de 55 milhões de turistas circularam dentro do Estado em 2024 e como se sabe os paulistas têm poder de compra acima da média brasileira. Como turistas viajam e consomem de tudo – especialmente produtos locais para levar de lembrança e para provar nos restaurantes – é de se esperar, então, que o Estado tenha também grande número de produtos já reconhecidos com Indicações Geográficas. Mas infelizmente não é bem assim. Para continuar comparando, Portugal tem cerca de 200 IGs já concedidas, e São Paulo tem apenas nove. Saiba aqui como o Fórum está trabalhando para ampliar isso.
No Brasil 9 estados possuem Fóruns de Indicações Geográficas e Marcas Coletivas, criados para organizar e promover o desenvoilvimento de IGs e MCs. Como informa o Ministério da Agicultura e Pecuária (MAPA), “Os Fóruns Estaduais de Indicações Geográficas (IGs) e Marcas Coletivas (MCs) são instâncias de construção da governança no tema, e reúnem pessoas de diferentes representatividades, como órgãos governamentais, instituições de ensino e pesquisa, sindicatos, associações e cooperativas de produtores, e demais especialistas colaboradores interessados”.
O Fórum Paulista foi formalizado em 2023 e é presidido por Francisco Mitidieri, Auditor Fiscal Federal Agropecuário do MAPA em Campinas, engenheiro agrônomo com Mestrado em Ciência Animal, MBA em agronegócios e especialização em Indicações Geográficas e Propriedade Intelectual no Brasil e no exterior. Fiz palestra sobre marketing para IGs em uma Assembleia do Fórum e participei de debates com Mitidieri em outros eventos. Fiz esta entrevista com ele para que os leitores de In Vino Viajas continuem a ser os mais bem informadios sobre este assunto no Brasil. Leia a seguir.
Rogerio Ruschel – Como foi criado, quem coordena e quem são os membros efetivos do Fórum SP?
Francisco Mitidieri – O Fórum foi instituído em 19 de janeiro de 2023 no âmbito da Superintedência Federal de Agricultura no Estado de São Paulo/MAPA, embora desde 2010 já realizasse reuniões informais e de maneira virtual durante a pandemia.
Os Gestores do Fórum – biênio 2023 2024:
Francisco José Mitidieri – coordenador – MAPA
Adriana Renata Verdi – secretária executiva – IEA/SAA-SP
Helena Carolina Braga – coordenadora substitute – INPI
Os membros efetivos são:
I. Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA/SAA-SP;
II. Associação dos Produtores de Cafés Especiais – AMSC;
III. Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui– SINBI
IV. Conselho do Café da Mogiana de Pinhal-COCAMPI;
V. Conselho do Café da Região de Garça-SP – CONGARÇA.
VI. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral-CATI/SAA-SP;
VII. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA-Territorial;
VIII. Escola Superior de Agricultura “Luz de Queiroz”/ESALQ/USP;
IV. Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo/FAESP/ Serviço Nacional deAprendizagem Rural-SENAR.
X. Instituto de Economia Agrícola – IEA/SAA-SP;
XI. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP;
XII. Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI;
XIII. Ministério da Agricultura e Pecuária-MAPA – Superintendência Federal de Agricultura ePecuária no Estado de São Paulo-SFA-SP;
XIV. Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo – OCESP;
XV. Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo;
XVI. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas- SEBRAE-SP;
XVII. Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca – SINDIFRANCA;
XVIII. Sindicato das Indústrias de Produtos Cerâmicos de Louça de Pó, de Pedra, Porcelana e daLouça de Barro de Porto Ferreira – SINDICER;
XIX. Sociedade Rural Brasileira – SRB;
XX- Associação dos Produtores Rurais do Vale do rio Jacaré Pepira-APROJAPE
Rogerio Ruschel – Quais as principais realizações no ano de 2024?
Francisco Mitidieri – Foram várias realizações:
- Fizemos 3 assembléias gerais, em Birigui, Jundiaí e Piracicaba
- Criamos um sub-grupo de eventos para aproveitar as oportunidades de associativismo
- Participamos na Agroshow dentro do estande da Secretaria estadual de Agricultura
- Fizemos uma parceria com o IFSP de Campinas, para montar o site do Fórum, que ainda está sendo feito
- Incentivamos a criação de uma pesquisa em parceria com a ESALQ cpom recursos da FAPESP, sobre os impactos socio-econômicos das IGs e MCs bastante amplo, incluindo Missões técnicas à Serra da Canastra, Vale dos Vinhedos, Cachaça de Paraty, e Holambra. Vai se realizar por 4 anos
- Incentivamos a criação de um grupo de especialistas sobre IGs na ESPM
- Fizemos avaliações iniciais sobre potenciais IGs e MCs em São Paulo
Rogerio Ruschel – Quantas são as IGs de São Paulo e quais são as IGs e MCs potenciais?
