Tempo de leitura: 5 minutos
Por Rogerio Ruschel
A maior cervejaria do mundo lançacervejas produzidas com produtos locais de 10.000 agricultores familiares em cinco estados brasileiros, e engrossa o grupo de grandes corporações que investem em produtos com identidade territorial.
Meu caro amigo ou amiga: quando escrevo aqui no In Vino Viajas, no meu WebcanalTNFDQ, nos meus livros ou em palestras sobre a importância dos produtos locais com identidade territorial, desenvolvidos a partir de patrimônio do território, muitas pessoas pensam que isso só se refere a pequenos produtos de pequenos produtores – tipo bananinha, paçoquinha, doce de batata. Pois este é um grande engano: gigantes globalizados também estão caminhando nesta direção, e a passos bem largos. A Ambev é agora mais um gigante neste grupo e – veja só – utilizando a popularíssima e boa mandioca! A mandioca (Manihot esculenta) é uma planta nativa da America do Sul, a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, depois do arroz e do milho. Muito simpática e popular, ela sempre foi cultivada por indígenas que tem diferentes lendas sobre sua origem; o folcorista Câmara Cascudo registra algumas delas e acredita que o nome mandioca vém de um mito da nação tupi sobre a Mani + oca, significando “casa de Mani”.
A espécie “mansa” da mandioca alimenta mais de meio bilhão de pessoas no continente sulamericano e no Brasil tem vários nomes regionais como macaxeira, aipim, castelinha, uaipi, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre… Pois foi nesta planta que a Ambev foi buscar matéria-prima para fazer uma cerveja artesanal, de base local, com sabor exclusivo, para enfrentar a guerra das cervejas. Aliás, como você deve lembrar, antigamente a guerra das cervejas era entre a “Número 1” e a “cerveja para quem veio aqui pra beber e não pra conversar” – lembra? Pois agora é entre produtos globais, industrializados e pausterizados, e cervejas artesanais, locais, com sabores diferenciados.
A Ambev é a principal fabricante de cerveja do Brasil – e sua matriz, a Inbev, é a maior do mundo.Cada brasileiro consume em média seis litros de ceva por mês, oque nos dá o troféu de sero terceiro país que mais consome cerveja no mundo, atrás da China e Estados Unidos. A Skol é a marca mais vendida, seguida pela Brahmae Antarctica, todas três marcas da Ambev que tem cêrca de 100 marcas em diferentes categorias. E agora passou a ter cervejas com identidade territorial. Sou suspeito para falar orque sou gaúcho, mas creio que a Cerveja Polar, criada no Rio Grande do Sul em 1929, e desde 1972 controlada pela Ambev, pode ser considerada com identidade territorial por causa da linguagem gauchesca que ela utiliza. Já escrevi sobre isso, veja aqui: https://wpconseld.com.br/invinoviajas/2018/04/conheca-a-pol
Pois para completar o portfólio – e também para enfrentar o crescimento das cervejass artesanais – a Ambev investiu no desenvolvimento de cervejas de aipim, criando quatro rótulos de bebidas regionais: Magnífica, do Maranhão; Nossa, de Pernambuco; Legítima, do Ceará; e Esmera, de Goiás. Além do aipim, o caju também entrou na mira da Ambev e fez o quinto rótulo regional: a Berrió – do Piauí.
Para manter o ritmo de produção adequado, a empresa estea contando com uma rede de 10 mil produtores agrícolas gamiliares nesses estados, que vão garantir o fornecimento dos ingredients. E de quebra conseguiu movimentar a economia local, contribuindo com a redução da desigualdade social em áreas rurais. Por causa destes produtos a Ambev ganhou o prêmio Pandemic Response 2021 do World Changing Ideas Awards, promovido pela publicação americana de tecnologia, negócios e design Fast Company.
O projeto comprovou que as lavouras de cada região podem ser valorizadas e ao contrário da agricultura de exportação – o agribusiness – na agricultura familiar e no extrativismo os agricultores podem cultivar ingredientes nativos de sua região, permitindo a criação de novos produtos com origem e identidade local, como para estas cervejas. Aliás, estas cinco marcas de cervejas serão vendidas apenas nas regiões de produção. Pois é: cervejas com aipim e caju – patrimônios territoriais e ancestrais – estão modernizando o sabor das cervejas da Ambev. E seguindo a trilha das cervejas artesanais, geram emprego e renda para pequenos produtores.
Isso não foi por acaso, a Ambev não é o único gigante global que está de olho na mega tendência de apostar nos produtos locais, mesmo sendo grandes players locais. A Sadia – maior produtor de proteina de frangos do mundo – lançou em 2019 o Bio, da Série Origens, o primeiro frango com nome e endereço do Brasil; veja aqui: https://www.invinoviajas.com/2020/03/sadia-bio-conheca-o-primeiro-frango/ ou aqui: https://invinoviajas.blogspot.com/2020/03/brasil-ja-tem-o-primeiro-frango-com.html
A Três Corações, talvez o maior produtor brasileiro e um dos gigantes da exportação de cafés, está investindo em produtos bem pequeninos, com a marca Rituais Cafés Especiais, uma clara declaração de amor à valorização da identidade territorial – veja aqui: https://www.invinoviajas.com/2020/09/porque/
O Pão de Açúcar, o maior varejista da America Latina, investe na comercialização de produtos pequenos e desconhecidos como a pimento Jiquitaia, produzida por cerca de 80 mulheres da tribo Baniwa, da Terra Indígena Alto Rio Negro, no Amazonas. E também vendee m algumas lojas o tucupi preto, a farinha de baru, pequenos queijos regionais, geléias de frutas amazônica e outros produtos territoriais minúsculos, produzidos por agricultura familiar, extrativistas ou grupos comunitários, que representam menos de 0,00000001 % da oferta do supermercado. Veja aqui: https://www.invinoviajas.com/2020/05/indias-baniwa-da-amazonia/ ou aqui: https://invinoviajas.blogspot.com/2020/05/porque-o-maior-varejista-da-america.html
Então, meu caro leitor ou leitora, não se espante ao ver cada vez mais produtores globais lançando produtos locais. E continue a ler In Vino Viajas – o blogue brasileiro que está à frente desta tendência – há muitos anos!!!!