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Desde que o presidente da Ucrânia Viktor Yanukovytch foi deposto em 22 de fevereiro de 2014 por cidadãos cansados da má gestão pública, a Ucrânia tem sido disputada pela Rússia (que se considera antiga e legítima proprietária) e por um bloco de países liderados pela Comunidade Econômica Europeia e pelos Estados Unidos.
O objetivo dos russos é manter controle sobre o fornecimento de gás para os europeus e sobre o litoral do Mar Negro; já os europeus apoiam a independência politica da Ucrânia dos russos para evitar a pressão no custo do gás russo utilizado como fonte de energia em todo o continente europeu. O primeiro resultado desta disputa foi a anexação de uma antiga parte da Ucrânia, a Crimeia, pelos russos, uma península inteira deburçada sobre o Mar Negro (foto abaixo) que continua linda como dá para ver nas fotos acima (do famoso Castelo Swallow’s Nest) e abaixo.
Os russos alegam que mais de 60% da população da Península da Crimeia é de etnia russa e que a a região “sempre foi da Rússia”. Discussões à parte, a Crimeia oferece um potencial de geração de riqueza baseado no turismo que tende a continuar crescendo quando passar o tumulto politico do momento. A região é chamada de “Riviera da Europa Oriental” por causa de suas praias limpas e azuladas, pela herança arquitetônica e histórica de centenas de anos e por seus castelos misteriosos, como os que mostramos acima e abaixo.
O outro grande recurso além do petróleo e do turismo da Crimeia é um tesouro que foi recentemente lembrado por um relatório publicado pela conceituada Revue du Vin de France, em Paris: os vinhos licorosos produzidos na península, considerados os melhores do mundo e objeto de colecionadores de vinhos raros e caros (veja abaixo).
A história de vinificação na Crimeia tem pelo menos 4.000 anos, mas a fase moderna começou no século XIX. Por causa de seu clima quente, terreno montanhoso e diversidade de solos que criaram condições favoráveis para o cultivo de diferentes tipos de uva, a Crimeia produz hoje cerca de 150 vinhos diferentes entre brancos e tintos, vermutes e conhaques considerados de boa qualidade, além de um espumante tido como referência na Ucrânia e o badalado vinho licoroso de uvas massandra.
A grande produtora é a Massandra Winery (veja abaixo detalhe), sediada em um castelo do século 17 na região de Yalta, e uma das responsáveis por tornar os vinhos Muscat de sobremesa feitos com uvas massandra “competitivo com os melhores vinhos doces do mundo”. Comparado a outros vinhos tipo xerez e porto, os vinhos Muscat das Crimeia seriam “superiores aos Sauternes franceses, Tokay húngaros, portos portugueses ou Trockenbeerenauslese alemães” segundo o colecionador francês Michel- Jack Chasseuil.
Segundo a revista Revue du Vin de France, alguns destes vinhos, elogiados por especialistas como Michel Rolland, chegam a atingir preços como 3.000 Euros por garrafa, se forem de safras míticas como as de 1915 ou 1923.
O Czar Nicolau II foi um grande impulsionador da vinificação na Criméia e trouxe variedades da França, Itália, Espanha e Portugal para tentar imitar alguns vinhos como Porto. Mas foram os muscadínios e as uvas nativas que transformaram a Criméia em produtora de alguns dos vinhos licoroso s mais importantes do planeta.
Uma herança que deve ser respeitada e valorizada e à qual devemos brindar: tim-tim!
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e gosta muito de vinhos licorosos
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Uma Criméia que eu desconhecia. Muito boa esta matéria. Ali´s, tudp o que postas aqui é muito interessante e de peso, Rogério. Obrigada por compartilhares teu conhecimento conosco. Um abraço!
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Olá, bom dia Claudette.
Muito obrigado pelo prestígio de tua visita e pela gentileza de tuas palavras.
Espero um dia poder agradecer pessoalmente.
Abs
Rogerio
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Adorei, vc como sempre ótimo Rogerio Ruschel.
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Obrigado, Tania – mesmo desconando o exagero é bom ler comentários assim…
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