Um curso internacional sobre Indicações Geográficas para diferenciar produtos na multidão global de commodities

Tempo de leitura: 5 minutos

Por Rogerio Ruschel

Meu caro leitor ou leitora, em todos os momentos da vida você pode fazer escolhas; eu escolhi sempre continuar aprendendo. E esta semana minha escolha se transformou no Certificado de Conclusão do curso “Adding Value to the Origin of Products Through Geographical Indications (GIs)” sobre “Como agregar valor à origem dos produtos com a Indicação Geográfica – IG” expedido pela ITC SME Trade Academy, de Genebra, Suiça, a plataforma de capacitação internacional do International Trade Center (ITC).

Fiz o curso para me manter atualizado em termos internacionais e enriquecer a segunda edição do meu livro “O valor global do produto local – A identidade territorial como estratégia de marketing” publicado pela Editora Senac em maio de 2019. Entendo que me manter informado sobre este assunto é fundamental. Como com o Acordo Mercosul – União Europeia cerca de 350 produtos europeus de alta qualidade com identidade territorial (como Camembert, Gorgonzola, Bologna, Pata Negra, Conhaque, Champanhe…) vão competir entre si por preço dentro do território brasileiro, corremos o risco de ficar só assistindo.

Com o Acordo o preço dos produtos, especialmente agroalimentos (como café, queijo, vinho, frutas, doces, frios, carnes, tecidos, mel, artesanato, cachaça, couro, pedras, cacau, etc) vai gradativamente perder importância na decisão de compra. E então a valorização da personalidade de um produto através da identificação com um território – seja um Selo Senaf, Marca Coletiva, Identidade Geográfica ou Denominação de Origem – será (como sempre foi) o único elemento que de fato vai diferenciar, personalizar e agregar valor a um produto, tirando-o da competição de commodity no Mercado Global. Então estou me preparando para ajudar produtores brasileiros (especialmente os pequenos e oriundos da Agricultura Familiar) a se prepararem para este embate.

Um curso internacional

O International Trade Center (ITC) tem sede em Genebra, Suiça. Minha professora foi uma italiana com pos-graduação em propriedade intelectual e tive cerca de 30 colegas de todo o mundo, especialmente da America Latina e Ásia. Três deles (até agora) pediram cópia do meu livro (que enviei, certamente): o indiano Amod Salgaonkar, dirigente de uma ONG de Mumbai (Maharashtra); o vietnamita Ky Anh Tran, que trabalha no Vietnam National Office of Intellectual Property e Rebecca Ferderer, que não identificou seu pais de origem.

O curso foi feito em ingles e online em cerca de duas semanas. Investi umas 16 horas para assistir três aulas (todas com questionários próprios), avaliar um estudo de caso, fazer um trabalho de conclusão de curso (TCC) e finalmente fazer uma avaliação do curso.

Meu estudo de caso foi sobre a Denominação de Origem Chá Darjeeling, um produto da região do Norte de Bengala, India, e que tem uma Identidade Geográfica fortissimo, reconhecida praticamente no mundo inteiro. Tive que estudar a história da produção e mobilização, as características do produto, o processo de certificação, parte da legislação, estrutura oficial de monitoramento, controle e marketing, e os esforços para manter o Chá Darjeeling como a mais importante Denominação de Origem de chás do mundo. Muito know-how ingles, aprendi muito.

Para fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tinha que Identificar um produto em um país em desenvolvimento que pudesse se beneficiar do reconhecimento de IG; descrever o caminho da identificação para o reconhecimento como IG (elementos para se qualificar para o status da IG, etapas que precisam ser tomadas para estabelecer a IG e os principais atores que devem estar envolvidos no processo); e finalmente desenvolver uma estratégia de reconhecimento, proteção e promoção, para incentivar o desenvolvimento sustentável na área de origem.

Meu TCC foi sobre o Talian. O Talian, um idioma falado por cerca de 500.000 brasileiros e o segundo mais falado no Brasil no dia-a-dia de famílias segundo o IBGE, é falado exclusivamente no sul do país, e não encontrado na Itália de onde derivou – e Talian é a palavra italian sem o inicial “i”.

O Talian é um idioma oficialmente reconhecido como “Referência Cultural Brasileira” pelo Ministério da Cultura (MinC) e como “Patrimônio Cultural” pelos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, resultante de 150 anos de miscigenação dos idiomas português, espanhol e indígena com os vários dialetos italianos existentes na Itália até 1859, trazidos imigrantes do Lazio, Lombardia, Veneto, Sicília, Piemone, Sardenha e muitos outros regiões da Itália. Estes dialetos vieram para o Brasil com os imigrantes e aqui continuaram sendo falados em família, enquanto desparaeciam na Itália por causa da unificação.

O Talian persiste no sul do Brasil em programas de rádio e WebTV, revistas, dicionários, cursos e programas educacionais – além de se o idioma “interno” de milhares de famílias. Nos municípios de Serafina Correia, Flores da Cunha, Parai e Nova Erechim o Talian é reconhecido localmente como idioma oficial, ao lado do português. Para saber mais sobre isso acesse http://www.invinoviajas.com/2015/10/veneto-trentino-e-toscano-veja-como/

O International Trade Center (ITC) foi criado em 1964 pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização das Nações Unidas (ONU) e é a única agência de desenvolvimento totalmente dedicada ao apoio à internacionalização de pequenas e médias empresas (PMEs). Seu objetivo é apoiar as PMEs, especialmente das economias em transição, para que se tornem mais competitivas e se conectem aos mercados internacionais de comércio e investimento, aumentando a renda e criando oportunidades de emprego, especialmente para mulheres, jovens e comunidades pobres.

Como sou um pequeno empresário, vivo em uma economia de transição e quero ser mais competitivo, fiz o curso. E brindo a quem me permitiu isso: Deus – e o International Trade Center.

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