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Por Rogerio Ruschel
Prezado amigo ou amiga, aos poucos estamos aprendendo a dar valor a nossos produtos de base local, aqueles que só determinado território tem e que consumidores de outras partes, até mesmo do exterior, adorariam conhecer. Na história de hoje tenho certeza disso, porque o pirarucu (Arapaima gigas), o gigantesco (e lindo) peixe da Amazônia foi reconhecido dia 13 de juho de 2021 como um patrimônio da região de Mamirauá. E posso garantir que é um patrimônio delicioso, porque já provei e gostei bastante.
Mamirauá é uma área de 11.137 km² estabelecida em 1996 no estado do Amazonas, região do médio Solimões, como área protegida do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciiencia, Tecnologia e Inovações. O nome oficial é Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e se trata da maior reserva florestal do Brasil dedicada exclusivamente à proteção da várzea amazônica.
Os recursos pesqueiros na Reserva Mamirauá têm fundamental importância para o meio de vida das populações rurais da Amazônia, e são a principal fonte de proteína animal e de renda para as populações ribeirinhas. Por isso a conservação deste recurso – especialmente do pirarucu – através de seu manejo sustentável, é fundamental. Desde 1999, o manejo participativo da pesca de pirarucus ajudou a aumentar em aproximadamente 427% o estoque natural da espécie, nas áreas manejadas da Reserva Mamirauá.
O programa deu certo e agora o projeto acelera ainda mais. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) concedeu para a Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá – FEMAPAM, a Denominação de Origem – DO Mamirauá para o pirarucu manejado de nove municípios do Amazonas (Alvarães, Fonte Boa, Japurá, Juruá, Jutaí, Maraã, Tefé, Tonantins e Uarini).
Com essa concessão, o número de Indicações Geográficas (IGs) registradas no INPI chega a 94, sendo 27 Denominações de Origem (18 nacionais e nove estrangeiras) e 67 Indicações de Procedência (todas nacionais).
A DO Mamirauá é a quarta IG de frutos do mar, mas a primeira de um peixe comestível: as outras são a DO Vierias da Ilha Grande, concedida em abril de 2021 para a Associação de Maricultores da Baía da Ilha Grande/RJ; a DO Camarões Costa Negra, concedida para a Associação dos Carcinicultores da Costa Negra/CE para Camarões marinhos cultivados da espécie Litopenaeus Vannamei, concedido em 2011 e a Indicação de Procedência Peixes Ornamentais de Rio Negro, da Cooperativa das pescadoras e pescadores de Peixes Ornamentais do Médio e Alto Rio Negro – ORNAPESCABR/AM, registro concedido em 2014.
Sobre a DO Mamirauá
De acordo com a documentação apresentada ao INPI, os fatores humanos, que envolvem boas práticas de pesca, abate, recepção e pré-beneficiamento do pirarucu, influenciam na qualidade final do produto, contribuindo para o aumento da durabilidade na prateleira. Além disso, o binômio tempo-temperatura no transporte do peixe entre o local da pesca e o flutuante para armazenagem contribui para o aroma agradável do produto.
Por sua vez, ainda segundo a documentação enviada ao INPI, também há relação entre os fatores naturais e as diversas características ou qualidades da carne do pirarucu. O alto índice de ácidos graxos (ômega 3) no pescado se deve à alimentação na área de várzea de Mamirauá. Além disso, o modo como o pirarucu vive na região, associado a uma alimentação rica em proteínas, propicia a formação de colágeno, contribuindo para a textura firme da carne.
Já o sabor suave se deve ao perfil lipídico do pirarucu, com altos índices de ômega 3, enquanto o aroma agradável decorre da ausência do óxido de trimetilamina (OTMA). Por fim, cabe ressaltar que a pigmentação vermelha diferenciada do peixe é adquirida pela ingestão de moluscos, principalmente da família Pomaceae, que obtêm tal pigmento ao se alimentarem de vegetais.
Dessa forma, segundo a documentação apresentada ao INPI, o resultado é um peixe com intensa coloração vermelha, alta concentração de proteínas e ômega 3, sabor suave, aroma agradável e leve, bem como textura boa, suculenta e firme.
Especificações e características:
O pirarucu de Mamirauá apresenta maior concentração de ômega 3 devido a sua alimentação variada (peixes, moluscos, crustáceos e macrófitas) e por encontrar-se na área de Mamirauá, sendo esta uma região de várzea com alagamento e extensão em toda a Amazônia. O pirarucu apresenta coloração avermelhada mais intensa decorrente do consumo de moluscos dessa localidade. Quanto aos aspectos sensoriais, a carne do pirarucu é muito saborosa, suave e levemente adocicada; possui aroma agradável, suave e textura é boa, suculenta, firme e resistente.