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Por Rogerio Ruschel (*)
Na propriedade Il Paradiso di Frassina, a menos de 5 quilometros de Montalcino, na provincia de Siena, na mítica e mágica Toscana italiana, onde se produz alguns dos vinhos mais famosos do mundo, como o Brunello di Montalcino e Chiantis, o ex-advogado Giancarlo Cignozzi vem obtendo sucesso científico e popular na produção de uvas tocando música clássica nos vinhedos.
O processo, denominado “produção de vinho fonobiológico” no livro “100 Initiatives that are greening the world” publicado durante a Rio+20 pela Eubra – Euro-Brazilian Sustainable Development Council, UN-Habitat (a agência de habitação das Nações Unidas) e pela Bright Green Cities, deve ser o primeiro do mundo e já tem resultados positivos comprovados científicamente.
Segundo o professor Stefano Mancuso, pesquisador da inteligência das plantas da Universidade de Florença, a vibração estimula a produção de polifenóis, substâncias responsáveis pelo gosto agradável e que dão ao vinho aquela característica saudável se consumido em pequenas doses, e além disso a música reduz insetos agressivos e parasitas. Mais recentemente, a Universidade de Pisa iniciou outras pesquisas para aprofundar o assunto.
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O produtor Giancarlo Cignozzi disse que decidiu fazer isso “depois de uma viagem à Amazônia, quando um pajé disse que a minha vida seria feita de vinho e música”. Segundo ele, os vinhedos crescem com música calma, só com cordas e piano – especialmente de Mozart – durante 24 horas por dia. Músicas muito barulhentas poderiam estressar as plantas; creio, então, que concertos de Stravinsky ou a Abertura Solene Para o Ano de 1812, conhecida como Abertura 1812, composta por Tchaikovsky e que utiliza tiros de canhões, nem pensar! Para adensar seu trabalho, os vinhedos da Paradiso di Frassina também adotam métodos orgânicos, certificados pela Bios em abril deste ano.
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Cignozzi começou seu trabalho em 1999, transformando uma antiga propriedade rural na atual e badalada Azienda Agricola Il Paradiso di Frassina, que produz um pouco de azeites finos e cerca de 50.000 garrafas de vinhos de alta qualidade por ano (ainda sem distribuidor próprio no Brasil). Autor do livro “Carlo Cignozzi: l’uomo que sussurra ale vigne”, o ex-advogado agora recolhe dividendos por ser, segundo o livro da Eubra, “um dos 100 mais importantes casos mundiais, nos últimos dez anos, em desenvolvimento urbano, tecnologias e energias limpas, envolvido na promoção da economia verde”.
Canela saiu na frente
Se a Il Paradiso di Frassina é pioneira na produção de vinho fonobiológico, não é pioneira na iniciativa de associar música e plantas para deleite das plantas e pessoas. Isso já havia sido feito em Canela, no Rio Grande do Sul e eu documentei. Em 1995 (4 anos antes de Cignozzi começar seu trabalho na Toscana), Gilberto Travi, então secretário de turismo da cidade de Canela, na serra gaúcha, fez a mesma coisa em um dos parques da cidade, o Parque do Pinheiro Grosso. Em 1995 entrei na área por uma trilha muito caprichada, feita com deck de madeira, e lá dentro encontrei um gigantesco pinheiro com cerca de 700 anos, tão grosso que precisa de 12 pessoas para ser abraçado na base. Esta Araucaria augistifoglia estava preservada e protegida cercado por bancos – e ouvindo música clássica bem baixinho, saindo de caixas acústicas discretamente escondidas nas folhagens.
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Publiquei uma reportagem sobre isso na época, na revista Business Travel, e lá fui recuperar a explicação do porque: Gilberto Travi, músico e compositor bastante conhecido no Ro Grande do Sul, me disse que acreditava que a música só poderia trazer benefícios para as plantas e para os turistas. Ele estava certo.
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Então pergunto à Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale): se a serra gaúcha já fazia isso há 17 anos e a técnica se mostrou positiva para vinhedos em uma das regiões produtoras mais técnicamente controladas do mundo, não seria o caso dos produtores de vinhos da serra gaúcha pensarem nisso? Vocês não estariam copiando, e sim adaptando uma tecnologia gaúcha. Aliás, sugiro que para ver mais detalhes acesse o site http://www.parquedopinheirogrosso.com.br/
Vinhedo na Toscana
Segundo um dos distribuidores, o processo de fabricação do Brunello de Montalcino DOCG Paradiso di Frassina inclui “12 mesi in botti di rovere francese da 5 hl altri 18 mesi in botti di rovere da 20 hl ed ulteriori 18 mesi in bottiglia” e custa 20,80 Euros – na Itália! Como a empresa ainda não tem distribuidor próprio no Brasil, se você quiser experimentar o vinho fonobiológico de Cignozzi, tente no site http://www.alparadisodifrassina.it/home.php
Este post é dedicado a Gilberto Travi, grande compositor e músico, de quem tive a honra de ser amigo e admirador, infelizmente falecido em novembro de 2011.