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Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitor ou leitora, Patrimônios da Humanidade são regiões, monumentos, criações, áreas (denominadas “sítios”) ou modos de fazer, tecnologias sociais, produções culturais ou heranças comunitárias consideradas pela comunidade científica e intelectual de inigualável e fundamental importância para a humanidade. Na foto de abertura, a região vinícola de Tokaj, na Hungria. E por esta razão são protegidas, como já tenho mostrado aqui em várias reportagens do In Vino Viajas. Todos os anos propostas, pesquisas e documentos sobre bens patrimoniais são preparados e apresentados na forma de candidatura à Unesco, a Organização das Naçõs Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que pode ou não reconhecê-los como Patrimônios da Humanidade.
Um Patrimônio da Humanidade pode ser um único monumento, uma construção ou o conjunto arquitetônico delimitado em uma cidade, vila ou região. Exemplos brasileiros são a cidade histórica de Ouro Preto ou o Centro Histórico de Olinda, Diamantina ou Salvador. Pode ser uma única caverna, um vale, ou um território inteiro devido ao seu valor histórico, arqueológico, natural, ambiental ou paisagistico – ou um conjunto desses fatores. Exemplos no Brasil: Parque Nacional da Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, Piaui, onde foi descosberto o “homem americano” com 20.000 anos e o Parque Nacional Iguaçu, que inclui as cataratas, em Foz do Iguaçu, Paraná. Abaixo, Borgonha, França.
Também podem ser considerados Patrimônios da Humanidade heranças culturais significativas como histórias ancestrais, cantos, danças, produção artistica manual, folclore, manifestações e rituais originais. No Brasil podemos lembrar o Cirio de Nazaré – a procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém; o Frevo como arte do espetáculo do carnaval de Recife e o Yaokwa, um ritual do povo enawene nawe (nação indigena da Amazônia) para a manutenção da ordem social e cósmica. Abaixo,eu tentando abarcar o Vale do rio Douro, em Portugal.
Estes bens, tangíveis ou intangíveis, quando aprovados por uma Comissão da Unesco que se reúne anualmente, passam a fazer parte da Lista do Patrimônio Mundial. Em maio de 2018 a lista incluía 1.073 sítios e bens reconhecidos, distribuídos em 167 países. Todos estes patrimônios refletem a cultura e a identidade de uma comunidade. Da mesma forma que produtos com Identidade Territorial como não-alimentos (joias artesanais de Pedro II – Piauí, panelas de barro de Goiabeiras – Espirito Santo, rendas do Cariri (PB), mármore de Carrara ou tapetes da Turquia) e alimentos (queijo da Serra da Canastra, café do Cerrado Mineiro, cachaça de Paraty, cacau do sul da Bahia, jamón Pata Negra da Espanha e vinho, o principal deles, qualificado como um alimento por muitas comunidades e típicamente considerado como o principal produto com Identidade Territorial. Abaixo, Champanhe, França.
Segundo consta, a cultura do vinho é originária da Georgia – um pais do sudoeste europeu que se tornou independente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1991 – e é praticada há cerca de 8.000 anos. Além da importância econômica, a produção de vinho tem alta relevância por causa dos patrimônios histórico, artístico, paisagístico, social e arquitetônico específicos das comunidades produtoras – e este conjunto de elementos ajuda a construir a identidade exclusiva de cada comunidade.
A produção de vinho no mundo movimentou cerca de 30 bilhões de Euros em 2017, mas pode-se dizer que o valor destes patrimônios ligados ao vinho é incalculável. Reconhecendo isso, muitas destas comunidades relacionadas à cultura do vinho já conquistaram o reconhecimento como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco para que sejam valorizadas e preservadas. Abaixo, a técnica Qvevri, da Georgia.
Fiz uma pesquisa relacionando patrimônios da cultura do vinho inseridos na listagem dos 1073 bens reconhecidos pela Unesco, e encontrei cerca de 30 bens materiais e imateriais, dos quais destaquei os 20 listados abaixo , com as datas de seu reconhecimento pela Unesco. Pelo menos mais 10 poderiam entrar nesta lista, mas vou deixar assim mesmo, mais enxuta e objetiva. Veja a seguir.
Patrimônios materiais da cultura do vinho – urbanos e rurais
- Centro Histórico da cidade do Porto – Portugal (a mais antiga, de 1999)
- PaisagemCulturalde Wachau – Áustria (2000)
- Vale do Loire entre Sully-sur-Loire e Chalonne – França (2000)
- Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico – Portugal (2001)
- PaisagemHistóricaCultural da Região Vinícola de Tokaj – Hungria (2002). Esta região foi a primeira do mundo a ter uma identificação de procedência (que hoje viria a ser uma Denominação de Origem) em 1730, quando ainda pertencia ao Império dos Habsburgos.
- Vale do Reno – Alemanha (2002) Abaixo
- Jurisdição deSaint-Emilion, Bordeaux, França (2002)
- Região vinícola de Mittelrhein – Alemanha (2002)
- Região Vinícola do Alto Douro – Portugal (2004). Esta região foi a segunda do mundo a ter uma identificação de procedência, em 1756, criada pelo Marques do Pombal para proteger o vinho do Porto.
- Vinhedos de Terraços de Lavaux – Suíça (2007) Abaixo
- Porto da Lua e centro histórico de Bordeaux – França (2007)
- Planície de Stari Grad – Croácia (2008)
- Vinhedos, colinas e propriedades vinícolas de Champagne- França (2015)
- Climats e terroirsdaBorgonha – França (2015)
- Palestina: Terra de oliveiras e videiras, Paisagem Cultural do sul de Jerusalém, Battir – Israel (2014)
- Áreas protegidas da região de Cape Floral, Cabo – África do Sul (2004)
- Paisagem Vinícola do Piemonte – Itália (2014) Abaixo Patrimônios imateriais da cultura do vinho:
- Prática agrícolatradicional “vite adAlberello” – Ilha Pantelleria, Itália
- Método devinificação ancestral “Qvevri” – Georgia
- Iter Vitis – Associação Europeia para a Promoção dos Territórios Vitivinícolas
Então, meu caro leitor ou leitora, quando você estiver bebendo determinado vinho poderá estar se deliciando com uma verdadeira jóia da Humanidade. Brindemos a isso – tim-tim!!!