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Por Rogerio Ruschel
A Denominação de Origem (D.O.) de produtos alimentícios como queijos, vinhos, azeites, presuntos, pães, embutidos e carnes é considerada fundamental na Europa, porque agrega valor a produtos que normalmente seriam commodities com preços mais baixos. No continente europeu (e em outros territórios vitinícolas mais competitivos) existe a certeza de que a certificação de origem de um alimento reflete os valores culturais da comunidade que o produz, e por isso mesmo deve ser valorizada e protegida! Porisso milhares de produtos são protegidos por selos que autenticam “o verdadeiro e melhor” produto, de vinhos a presuntos, de azeites a geléias. Veja abaixo o mapa das mais de 60 regiões de vinhos com D.O. na Espanha.
Isto é óbvio, meu caro leitor ou leitora, mas infelizmente no Brasil a certificação de origem de vinhos, alimentos e outros produtos, em muitos casos, ainda é considerada uma despesa que “não vale a pena”, uma iniciativa que não mobiliza os produtores. E esta é uma das razões porque muitos dos nossos produtos continuam tendo preço de commodities. Por exemplo: os franceses tem mais de 3.000 produtos certificados (cerca de 400 AOCs de vinhos) e os brasileiros têm apenas 49 produtos com Indicação de Procedência ou Denominação de Origem, segundo o IBGE, das quais 06 (seis) se referem a vinhos: Vale dos Vinhedos (D.O.), Farroupilha, Monte Belo, Pinto Bandeira, Altos Montes e Vales da Uva Goethe (IPs). Veja o mapa abaixo.
Na África do sul são 75 variedades de uvas para vinhos com a certificação WO e Portugal tem cerca de 250 produtos alimentícios protegidos (29 vinhos), incluindo mel, sal e até batatas. Abaixo, o mapa dos vinhos DOC de Portugal. Na verdade, sem agregar valor de uma certificação é quase impossivel crescer no mercado europeu de alimentos.
Pois o preço da agregação de valor é a eterna vigilância. Na Espanha a CECRV – Conferencia Española de Consejos Reguladores Vitivinícolas está liderando uma mobilização com artistas em uma capanha de valorização da certificação da origem dos vinhos, o Movimiento Vino D.O. A campanha tem vários vídeos gravados voluntariamente por artistas que serão veiculados em algumas emissoras de TV que apoiam o projeto e na web e redes sociais, através da hashtag #SoyMovimientoVinoDO.
O movimento dos artistas é parte de um Manifesto a favor dos valores expressos pela cultura do vinho, e que representam a identidade de cada território, tais como a importância da identidade, o consumo responsável, o respeito ao meio ambiente e à diversidade, a qualidade e a cultura de segurança alimentar – veja abaixo.
O Movimiento Vino D.O. foi lançado em março de 2017 e também atende a uma segunda demanda, como informa o presidente da CECRV, Amancio Moyano: “Embora o vinho do nosso país esteja entre os de mais alta qualidade e diversidade do mundo, o consumo tem diminuido nos últimos anos, com 16 a 18 litros per capita, em contraste com os vizinhos franceses, portugueses e italianos de cerca de 40 litros”. Ele acrescenta: “A campanha vai valorizar a origem e ajudar a criar novos consumidores, especialmente entre os jovens, para que considerem a cultura do vinho como parte de nosso tempo, de nosso estilo de vida e de nossa cultura”. Brindo a isso, Amancio Moyano, e desejo que reconheçamos o mais cedo possível a importância cultural dos alimentos no Brasil. Saiba mais sobre o processo de proteção de origem no site do INPI http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/indicacao-geografica
Veja como a Itália protege o patrimônio dos seus vinhos aqui: http://www.invinoviajas.com/2015/08/conheca-como-citta-del-vino-promove-o/