Bahia tem nova IG de cafés no Dia Mundial da Agricultura e Soberania Alimentar

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Por Rogerio Ruschel

Prezado leitor ou leitora, quase que no mesmo Dia Mundial da Agricultura e Soberania Alimentar, estabelecido como 16 de outubro para homenagear a data da criação da FAO-ONU, a Bahia ganha mais uma IG e a primeira Denominação de Origem do estado. Pois no dia 15 de outubro o INPI publicou, na Revista da Propriedade Industrial o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG), na espécie Denominação de Origem (DO), para a região da Chapada Diamantina (BA), como produtora de café. Com esse registro, o Instituto chega a 130 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 91 IPs (todas nacionais) e 39 DOs (29 nacionais e 10 estrangeiras).

Carcaterísticas da nova IG

De acordo com a documentação apresentada ao INPI, os fatores ambientais e humanos da IG estão relacionados com a qualidade do café tradicionalmente produzido no território da Chapada Diamantina, composto por 24 municípios do centro sul da Bahia.

Segundo o estudo “Café da Chapada Diamantina, Bahia: qualidade da bebida e relações com o meio ambiente”, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), o manejo pós-colheita e o saber-fazer local são as variáveis humanas relacionadas com a qualidade do café. Observa-se que, na Chapada Diamantina, quase toda a colheita é realizada de forma manual. Ainda de acordo com o estudo da UESB, as variáveis ambientais que apresentaram influência sobre a bebida foram a altitude, a temperatura e a orientação da encosta em que o cafezal se desenvolve.

Por sua vez, em estudo conduzido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a análise química demonstrou maiores teores de ácidos orgânicos e clorogênicos e, principalmente, de lipídeos, nos cafés da Chapada Diamantina, demonstrando um perfil químico característico, que os distingue de amostras provenientes de outras regiões da Bahia e do Brasil.

Quanto aos aspectos humanos da produção, foi demonstrada a adaptação de técnicas tradicionais de secagem do café, por meio da cobertura dos terreiros, protegendo-o das intempéries, mas mantendo a circulação do ar pelas laterais. Essa técnica local influencia na qualidade final do produto. O cenário apresentado, fruto da conjunção de fatores naturais e humanos, é essencial para que o café da Chapada Diamantina seja caracterizado como uma bebida encorpada, adocicada, com acidez cítrica, notas de nozes e chocolate, além de final prolongado.

O território: a região da Chapada Diamantina

Em 14 de maio de 2024 um oficio da Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia, assinado por Osni Cardoso de Araújo, enviado à Presidente da Associação Aliança dos Cafeicultores da Chapada Diamantina, Sra. Tadeane Pires Matos informava oficialmente a delimitação da Área Geográfica em resposta à solicitação de Cumprimento de Exigências RPI 2746 ao INPI: os limites políticos dos municípios Abaíra, Andaraí, Barra da Estiva, Boninal, Bonito, Ibicoara, Ibitiara,Iramaia, Iraquara, Itaetê, Jussiape, Lençóis, Marcionílio Souza, Morro do Chapéu, Mucugê, Nova Redenção, NovoHorizonte, Palmeiras, Piatã, Rio de Contas, Seabra, Souto Soares, Utinga, Wagner.

A mensagem informva as razões históricas: “Conforme referências históricas a produção de café tradicional na região remonta ao sec. XIX e XX, sendo marcadapelas relações comerciais entre capitanias em seus ciclos econômicos e pelo desenvolvimento das ferrovias. A descentralizaçãoda produção dos cafés permitiu a introdução do cultivo na Chapada Diamantina, fora do eixo produtivo da região Sudeste (SEBRAE, 2019). O avanço se deu na década de 1970, quando o cultivo de cafés entrou em crise resultante de pragas, geada ebaixa produtividade levando o Governo Federal a fomentar a expansão das plantações para outras regiões. (SEBRAE, 2010). Em 1989, a região é inserida no Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais (PRRC).

A amplitude da cafeicultura regional e sua importância econômica e social é evidenciada no alcance do produto noterritório nacional e mundial, na melhoria de sua produção e validações tecnológicas, na geração de emprego e renda para osmoradores e no fortalecimento de laços sociais. O café também influenciou na formação do povo da Chapada, ligados àagricultura familiar, contribuindo com a definição de uma identidade peculiar e regional, fazendo parte do dia a dia da população edas manifestações culturais.

O território de identidade da Chapada Diamantina reconhecido pela nova IG ocupa uma área de 2.407,36 km², com uma densidade demográfica de 11,48 hab/km² e segundo dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE), a população da Chapada Diamantina totalizava 372.242 habitantes, que corresponde a 2,65% do total da população do Estado da Bahia. “

 

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