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A Associazione Nazionale Città del Vino da Itália reúne cerca de 482 comunidades (a grande maioria vilarejos com até 6.000 moradores), que tem o turismo como uma das mais importantes atividades econômicas.
A rede oferece 140 “estradas do vinho”, 4.000 albergues (com 142.000 leitos), 1.500 fazendas agroturísticas (com 18.000 leitos), 188 campings, centenas de produtores de vinho e milhares de restaurantes. São responsáveis por 200.000 hectares de vinhedos de qualidade, 80% dos vinhedos com classificação DOC e DOCG da Italia. E isso sozinho já é poderoso!
A Associação faz uma pesquisa anual junto a seus associados, denominada “Osservatorio sul Turismo del Vino”. In Vino Viajas publica agora o segundo post sobre esta pesquisa relativo a 2012. Veja o primeiro, sobre a importância da internet para o enoturismo, em http://www.invinoviajas.com/2013/08/a-importancia-da-internet-para-o/
A Itália (como os demais países europeus) ainda se ressente da crise e do corte de despesas no turismo interno que vem deixando muitos pequenos restaurantes vazios, como na foto abaixo. Segundo o instituto de pesquisa Nielsen, em 2012 cerca de 53% das famílias italianas reduziram as férias e até mesmo as estadas breves; além disso cresceu em 5% o número de famílias que eliminaram completamente as férias anuais. Entre 2009 e 2011 foi reduzido em 27% o número de viagens e 21% o número de noites passadas fora de casa por italianos dentro da Itália.
Mesmo com este ambiente de crise, os dados levantados pela pesquisa são positivos e o cenário é de otimismo. Veja a seguir um trecho da pesquisa que avalia (e mostra com quadros) o que está acontecendo na Itália, e faz comentários sobre o potencial do turismo de enogastronomia em relação ao turismo de massa.
“Assim como acontece na literatura fantástica, também no universo real do turismo parecem conviver dois mundos paralelos e que não se comunicam entre si:
· De um lado, visível na superfície, está o mundo do turismo majoritário e de tendências – o turismo de massa e outros como sol & mar, montanhas, neve e viagens exóticas, para exemplificar. Este tipo de turismo foi muito mais atingido nos últimos anos pela contração do poder aquisitivo, pela queda do consumo, e em todo o caso, pela síndrome da prudência e do adiamento (“vamos evitar viagens e economizar, não se sabe o amanhã”;
· De outro lado, mergulhado no submerso, aparecendo menos, está o mundo do turismo minoritário e temático de “short-break” e de proximidade. Este tipo de turismo é menos considerado como consumo supérfluo e portanto mais vivido. Em termos de raciocínio pessoal é um turismo que “farei logo que possível”, é um comportamento “de pequena evasão”, compensador dos traumas e ânsias da conjuntura ruim em termos de renda “OK não vou viajar de férias, mas pelo menos uns dias em …..”.
A esta última categoria parece pertencer o turismo enogastronômico, ao qual mesmo é necessário cuidar – e nunca uma metáfora foi tão pertinente – como a um copo meio cheio.
Seis razões
Os indícios que emergem de uma leitura desta sondagem definem pelo menos seis contornos importantes do turismo enogastronômico, seis razões para que confiemos no desenvolvimento:
1) A concorrência entre os destinos é muito baixa, considerando que o seu número parece ainda pequeno e, portanto, é ampliável; ainda cabem mais participantes (“players”). Veja no quadro abaixo que os prefeitos (em vermelho) acreditam na ampliação mais do que os operadores de hotelaria (em azul); (veja: a soma dos vermelhos deve ser 100%, idem para os azuis)
2) A tipologia dos turistas é ainda dominada pelos especialistas e apaixonados por vinho e comida (os “iniciados”, vamos dizer assim). Isso significa que existem vastos espaços a conquistar entre os curiosos e os “modistas”. Veja o quadro abaixo que mostra claramente a diferença de percepção entre os prefeitos (em vermelho) e os agentes de viagens (em azul);
3) O mercado do turismo gastronômico ainda é de nicho, o que pela percepção de ambos os grupos significa que pode crescer bastante até ter volume de turismo de massa – veja o quadro abaixo;
4) O mix de ofertas entre produtos e serviços tangíveis (vinhos, alimentos, leitos, etc.) resulta equilibrado face às propostas mais imateriais (como eventos, experiências sensitivas, vivências, etc.), e isto é percebido do mesmo jeito pelos dois grupos, como mostra o quadro abaixo;
5) Além disso, as perspectivas de desenvolvimento do enoturismo estão longe de atingir a curva da maturidade, e portanto ainda há muito espaço para as tendências positivas de crescimento – veja no quadro abaixo;
6) E portanto, manifestam-se oportunidades sempre atrativas, não somente as destinações clássicas de enogastronomia, mas também os distritos ampliados e inovadores, que aparecem com propostas diferenciadas (veja quadro abaixo).”
Em outros posts In Vino Viajas vai continuar mostrando os resultados desta pesquisa para que possamos conhecer um pouco da alma daqueles que fazem a enograstronomia italiana, a melhor do mundo – e aprender a fazer cada vez melhor no Brasil.
(*) Rogerio Ruschel é jornalista e enófilo e respeita comunidades que acreditam no futuro e que se preparam para receber visitantes com elegância, inteligencia e qualidade.
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Na minha opinião, o caminho do enoturismo não deve passar por quantidades massivas de visitantes. Esse tipo de "produto" turístico tende a perder a autenticidade…
Tenho vindo, aos poucos, a descobrir o seu blog. Gosto do que leio 🙂
Um abraço desde Portugal
Ruthia d'O Berço do Mundo
http://bercodomundo.blogspot.pt/
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Ola Ruthia, concordo com você.
O enoturismo deve ser um turismo de baixo impacto e alta qualficação porque é um tipo de turismo cultural.
Tambem tenho lido do Berço do Mundo; gostei muito e cheguei a pensar em pedir tua permissão para publicar um post sobre Salamanca, baseado na série de tres posts teus (A cidade dourada, O covil do diabo e Templos do Mundo – 5). Mas ocorre que não conheço Salamanca e não conseguiria fazer um único texto a partir dos tres. Você não gostaria de fazer isso, um post sobre Salamanca e separar fotos para que eu possa publicar?
O In Vino Viajas tem leitores em 39 países; em Portugal já identificamos 62 diferebtes IPs, os registros de computador que informam o local de onde foi acessado.
Agradeceria muito se você aceitasse.
Abraços
Rogerio Ruschel, editor.