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O comerciante John Fox passou os últimos 20 anos criando um império baseado na venda de vinhos raros para milionários – e não os entregando. É isso mesmo, meu caro leitor ou leitora, você leu certo: 20 anos enganando os clientes! O salafrário está no centro da foto, acima, cortando a fita inaugural de sua loja nova em Berkeley, em 2011. Ele usava o chamado “Esquema de Ponzi”, um sistema baseado na venda de produtos que só são entregues em casos de muita reclamação e risco para o fraudador.
John Fox (impossível eu não apelidá-lo de João, a Raposa!) vendia vinhos europeus raros para magnatas, empresários, artistas e banqueiros que não se importam de investir (e perder) centenas de milhares de dólares em garrafas de vinhos com pedigree. Quando se davam conta da enganação, a grande maioria destes clientes não reclamava para que ninguém soubesse que tinham sido enganados. Em poucas oportunidades seus clientes entraram na justiça, então Fox entregava os vinhos culpando a logística e ainda usava estas entregas para fazer marketing, fotografando e divulgando. Pode? Pode.
A história parece um filme e o personagem é muito interessante. Fox fundou a Premier Cru em 1980 a partir de uma pequena loja que abriu com seu amigo Hector Ortega, com quem tinha trabalhado para o Serviço Postal dos Estados Unidos. Durante os anos 80 e 90, as suas práticas foram inteiramente legais e ele consolidou uma reputação que lhe permitiu começar a agir de maneira ilegal. Em sua nova loja em Berkely, Califórnia (veja fotos nesta matéria) ele atendia clientes, mas era passatempo – ou disfarce. Só fazia negócios pela internet, enviando por e-mail um catálogo fictício de raridades vinícolas para dezenas de pessoas do tal jet-set internacional que ele sabia que sofriam de soberba e vaidade.
Sua fraude dava certo porque neste mercado pouco regulamentado, ninguém sabe ao certo quanto vale um garrafa de tal marca e de tal safra, milionários não gostam de confessar que foram enganados (porque geralmente eles é que enganam as pessoas) e além disso, muitos clientes preferiam não ter que explicar de onde vinha o dinheiro para comprar tal raridade…
Poucos sabiam quem era o proprietário da Premier Cru, um dos principais importadores de vinhos europeus dos Estados Unidos, que inaugurou uma loja novíssima em Berkeley, Califórnia, em 2011. John Fox, a Raposa, saía muito pouco, não participava de feiras, eventos e congressos do setor vinícola e sempre teve uma vida bastante reclusa. Quem trabalhava com ele, dizia que ele era assim, discreto, ou talvez doente por causa da idade – atualmente está com 66 anos. Seus ex-funcionários disseram para a policia que ele trabalhava 12 horas por dia, seis dias por semana – um grande dedicado.
A única vez que tirou férias teve que interrompê-las porque o Wi-Fi do hotel não estava funcionando e ele voltou para a empresa muito irritado. Os ex-funcionários disseram também que apesar do anonimato, John Fox gostava de carros de luxo, golfe e de contatos com mulheres em sites de namoro online, que ele escondia de sua esposa Gail.
Mas o que se sabe agora é que ele escondia muito mais segredos do que contatos sigilosos com moças voluntariosas pela internet: sua empresa era a maior farsa do negócio de importação de vinhos nos Estados Unidos e uma das maiores do mundo. Por mais de 20 anos Fox conseguiu enganar centenas de clientes de 45 estados norte-americanos e de 18 países. Teria movimentando cerca de 70 milhões de dólares e foi responsabilizado por fraudes no valor de 45 milhões de dólares. São cerca de 150 milhões de Reais, meu amigo ou amiga, um valor que dá para competir com os saqueadores e fraudadores da Petrobras no Brasil.
A farsa acabou em 2016 quando alguém finalmente reclamou e tinha provas. Em 2014 e 2015 vários clientes reclamaram, mas não aconteceu nada por falta de provas. O economista Lawrence Hui Wai-Man, um colecionador de vinhos de Hong Kong, encomendou 1.591 garrafas de vinhos por 981 mil dólares entre 2012 e 2014 e ficou esperando. Esperou mais de um ano e não aguentou: deu queixa à policia, que o prendeu e entregou documentos comprovando o pagamento, o que permitiu que finalmente Fox fosse processado.
Agora em agosto de 2016 John Fox, a Raposa, foi finalmente condenado a 20 anos de prisão, além de ter de devolver o dinheiro roubado. Na foto acima o salafrário está com a mão erguida, jurando dizer a verdade, só a verdade para promotores – meigo, não?
Não vou dar o site da empresa dele para proteger você, ok?
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e nunca comprou uma garrafa de vinho do John Fox – eu sabia que ser pobre um dia trataria alguma vantagem…