Tempo de leitura: 5 minutos
Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitor ou leitora, você já tinha ouvido falar em leite com personalidade e identidade? Pois agora vai conhecer – e vamos começar com vacas portuguesas felizes. Quando você compra um queijo fabricado nas Ilhas Açores, Portugal, vai ver uma frase curiosa: fabricado com leite de vacas felizes. Ninguém vai conferir se as vacas são mesmo felizes, mas nos Açores elas são criadas soltas em pastagens tão bonitas que devem ser mesmo felizes!
Aliás, a paisagem é tão bonita que os vinhedos da Ilha do Pico foram reconhecidos como Patrimônio da Humanidade! (na foto abaixo o Lago do Fogo). Mas a verdadeira razão é o Programa Leite de Vacas Felizes – Puro Leite de Pastagem, realizado pela empresa de lacticinios Bel Portugal, que é seguido pelos 500 produtores de leite nos Açores.
Para aderir ao Programa (que oferece benefícios), o produtor de leite tem que atender requisitos e boas-práticas agropecuárias incluindo boa pastagem, bem-estar animal, qualidade e segurança alimentar, produção sustentável e eficiência. O raciocínio é simples e eficiente: o melhor leite vem de vacas felizes, vacas que vivem ao ar livre e em comunidade, com uma alimentação à base de ervas frescas o ano inteiro e não enfiadas em estábulos comendo feno seco, como em quase toda a Europa. O marketing é muito inteligente, o site tem brincadeiras para crianças e até karaokê que dá viagens (abaixo), veja no fim deste texto.
O Brasil tem um programa similar a esse, o GTPS – Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, realizado nas regiões Centro-Oeste e Norte. Criado em 2007 por organizações da cadeia produtiva (produtores, frigoríficos, bancos, varejistas, universidades e ONGs) tem como objetivo promover o desenvolvimento da pecuária sustentável. Visitei o projeto no Pará: eles fazem um bom trabalho, estão evitando que a pecuária provoque desmatamento e segundo dizem, o Brasil é o país que mais reduz a emissão de gases de efeito estufa sem comprometer a atividade rural. Mas eles nunca pensaram em comunicar ao mundo que estão deixando os bois mais felizes… Veja o site no final do texto.
A Vaca Francesa Que Ri em 136 países
Pois a mesma empresa que inventou as vacas felizes dos Açores já tinha inventado outra vaca muito mais conhecida: a Vaca que Ri, marca de um queijo fundido que já tem 90 anos de mercado, está presente em 136 países e vende mais de 10 milhões de fatias por dia! A Vaca Que Ri nasceu em 1921, já na cor vermelha e já sorrindo, pelas mãos do francês Léon Bel, dono de uma empresa de queijos familiar existente desde o final do século XVIII. Ele também inventou os famosos triângulos de queijo embalados um a um, que é como conhecemos a Vaca Que Ri nos supermercados brasileiros.
Noventa anos após a sua criação, ainda não se sabe porque a vaca está rindo, mas eu suspeito que seja porque é uma marca de sucesso que dá muito lucro. Mas a empresa Groupe Bel conta a origem do nome assim: durante a Primeira Guerra Mundial, Léon Bel viu um vagão de trem levando carne para soldados que havia sido apelidado de La Wachkyrie, uma brincadeira com a palavra Valquíria, dando origem a La vache qui rit®, o nome original em francês da vaca que é conhecido também como The Laughing Cow. Só para lembrar, na mitologia nórdica as Valquírias eram deusas que ajudavam Odin conduzindo para o Valhala (o Paraiso) os soldados mais corajosos que morriam na batalha. A vaca qyue ri também diverte as crianças pelo site poruguês (abaixo).
A vaca automática 24 horas
Pois leite – que geralmente pensamos que se trata de um produto commoditie que se diferencia apenas por ter mais ou menos gordura – pode não apenas ter identidade territorial como nos Açores, ou ter uma marca reconhecida em dezenas de paises, mas também ter um diferencial moderníssimo: ser comprado em uma caixa automática 24 horas, destas que a gente utiliza para sacar dinheiro ou comprar sanduiches. Pois a caixa automática de leite fresco 24 horas existe em pequenas cidades na região da fronteira entre a Suiça e a França; esta que fotografei abaixo está implantada na rua central de Saint Gennis Poully, um vilarejo com 8.500 moradores do Departamento de Ain, Cantão de Ferney-Voltaire, em Auvergne-Rhone-Alpes, França.
A caixa automática é abastecida todos os dias as 6:00 horas da manhã e o leite pode ser comprada a qualquer momento sem perigo de estar estragado. Um litro de leite fresco e cru, que sai geladinho de uma torneira acionada pelo comprador, custa em torno de R$ 4,00 incluindo a garrafa de vidro (veja detalhes acima e abaixo). Não sei se eles tem uma cooperativa para a produção e entrega do leite, ou se é uma empresa que compra e explora o ponto de venda automático; o que importa é que o leite fresco está disponível a qualquer momento para moradores e visitantes e era muito gostoso!
Penso que todas as vacas deviam ser felizes porque vacas felizes respondem com leite de melhor qualidade. E além disso vacas felizes alegram todo mundo. Veja neste video (detalhe acima) como as vacas ficam felizes quando saem de um longo período no estábulo: https://youtu.be/rNgcMInHieQ
Saiba mais:
Açores: http://migre.me/vWD3k
Vacas felizes: http://www.terra-nostra.pt/
GTPS: https://www.facebook.com/gtpsbrasil
A Vaca que Ri: http://avacaqueri.pt/#
Link permanente
Quanta coisa boa poderíamos copiar. Somos um país de grande dimensão, com bom clima e tudo que possamos implantar mas, não temos ética, não somos um povo sério na sua maioria!
Link permanente
Ola Anna, um dia vamos superar tudo isso, precisamos continuar estudando boas praticas e acreditando nelas. Obrigado, abraços