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Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitor ou leitora, pensar coletivamente e ampliar parcerias é parte essencial do enoturismo. Embora o vinho seja a principal atração do enoturismo, nenhuma atividade sobreviveria exigindo que o cliente tenha que viajar centenas de quilometros para entrar em uma vinícola para ver como um vinho é fabricado e depois voltar para casa. E convenhamos, até porque o processo é similar em qualquer lugar do mundo.
O turista está interessado também no ambiente no qual o vinho é produzido – na historia e nas historias da comunidade, na cultura, no folclore, música, arquitetura, gastronomia… E você não vai conseguir oferecer esta riqueza ao turista sem fazer parcerias e acordos com seus vizinhos de lojas, museus, restaurantes, grupos teatrais, bibliotecas, associações, governos. A Associação Internacional de Enoturismo (Aenotur), deixou isso bastante claro ao mudar seus Estatudos na Assembleia Geral do 7º Congresso Latino-Americano de Enoturismo (foto abaixo) e aceitar novos associados além de adegas e prefeituras. In Vino Viajas, que vem acompanhando e divulgando os eventos da Aenotur há quatro anos, é um dos novos associados; os outros são o Instituto Nacional do Vinho do Uruguai (Inavi), o SEGH Uva e Vinho, de Lãs Heras (Mendoza, Argentina), a Chile Enoturismo e a Vino y Turismo do Chile – veja parte dos novos associados na foto de abertura.
E as melhores práticas do mundo inteiro mostram ótimos números para exemplificar a importância de pensar coletivamente: 3,2 milhões de pessoas visitaram vinicolas e museus do vinho na Espanha, em 2017. Na França foram mais de 7 milhões e o governo espera que cheguem a 20 milhões em 2030. Em Portugal a atividade cresce a passos largos, inclusive por causa da visita de brasileiros. Nos Estados Unidos, as receitas oriundas do enoturismo em 2017 foram de US$ 17,6 bilhões, com 43 milhões de turistas visitando as vinícolas. E no Brasil estamos evoluindo – só no Vale dos Vinhedos foram mais de 350.000 visitantes no ano passado.
Quer mais? Anote isso: segundo a Great Wine Capitals, uma média de 40% das vendas de vinhos das adegas dos associados (as 9 principais cidades vinhateiras do mundo), são vendidas no balcão, para visitantes. Isso permite aumentar a margem de lucro dos produtores, permite que pequenos produtores cheguem ao mercado e aumenta a fidelidade a marca, o que no marketing do vinho é quase uma impossibilidade técnica.
Por essas e outras razões a Associação Internacional de Enoturismo (Aenotur), o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul realizaram o 7º Congresso Latino-Americano de Enoturismo, entre os dias 27 e 30 de junho de 2018, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS), sob o o tema “Território, Vinho e Turismo: harmonização que dá certo”. O evento contou com o apoio do Sebrae/RS e da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e foi um sucesso também de público: todas as 250 vagas foram preenchidas, veja abaixo.
Fiz a cobertura do evento a convite do Ibravin e da Aenotur e já publiquei uma reportagem sobre isso – veja aqui: https://www.facebook.com/ivane.favero Destaco aqui outras experiências e aprendizados que foram compartilhados pelos 18 palestrantes, as quatro visitas técnicas e também pelos participantes, nos debates e eventos sociais. Veja abaixo uma foto do Museu do Vinho da Adega Chesini, uma das visitas.
É preciso insistir, perseverar. Nenhuma vinícola sozinha consegue ter resultados eficientes e duradouros com enoturismo. Mais do que isso, é preciso definir um plano com prazos e investir, monitorar e re-orientar as ações, caso a prática não apresente os resultados projetados na teoria. Isso pode acontecer nos negócios, é perfeitamente aceitável, mas do ponto de marketing é necessário que você (ou o gestor) esteja consciente disso. A Vinícola Jolimont mudou o perfil do público-alvo da promoção no meio do caminho, reduzindo o número de visitantes de balcão e aumentando o número de grupos corporativos.
Devemos pensar em coletivo, em conjunto. Levando estas ideias para o terreno prático, Ivane Fávero, presidente da Associação Internacional do Enoturismo (Aenotur), buscou o compartilhamento das ideias e experiências de entidades representativas do enoturismo e turismo do Brasil, America Latina e Europa. Estiveram em Bento Gonçalves, além dos já citados, o coordenador de Enoturismo da Bodegas de Argentina, Gonzalo Merino; o diretor da Ruta del Vino Valle de Colchagua, do Chile, José Manuel Garcia-Huidobro; a coordenadora de competitividade do Instituto Nacional de Vitivinicultura do Uruguai (Inavi), Laura Nervi.
Da Europa – o Velho Mundo do vinho, com sua experiência de 7.000 anos produzindo o néctar dos deuses – vieram duas importantes lideranças (veja na foto acima, com Ivane Fávero): o presidente da Rede Europeia de Cidades do Vinho (Recevin), José Calixto, também Prefeito de Reguengos de Monsaraz, Alentejo, a capital Européioa do Vinho de 2015 e o diretor da Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), José Arruda, ambos também Vice-Presidentes da Aenotur. Os portugueses mostraram como vencer o desafio de desenvolver e promover o coletivo através do trabalho das associações, sem perder a identidade exclusiva de cada comunidade produtora: a Recevin defende os interesses de 800 cidades de 12 países europeus e a AMPV reúne cerca de 80 municípios produtores de vinhos em Portugal.
Participaram representantes do Brasil, Estados Unidos, Uruguai, Chile, Argentina e Portugal. Entre os brasileiros estiveram presentes integrantes do Projeto de Enoturismo do Sebrae-RS (veja foto acima), representantes do Ministério do Turismo, do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), do Sebrae e da Frente Parlamentar de Defesa da Valorização da Produção Nacional da Uva, Vinho, Espumante e Derivados. O evento teve o patrocínio do Spa do Vinho Autograph Collection Hotel (foto abaixo) e Prefeitura de Bento Gonçalves e apoio institucional do Sebrae, Vale das Vinhas, Bento Convention Bureau, Viaggiotur e Giordani Turismo.
Ivane Fávero, presidente da Aenotur, encerrou o evento anunciando que o Congresso Latino-Americano de Enoturismo se revezará com o evento europeu, com realização nos anos pares na América e, nos ímpares, na Europa, mas sempre de forma integrada. As próximas edições latinas serão realizadas no Chile (2020), no Uruguai (2022) e, novamente no Brasil em 2024, com apresentação do pedido de Vila Flores, um convento e viniciola de padres capuchinhos da Serra Gaúcha, para sediar os debates. Brindo a isso!