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Por Rogério Ruschel (*)
Construída pelo menos 400 anos antes de Cristo sobre o monte Tauro, na beira do mar Jônico, Taormina é uma das cidades mais encantadoras da Sicília – e olha que esta frase é difícil de dizer, caro leitor! Fundada por antigos siculianos, refundada pelos gregos e adotada por romanos poderosos e ricos, a cidade fica entre Messina (52 Km) e Catania (85 km), um dos roteiros mais freqüentados por turistas.
Na verdade Taormina tem sido um dos mais badalados destinos “resort” desde tempos imemoriais, atraindo artistas e intelectuais bon-vivants como o escritor inglês D.H. Lawrence, que escreveu aqui o romance “O Amante de Lady Chatterley” em 1928, que sacudiu as estruturas do socialmente correto na época. Também fizeram de Taormina sua “casa” escritores como Goethe, Nietzsche e Oscar Wilde e o compositor Wagner.
As razões são óbvias, basta caminhar pela cidade. Com menos de 10.000 habitantes, Taormina está quase sempre lotada de turistas encantados com suas ruas medievais, vielas estreitas e charmosas, cafés, hotéis e restaurantes de alto padrão, cerâmicas e seu riquíssimo acervo arquitetônico e artístico.
Lá estão residências romanas como o Palazzo Santo Stefano e o Pallazo Corvaia; o pequeno teatro romano Odeon (um pouco obscurecido pela Igreja de Santa Caterina, sua vizinha); a Igreja de Santo Pancras (líder católico dos sicilianos no século II); a Badia Vecchia e a Porta Messina. E fora dos muros medievais da cidade estão ruínas de um templo dedicado a Zeus. Tudo pertinho, tudo bem cuidado, tudo sensacional!
Mas talvez a principal atração de Taormina seja um anfi-teatro construído pelos gregos e ampliado pelos romanos, com cerca de 2.300 anos, no qual ainda se pode ver um assento reservado para a madame Philistide, esposa do rei Hieron II de Siracusa – um sinal do discreto charme da bruguesia da época… A moça era filha de Leptines, o cidadão mais rico de Siracusa na época. Aliás, foi no tempo de Hieron II que viveu em Siracusa o sábio grego Arquimedes, e segundo informam pesquisadores, foi nestas ruas que Arquimedes descobriu a força do impulso da água e saiu gritando pelado “Eureka” (descobri)! Talvez tenha ido pelado até o anfi-teatro (veja abaixo) que está muito bem preservado e é utilizado para espetáculos durante o verão, alternando-se com o anfi-teatro de Segesta que você vai ver em outro post, em breve.
Se durante o dia é agradabilíssimo caminhar pelas ruas encantadoras e charmosas, conhecendo maravilhas da história e arquitetura, quando cai a noite Taromina se transforma em espetacular. A cidade oferece hotéis, cafés e restaurantes debruçados sobre o mar, nos quais, enquanto você saboreia frutos do mar com vinhos DOCs italianos ou os melhores dos franceses, se dá conta de que viver é uma coisa maravilhosa.
Assim já pensava o poeta romano Ovídio, contemporâneo de Jesus Cristo, quando escreveu que adorava as “doces sardinhas e ternas enguias” que se podia comer em Taormina. Infelizmente comi apenas lagostas e peixes comuns…
Outra coisa que não tive chance de ver: dizem que o cenário é simplesmente espetacular quando da janela do restaurante você tem a sorte de ver o vulcão Etna, a uns 40 quilômetros de distancia, despejar lavas vermelhas na noite estrelada – o que é frequente. Dizem que é realmente uma das maravilhas da Europa. E esta sensação é antiga: no primeiro século depois de Cristo, Plínio, o Velho – talvez o maior erudito da história imperial romana – descreveu esta cena acima e elogiou o vinho “local”.
Taormina fica bem pertinho de Naxos ou Giardini-Naxos, vilarejo grego na beira da praia, fundada por povos Chalcidensios em 735 Antes de Cristo e considerada a mais antiga cidade grega da Sicília.
Pertinho também está Castelmola, outro vilarejo charmoso, cuja população de cerca de 1.100 habitantes protege um castelo normando do século XIII, que por usa vez protege (ou protegia) o litoral de Taormina.
Poucos turistas vão até lá, porque ficam encantados com Taormina, mas vale a visita se você tiver tempo: os restaurantes são simples, mas ótimos. E se tiver força poderá encarar uma grande escadaria para chegar na igreja Madonna della Rocca, que fica no alto da montanha, de onde a vista é simplesmente espetacular – veja na foto de abertura.
Também bem pertinho de Taormina (uns 20 Km), fica Forza D’Agró, outro local da minha “coleção” de vilarejos mais simpáticos do mundo, com suas ruas, praças e prédios antigos.
Optei por passar o dia em Forza D’Agró, que tem uma atração – digamos assim – um pouco mais moderna no meio de tantas artes e história esculpidas em pedras, e que me ajudaria na formatação do roteiro turístico: a sétima arte.
É que em Forza D’Agró fica a Chiesa della Trinitá (veja abaixo), a igreja onde em 1972 Francis Ford Coppola filmou a cena de casamento da filha do “Poderoso Chefão”, com a presença de Marlon Brando, Al Pacino, James Caan e a noiva, Tália “Connie Corleone” Shira. O livro do italiano Mario Puzo registrou também a saga de outra instituição tipicamente Sicíliana – a Máfia – e a música foi composta e arranjada pelo também italiano Nino Rota. A música, aliás, recebeu uma das 11 indicações ao Oscar, mas o filme ganhou “apenas” três Oscars (e 5 Globos de Ouro)…
No dia seguinte, saindo de Taormina com meu Fiat Panda em direção ao Vale do Alcântara, ainda na Província de Messina, achei que já tinha visto o melhor da Sicília, mas estava redondamente enganado. E você vai saber porque nos próximos posts. Um brinde a isso, à ilimitada capacidade da Sicília de surpreender os visitantes, meu caro leitor!
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Muito bom!
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Obrigado, Fiora. Espero que um dia você conheça Taormina e possa fazer um brinde aos monstros e vulcões.
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Excelente artigo e com inúmeras ilustrações fotográficas. Parabéns Rogério.
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Obrigado prezado Cooking Classes Lisbon. Um brinde à beleza e à alegria de viver!