Francisco Mitidieri – Temos 9 IGs registradas no estado e são cerca de 50 produtos e regiões que tem potencial, mas posso citar cerca de 25 que estão em fase mais adiantada de estudos, embora tudo seja inicial. A maioria delas não passou ainda pela fase de “prospecção”, de acordo com a metodologia utilizada. Nesta fase tenta-se identificar se: a) há interesse dos “stakeholders” do território (produtores/fabricantes/prestadores de serviço); b) se preenchem as bases conceituais e legais para obterem o reconhecimento como IG ou MC; c) outras informações. Veja o quadro.
Potenciais IP, DO ou MC – São Paulo – 2025
Morangos de Atibaia e Jarinu | – | IP |
Lúpulo de Campos do Jordão | – | IP ou DO |
Ostras de Cananéia | – | IP |
Frutas de mesa de São Miguel Arcanjo | – | MC |
Circuito das Frutas Paulista | – | MC |
Laticínios de Búfala do Vale do Ribeira | – | IP |
Cachaça da Região de Pirassununga | – | IP |
Queijos Artesanais/Autorais Paulistas | – | MC |
Flôres de Holambra | – | IP |
Chá do Vale do Ribeira | – | IP |
Produtos de comunidade indígena do Vale do Ribeira ou batata doce de polpa alaranjada Jety Andai | – | MC |
Arroz Moti do Vale do Ribeira | – | IP |
Pamonhas de Piracicaba | – | IP |
Comidas típicas Santana e Santa Olímpia | – | MC |
Linguiça de Bragança Paulista | – | IP |
Azeite dos Contrafortes da Mantiqueira ou da Mantiqueira Paulista | DO | |
Cambuci da Mata Atlântica Paulista | – | IP |
Calçado Feminino de Jaú | – | IP |
Manutenção Aeronáutica de Sorocaba | – | IP |
Paraquedismo Boituva | – | IP |
Terapias Hidrotermais de Águas de São Pedro | – | IP ou DO |
Coxinhas de Queijo de Jundiaí | – | IP |
Figo roxo de Valinhos | – | IP |
Artesanato do Vale do Paraíba | IP |
Rogerio Ruschel – Quais são os planos para o Fórum Paulista para 2025?
Francisco Mitidieri – Planejamos entre outras ações:
- Realizar 3 assembléias gerais: Em Franca, no mes de abril; em Porto Ferreira, em agosto e em Garça, no mes de novembro
- Participar do Agrishow, desta vez com estande para vender produtos com IGs e MCs
- Colocar no ar o site do Fórum
Estas foram as informações de Mitidieri, um profissional que leva muito a sério sua missão de valorizar as IGs.
Mas eu, o professor Rogerio Ruschel, vejo aspectos que precisam ser melhorados.
Um deles é que o Fórum deveria procurar parcerias para gerar valorização das IGs a partir dos associados às IGs, um movimento de dentro para fora, de Endomarketing. E isso tem que ser muito rápido porque com a evolução do Acordo Mercosul + União Europeia brevemente nossos produtos estarão competidndo com produtos europeus em igualdade de impostos, mas em desvantagem pela famosa “Sindrome do cachorro Vira-lata”, como apelidou Nelson Rodrigues o sentimento de inferioridade dos brasileiros em relação a outros países, especialmente os desenvolvidos, e também porque os consumidores brasileiros que desconhecem (ou não reconhecem) completamente nossos valores.
E isso precisa ser rápido, porque o mercado tem uma dinâmica impressionante e pode se tornar ineficiente uma pesquisa com 4 anos de duração para conhecer os impactos positivos das IGs. Ora, já sabemos que são importantes. Porque porque em paralelo ou no lugar de uma pesquisa de 4 anos para dimensionar algo que já sabemos que é importante, não fazer uma ação de divulgação de 4 anos planejada, organizada, para que os brasileiros saibam o que são IGs e MCs e porque são valiosas?
Precisamos urgentemente gerar apropriação do selo pelos produtores certificados, porque só assim será possível gerar reconhecimento de valor de uma IG pelo distribuidor, revendedor, por formadores de opinião e finalmente pelo consumidor final.
Falta também capacitar os produtores em gestão e em marketing – pelo menos os produtores de pequeno volume. Mitidieri me disse que o INPI realiza cursos que estão disponíveis e que o Fórum não tem CNPJ e por isso não realiza cursos. Espero que isso mude – rápidamente.