Azeite de oliva “made in Brazil”: produção ainda pequena, mas que já está competindo em qualidade com produtores europeus

Tempo de leitura: 6 minutos

 

Por Rogerio Ruschel (*)
Em outubro de 2013 a Proteste – Associação de Consumidores testou 19 marcas de azeite extra-virgem portugueses, espanhóis e francesas vendidas no mercado brasileiro.  As marcas são tantas que é uma escolha difícil para o consumidor no supermercado. Várias delas foram identificados como fraudadas e o produto melhor avaliado de todos, acredite, foi o único brasileiro no grupo – veja detalhes mais adiante. Para quem acompanha o setor, isso não é surpresa, porque o Brasil é um produtor ainda minúsculo, mas estamos começando a competir com os importados – e o espaço para empreendedores entrarem no negócio é muito grande, veja a seguir. 

Azeite de oliva é um alimento que acompanha o homem há milênios. Temos registros de que a azeitona apareceu na Ásia Menor e que seu cultivo remonta ao período helênico, iniciado provavelmente na ilha de Creta em 3.500 a.C, o que daria cerca de 5.500 anos de experiência com a fruta e o azeite. Na foto abaixo um “frantoi” centenário que fotografei na Sicilia.

 

Ao longo dos séculos a azeitona tem sido utilizada como alimento e o azeite, porque tem longa durabilidade, podia viajar nos barcos em longas viagens. O azeite também foi usado como remédio, fonte de energia e protetor contra o frio. As oliveiras são uma das plantas citadas na Bíblia Sagrada, e azeites eram utilizados em diversos rituais religiosos no mundo árabe. Na Mesopotâmia era usado até mesmo como ferramenta de guerra: nas batalhas os soldados se besuntavam com azeite para ser mais difícil serem agarrados!

 

Da Grécia a oliveira foi introduzida na Península Ibérica durante o domínio árabe. Na Sicilia, Itália, conheci e fotografei uma oliveira que diziam ter mais de 8 séculos de idade, quase contemporânea dos templos em ruínas ao seu lado… – veja a foto abaixo.

 

Da Grécia e também pelas mãos dos árabes, a oliveira acabou encontrando solo propício em Portugal (hoje o segundo produtor mundial), se alastrou para a toda a península ibérica e da Espanha (hoje o primeiro produtor mundial) veio com os conquistadores para a Argentina e Chile, na América do Sul. E da Argentina chegou ao Brasil uns 20 anos atrás, entrando pelo Rio Grande do Sul, região do Brasil que tem o melhor clima e terroir para azeitonas e que se tornou o principal pólo produtor do pais. É no Rio Grande do Sul que fica a principal entidade que congrega e apóia produtores brasileiros – a Associação de Olivicultores de Caçapava do Sul – AOC (http://www.olivicultura-rs.com.br). Veja no mapa abaixo os melhores climas para oliveiras no,mundo.

 

É também da região central do Rio Grande do Sul, em Cachoeira do Sul, que vem o melhor exemplo de que azeite de oliva no Brasil tem ótimo potencial para quem queiser entrar no ramo. O produtor rural José Aued (que é engenheiro) começou a cultivar oliveiras em 2005 e em 2010 produziu a primeira safra com as variedades arbequina e arbosana, com apenas 800 litros. Já em 2011 a produção passou para 6 mil litros e em 2012 foram 22 mil litros, tudo isso em apenas 12 hectares, que agora já são 26 hectares. E estão produzindo mudas para vender para terceiros – veja na foto abaixo. 

 

O azeite dos Aued já está à venda em oito Estados com a marca Olivas do Sul e recentemente foi a única marca de azeite de oliva fabricado no Brasil identificado realmente como extra-virgem em uma pesquisa da Proteste – lembramos o teste a seguir. E isso acontece porque, como explica Enilton Coutinho, agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa e Extensão Agropecuária (Embrapa), “Existe um mercado totalmente aberto para o azeite. O Brasil importa 100% deste produto, ele faz bem à saúde e apresenta uma rentabilidade interessante. A renda líquida chega a aproximadamente R$ 20 mil por hectare, então é um bom atrativo para os investidores”.

 

Nesta pesquisa da Proteste – Associação de Consumidores que testou 19 marcas de azeite extra-virgem portugueses, espanhóis e francesas vendidas no mercado brasileiro, apenas oito marcas apresentaram qualidade de extravirgem e outros sete (Borges, Carbonell, Beirão, Gallo, La Espanhola, Pramesa e Serrata) são apenas azeites virgens. Dos quatro testes que a entidade já realizou com esse produto em mais de dois anos, este realizado em outubro de 2013 foi o que encontrou o maior número de fraudes contra o consumidor (será porque aumenta ada vez mais a venda destes produtos e a cada dia chegam novas marcas ao mercado?) Mas o mais importante é que a marca de azeite de oliva com melhores indicadores foi a brasileira Olivas do Sul, dos Aued, que tem apenas tres anos de mercado…. Veja abaixo o quadro-resumo da revista.

 

O mercado de azeites no Brasil apresenta vendas de aproximadamente 40.000 t/ano, similar à Austrália e superior ao Canadá; somos o 10o. maior consumidor no mundo. A produção mundial foi de 3,6 milhões de toneladas de azeite em 2013, e o Brasil contribuiu com apenas 600 toneladas – mas estamos aprendendo rápido. Os brasileiros estão começando a conhecer e apreciar os diversos tipos de azeites provenientes principalmente de Portugal, Itália, Espanha e Argentina, mas também da França e da Grécia – e em alguns anos talvez não precisemos mais importar o produto. Sim, porque estamos recém-começando, mas evoluímos muito no cultivo de oliveiras e aprendemos rápido a fazer azeites de qualidade. Os gráficos abaixo mostram uma série histórica de consumo de azeites e azeitonas nos últimos 20 anos.

 

Para oferecer uma informação adequada a seus leitores, In Vino Viajas entrevistou um pequeno produtor do Rio Grande do Sul – na verdade um casal de produtores, Ricardo e Monica Ruschel, ele um jurista e ela uma professora de arte, que são um exemplo típico de um perfil de investidor neste setor no Brasil. Como na Itália, Portugal, Grécia e Espanha, os pequenos produtores – geralmente famílias – podem não ser os grandes exportadores, mas são eles que ajudam a manter a produção de azeites com personalidade, exatamente como acontece com vinhos. Veja a continuação desta história em outro post aqui em breve, quando vamos contar a história de quem está acreditando (e já vendo retorno) em transformar o Brasil em um produtor de azeitonas e azeite de oliva.
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e gosta muito de azeites de qualidade em culinária de qualidade
 

 

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