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A Suíça é um pequeno país (41.285 K2, do tamanho do estado brasileiro do Espírito Santo), com uma população total menor do que a cidade de São Paulo (7,8 milhões de habitantes) e com um dos maiores PIBs per capita do mundo – US$ 42.600.00 em 2010.
Neste território, encravado no coração da Europa, convivem quatro principais regiões linguísticas e culturais oficiais: alemão, francês, italiano e romanche – uma mistura de todos os outros e quase uma raridade.
Os suiços de origem alemã (65% da população) predominam na economia e na política, em regiões como Basiléia, Berna (a capital) e Zurique, a capital industrial. Os franceses (18%) se concentram em Lausanne, Montreaux e Genebra, a cidade mais cosmopolita, com várias unidades da rede da ONU. Já os italianos (10%) ficam no entorno de Lugarno. Como me disseram várias pessoas, quem manda mesmo são os alemães, que consideram Genebra liberal em excesso…
Trata-se de um país diferenciado: até mesmo o governo é diferente, exercido pelo Conselho Federal composto por sete pessoas eleitas por duzentos membros do Conselho Nacional (uma espécie de Assembléia Legislativa) e pelos 46 Conselheiros Estaduais (uma espécie de Senado). Estes sete Conselheiros Federais elegem um Presidente (atualmente uma Presidenta) anualmente.
Todas as decisões são tomadas por este grupo de sete pessoas e o Presidente tem poderes limitados. E sabe como é que a população participa? Através de referendos de nível federal ou dos cantões (estados) – e se um cantão perder no referendo de uma lei, pode simplesmente não aceitar aquela lei…
Pois parece que o sistema está dando certo. Atualmente a Suíça é a 23a. economia do mundo, mesmo sem ter grandes estoques de recursos naturais. Os fundamentos da economia são a indústria (química, farmacêutica, máquinas e equipamentos, tudo com alta tecnologia) e serviços financeiros como o de gestão de fortunas. Mas para simples turistas como eu, a Suiça é o pais dos queijos, chocolates e relógios. E – acredite ou não – de vinhos!
Vinhedos debruçados sobre o lago
Toda a Suíça é bonita. Conheço Berna, Zurique, Interlaken, um pouquinho da região italiana e a região do Lago Genebra. Pois este ano voltei a Genebra para visitar os vinhedos em terraço da região de Lavaux, tombados há quatro anos pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade.
Trata-se de uma área no Cantão de Vaud com 14 vilas e pequenas cidades, com 40 Kms de frente para o Lago Genebra, entre Corseaux e Lutry, que concentra 830 hectares de vinhedos em terraços debruçados sobre o lago sempre azul. Um espanto de beleza!
Os vinhedos, com altitude variando de 372 a 936 metros, tem a proteção de montanhas e a refrigeração dos ventos que entram pelo Lago Genebra vindos dos Alpes franceses e do Mont Blanc. Segundo consta, uvas vem sendo cultivados desde o século XI, quando foram introduzidas por monges – sempre eles!
Peguei um trem rápido em Genebra, desci em Vevey, um pouco antes de Montreaux, e dali, usando trens regionais S1, fui “pingando” em estações como St. Saphorin, Rivaz, Cully, Villete e Lutry, onde embarquei de volta para Genebra, no fim do dia. Como estava a pé, o segredo é descer da estação e caminhar pelos vinhedos até a cidadezinha, percorrer as ruas principais, documentar as atrações e voltar à estação para a próxima experiência.
Para algumas das caminhadas aproveitei percursos de randonnées – trilhas entre 2 e 5 Kms sempre bem demarcadas. Todas as cidadezinhas têm encantos:
- Em Grandvaux, estão a Praça Corto Maltese (homenagem ao cartunista suíço natural da cidade) e a Maison de Bailli Mallardoz (que não visitei);
- Em Lutry, você pode passear pela cidade medieval e pode conhecer menires de 4.000 anos antes de Cristo;
- Fotografar ruínas romanas em Savuit;
- Conhecer a Villa “Le Lac:, projetada por Le Corbusier na década de 1920 e fazer sua fézinha em várias igrejas com 500 a 600 anos que surgem nas praças logo depois de virar a esquina numa ruela.
Degustando na Vinorama
Apesar de muito próximos (cerca de 40 Km entre Corseaux e Lutry) e terem basicamente os mesmos tipos de uvas, os vinhedos das diversas comunas geram produtos com diferentes sotaques por causa do solo que varia de arenoso ou argiloso a calcário.
Nesta pequena área (repito: apenas 830 hectares de vinhedos), convivem oito diferentes denominações (as appellations): Chardonne, Saint-Saphorin, Calamin Grand Cru, Epesses, Dézaley Grand Cru, Vevey-Montreaux, Villette e Lutry. Cerca de 220 pequenos produtores, geralmente famílias, produzem vinhos e toda a produção é praticamente consumida na Suíça por falta de escala para exportação.
Em Rivaz fiz uma parada estratégica para conhecer a Lavaux Vinorama, uma grande loja inaugurada em maio de 2010 que comercializa 230 rótulos de 150 produtores regionais. Segundo Sandra Joye, diretora da casa, no Lavaux são produzidos vinhos brancos com duas fermentações a partir das castas Chasselas (68% da produção, uma cepa suíça Téoricamente oriunda do Egito), Pinot Gris, Viognier, Sauvignon, Chardonnay, Silvaner e Doral. Os tintos utilizam Malbec, Pinot Noir, Gammay, Merlot e Syrah.
Atendido pelo Luiz Alves, um garçom português, enfrentei uma degustação de brancos acompanhada de petiscos e salgadinhos.
Provei DOCs Lutry (Cret de Plan), Calamin (um Grand Cru da L’Arpege), dois ou tres Saint Saphorin, um Villette de Les Echelettes, um Epesse da Cave Du Cypres e um Chardonne da La Bachanalle.
Não sou um especialista e não diferenciei o sabor das denominações, mas registro que os que mais me agradaram foram vinhos chasselas da denominação Saint Saphorin. São vinhos que não conhecemos no Brasil e certamente não são valorizados como os vizinhos franceses, mas são muito bons – com 26 Francos Suíços você compra um bom Grand Cru.
Na Vinorama assisti um filme que apresenta 12 meses na vida e labuta de uma família de produtores – um belo e comovente documentário como não vi em nenhum outro lugar, realmente interessante.
Para saber mais acesse http://www.vignerons-lavaux.ch/ e http://www.lavaux-vinorama.ch/
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