A Espanha pró-ativa: Ribera del Duero cria roteiro de enoturismo e curso de vinicultura só para chineses

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Por Rogerio Ruschel (*)

Decifra-me ou te devoro! Se nos últimos anos os chineses estão começando a comprar vinhos de mais qualidade (depois de comprar muuuuuito vinho de menor qualidade), é eles que devemos buscar – raciocinam os espanhóis, os maiores produtores mundiais de vinho. E se os chineses estão plantando uvas cada vez mais – e já são os maiores produtores mundiais da fruta – é óbvio que cedo ou tarde vão começar a produzir vinhos de qualidade em seu próprio território. Veja abaixo os quadros que mostram isso.

 

A partir deste cenário os países tem duas alternativas: se assustar com isso e ficar fora do jogo, ou ficar amigos dos chineses e ganhar dinheiro com eles. Os espanhóis – maiores produtores mundias de vinhos, estão apostando em ganhar. Os brasileiros, não: querem vender para “mercados mais sofisticados ou com maior valor agregado”. Segundo a Apex, vendemos vinhos para 43 países pelo 
preço médio de US$ 0,46 o litro – isto mesmo, noventa e dois centavos de Reais por litro a granel! A China é nosso maior comprador – mas agora o gigante está de olho nos produtos de maior qualidade.  

 

A mais recente jogada dos espanhóis é muito inteligente: a criação de uma rota enoturística criada pela Escuela Superior de Viticultura y Enología San Gabriel de Aranda de Duero (que, aliás, tem vários cursos de vitivinicultura técnicos e superiores e atenção: alguns até no idioma chines/mandarim), em parceria com prefeitura de Aranda e operadores turísticos chineses, especialmente a “GZL International Conference and Exhibition Services”, organizadora da III Feira Internacional de Turismo e Gastronomía de Guangzhou,  um importante Cantão chines – veja abaixo parte do modernoso centro da cidade chinesa.

Sobre os cursos em vinicultura, é muito simples: os cursos estão sendo feitos para preparar mão de obra chinesa e a Escuela oferece serviços de hospedagem, tradução, etc, e tal. O roteiro vai ser oferecido de maneira regular e tem foco em empresários com interesse em comprar vinhos, mas qualquer chines sera benvindo. Durante determinadas épocas do ano, a cada 15 dias vai haver uma partida da China para um grupo que durante 10 dias vai visitar caves e vinhedos e muitas atrações turísticas da região de Castilla y León que é muito bonita. A região de Castilla y León é formada por nove provincias: Ávila, Burgos, León, Palencia, Salamanca, Segovia, Soria, Valladolid y Zamora.  Aranda de Duero está na provincia de Burgos, onde está a badalada Catedral de Burgos – veja abaixo.
Se o visitante chinês tiver tempo (o que normalmente não tem), poderá aumentar sua visita curtindo atrações regionais como o castelos de Peñafiel (que abriga o Museu do vinho de Valladolid) e o sempre atraente Guggenheim Museum, de Frank Gehry, em Bilbao (ambos abaixo).

 

 

Em Aranda de Duero os chineses poderão conhecer as Igrejas e de San Juan Bautista, sede do Concilio de Aranda em 1473 e a de Santa Maria la Real, em estilo gótico isabelino (veja foto da fachada principal, abaixo).
Em Aranda de Duero eles podem visitar também os Museus do trem e da ceramica (que é o maior da Espanha) além do labirinto de porões no centro da cidade, escavados entre os séculos 12 e 17 para estocar os vihos Ribera del Duero e hoje com funções culturais. O turista também pode visitar caves escavadas na rocha, como a da foto abaixo. Aliás, os chineses vão conhecer uma exclusividade da cidade: o santuario da Virgen de las Viñas, uma santa que, dizem, foi encontrada em um vinhedo no século XVII.
Todo mundo quer vender para a China pelo volume e já observando parcerias potenciais de qualificação, porque no futuro ou você vai jogar com os chineses ou vai jogar contra eles. Mas não o Brasil. O Brasil se considera muito esperto: tenta aumentar as vendas de produtos médios para países com paladar exigente e mercado complexo e disputadíssimo, como se fosse um “player” de primeira grandeza no cenário internacional e tivesse cacife para disputar com franceses, italianos e espanhóis. Alguns produtores acham que nosso espumante, que tem feito sucesso e tem algumas condições de competir, vai abrir o mercado para vinhos finos, onde a competição é serissima.

 

Só para você saber, de acordo com entrevista da diretora de promoção do Ibravin – Instituto Brasileiro do Vinho, Andreia Gentilini Milan, os países estratégicos para a promoção do vinho brasileiro de maior qualidade são, prioritariamente, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos; depois vem o Canadá; Suécia, Polônia e Holanda; e China. A China vem por último, embora este país tenha sido a principal importadora de vinhos finos brasileiros em 2012, pagando US$ 8,49 por litro em vinhos finos, com 13% das exportações. Aliás, a exportação barsileira de vinhos em 2012 em geral foi pífia, com ridículos US$ 6,8 milhões no ano no total. (Dados da Wines of Brasil, o projeto de promoção do setor do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Na verdade, aqui no Brasil sequer fizemos o básico, como aqueles belos guias para turistas como o espanhol, abaixo.

 

(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e gostaria muito de ver o Brasil ser respeitado por seus vinhos. Mas por enquanto se contenta em desejar que os dirigentes setoriais parem de fazer marketing burro e tenham responsabilidade com o dinheiro público.

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