Um passeio por Palermo, na Sicilia, Itália, a Cidade dos Reis Mouros com 2.800 anos e seus vinhos Marsala, Delia e Alcamo

Tempo de leitura: 5 minutos

Por Rogério Ruschel (*)

Fundada cerca de 800 anos AC por fenícios vindos de Tiro (Líbano) com o nome de Ziz, a capital Palermo é a quinta maior cidade italiana, com cerca de 1 milhão de habitantes e o principal centro cultural, histórico e econômico da Sicília. Colonizada pelos gregos por mais de 200 anos (que lhe deram o nome de Panormos, que significa “todos os portos”), em 253 AC foi tomada pelos romanos durante as guerras púnicas. Durante séculos os romanos expandiram a cidade com igrejas, castelos e palácios, mas em 831 DC o então Império Romano Bizantino perdeu Palermo, sua jóia, para mouros sarracenos que transformaram as antigas igrejas cristãs em mesquitas. A imagem abaixo mostra com clareza esta sobreposição de culturas em um trecho do muro da cidade.

Como parte importante do Emirado da Sicília, Palermo se tornou a segunda mais importante cidade moura, atrás apenas de Bagdá, e ficou conhecida como a “Cidade dos Reis”. Além das mesquitas e das residências (que persistem na arquitetura da cidade), os árabes trouxeram também grande contribuição para a agricultura com a introdução do limão, laranja, cana de açucar, amoras, algodão, trigo e métodos de irrigação. 

 Igreja de São Cataldo

 Somente em 1071 os normandos a conquistaram dos mouros, e durante muitos séculos Palermo foi uma das mais ricas cidades da Europa, rivalizando até mesmo com Londres. As comunidades moura, judia e cristã atraíram os muito poderosos (e ricos) do oriente e ocidente para a cidade, agregando ainda mais valor ao já rico acervo arquitetônico e cultural. Grande parte deste acervo (igrejas, museus e o Teatro Massimo) pode ser vista na região histórica central denominada “Quatro Cantos”, uma espécie de esquina e praça com 4 nichos nos pontos cardeais (veja um deles abaixo).
 
 
Na parte medieval da cidade (tão grande quanto as de Roma e Nápoles), o visitante que caminhar pelos 1.000 metros do Corso Calatafimi – talvez a rua com a herança histórica mais rica e variada da Europa – vai poder conhecer um cemitério púnico, belas residências romanas na Piazza Vittoria, palácios normandos como o Cuba e o Palácio Real, igrejas barrocas e perto dali, a Porta Nova. Um show de passeio!

Como uma das mais cosmopolitas cidades italianas, Palermo oferece boa infra-estrutura para hospedagem, passeios, compras e uma gastronomia de alta qualidade. Práticamente todas as culturas regionais sicilianas e italianas da gastronomia podem ser encontradas em Palermo. Além do porto, Palermo tem até praia! E se você quiser gastar algum tempo em compras, preste atenção nas cerâmicas, que são lindas (veja abaixo).

O mesmo se pode dizer dos vinhos – compre e beba. Na região de Palermo são produzidos vinhos das apelações DO (Denominação de Origem) e DOCs (Denominações de Origem Controlada) Marsala, Delia, Alcamo e Santa Margherita Belicce. Mas na cidade você vai encontrar lojas grandes que oferecem todas as 18 apelações registradas oficialmente na Sicília. O Marsala, produzido na região especialmente com as uvas brancas grillo, catarratto e inzolia, é um vinho fortificado (com teor alcóolico entre 17 e 18%) e em Palermo aprendi a tomá-lo como aperitivo, sobremesa, ou para acompanhar queijos, especialmente os de sabor mais forte como roquefort, gorgonzola e parmesão. Mas o vinho – como o azeite – também frequenta os cardápios em receitas inesperadas com carnes e massas. 

Monreale

Bem pertinho de Palermo (15 Kms) fica uma cidade bem charmosa que merece uma visita, nem que seja do tipo bate-volta: Monreale. Com a chegada dos mouros a Palermo no século IX, os cristãos foram obrigados a sair da cidade e seu lider, um bispo, se deslocou pelo vale “Concha de Ouro” da provincia de Palermo para criar Monreale. A viagem vale por várias raqzões, como por sua Catedral (o Duomo de Monreale), terminada em 1.182 e que mistura influências das culturas árabe, normanda, bizantina e românica, dedicada à Assunção da Virgem Maria (veja abaixo).

Mas Monreale tem mais a oferecer, como por exemplo as fachadas nas ruas; o Seminário dos Chierici, antiga residência normanda reformada nos séculos XVI e XVIII; a Praça Vittorio Emanuele defronte ao Duomo e o Claustro de Monreale.

O Claustro foi construido ao lado da Abadia, e muitos acreditam ser o mais bonito do mundo. Ele tem formato quadrangular e um jardim interno (veja foto abaixo) cercado por corredores com bancos em mármore (veja foto acima) e corredores com colunas e com uma fonte no centro. Fiquei encantado com o pátio e a grande sequencia de colunas que o cerca – creio que fotografei todas elas!

Pode parecer exagero, mas como gosto de detalhes, compartilho alguns detalhes das dezenas de colunas.

Palermo é uma cidade encantadora, mas tem problemas: a água é escassa e as vezes racionada, o trânsito é caótico e engarrafado como São Paulo e a poluição urbana é muito alta. Isto sem falar que, segundo consta, ninguém consegue ser um comerciante de porte médio para cima sem ter que se adaptar às regras da Máfia siciliana, nascida e crescida em Palermo. Mas como você vai estar só de passagem para Erice, Segesta, Cefalú, Trapani ou Agrigento (ou retornando para Roma), não se preocupe com isso.
 Proponho um brinde à Cidade dos Reis e o convido para ver o próximo post que vai nos encantar com as maravilhas de Erice ou Segesta. 
(*) Rogério Ruschel – editor deste blog é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade. Ruschel esteve na Sicília durante 30 dias, em 2005, pesquisando roteiros turísticos.

 

 

 
 

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