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Por Rogerio Ruschel
Meu caro amigo ou amiga, o Chefe de cozinha José Andrés é Asturiano e pode ser pouco conhecido por aqui, mas é um profissional regiamente premiado e um cidadão mundialmente respeitado. Já foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz, recebeu a Medalha Nacional de Humanidades da Casa Branca e foi indicado tres vezes pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Mereceu também o “Prêmio de Solidariedade e Repercussão Internacional” concedido pelo Clube Internacional de Imprensa. E o sucesso profissional se reflete nas duas estrelas Michellin, nos seus quase 30 restaurantes prestigiados e em uma rede de hoteis.
Pois este cidadão e profissional tem uma crença, com a qual compartilho e venho afirmando aqui no “In Vino Viajas” e no meu livro “O valor global do produto local”: José Andrés acredita firmemente que “O produto local é a chave da alimentação do futuro do mundo.”
José Andrés foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz pelas ações que realiza com sua World Central Kitchen (WCK), organização sem fins lucrativos que fundou em 2010 e que já serviu mais de 30 milhões de refeições em áreas de desastres naturais e situações de calamidade pública. A WCK se concentra em oferecer Soluções Inteligentes para a Fome e a Pobreza e usa a experiência de chefs para capacitar as pessoas a fazerem parte da solução – com foco em saúde, educação e empregos. Atualmente trabalha no Haiti, Zâmbia, República Dominicana, Nicarágua e Estados Unidos.
Só durante a crise do COVID-19, já atendeu mais de 15 milhões de refeições a necessitados em todo o mundo. Aliás, desde que a pandemia do Covid-19 começou a se espalhar nos EUA, Andrés anunciou que suas seis casas (cinco em Washington e uma em Nova York) seriam transformadas em restaurantes comunitários. E na sequência lançou a iniciativa ‘Chefs For America’, que conta com 160 pontos no país todo, onde são produzidos e entregues 150 mil marmitas diariamente para a população carente.
Recentemente o chef José Andrés deu uma entrevista ao jornal “El País’ da qual retiramos o que você vai ler a seguir porque leitores do “In Vino Viajas” estão sempre informados acima da média, modéstia à parte.
Pois este super-chefe entende que “ter uma alimentação saudável e um estilo de vida adequado equivale a gerar uma sociedade mais saudável”, e que, por causa disso, “é fundamental defender nos bons e nos maus momentos produtos de qualidade e locais, de proximidade”.
José Andrés é definitivamente um ardoroso defensor da importância do produto local, com identidade local, o que aqui no Brasil poderia se chamar de caipiria. Ele diz que “Sou asturiano, as águas de Asturias dão-me sensação especial… Gosto de provar vinhos ou queijos de todo o mundo, mas temos de apoiar os nossos queijos, os nossos vinhos, as nossas carnes, produzidos localmente. E assim, ao mesmo tempo, é possível ser universal”. Apenas para constar, esta é a lógica fundamental do meu livro “O valor global do produto local”.
A lógica de sua argumentação é a seguinte: ao defender um tecido produtivo local (uma cadeia produtiva local), você apóia quem trabalha para realizá-lo, você mantém as pessoas enraizadas em áreas que vão se despovoando e, dada a qualidade do produto, consome-o e divulga-o como prestígio, por sua vez abrindo portas para a sua futura exportação para todo o mundo. “Se você não vê que apoiar o local é a coisa certa a fazer, você não está realmente percebendo a importância da alimentação no futuro do mundo”.
José Andrés continua, na entrevista para o jornal El Pais:“É uma questão de saúde. Mesmo em uma situação como a que enfrentamos. O nutricionista Jesús Bernardo explica que estudos recentes mostram como uma dieta rica em vitamina C, beta-caroteno, compostos fenólicos, macro, micro e fitonutrientes estimula uma melhor resposta imunológica e nos ajuda não só a ter uma maior sensação de bem-estar, mas também a ser verdadeiramente mais fortes. Legumes, peixes, ovos … Foi Bernardo quem de facto, no início deste século, já descreveu as qualidades excepcionais de alguns produtos típicos da franja setentrional espanhola, o que chamou de dieta cantábrica (produtos da sua horta e da sua pastagens ou o seu mar), tornou-se o ingrediente ideal para cumprir a dieta universalmente reconhecida como a mais saudável: o Mediterrâneo.”
Pois é meu caro amigo ou amiga, vou repetir a mensagem central deste fantástico Chef estrelado, profissional bem sucedido e um cidadão a ser copiado. Ele diz: “Gosto de provar vinhos ou queijos de todo o mundo, mas temos de apoiar os nossos queijos, os nossos vinhos, as nossas carnes, produzidos localmente. E assim, ao mesmo tempo, é possível ser universal”.
Brindo a isso.
Fonte: Entrevista concedida a Alejandro Martín, do Jornal El País, de Madri, em setembro de 2020.