Bordeaux: capital do vinho e maior patrimônio urbano protegido pela Unesco

Tempo de leitura: 5 minutos

Por Rogerio Ruschel (*)
Segundo uma pesquisa divulgada no segundo dia em que eu estava em Bordeaux, 26 de abril de 2013, a cidade (com 36% dos votos) é a segunda cidade grande mais querida do país na opinião dos próprios franceses; só perde para Paris (com 52% de preferência), mas ganha das cidades de Toulouse (33%), Montpellier (31%) e Lyon (30%) todas muito encantadoras. 
Para comemorar fui obrigado a compartilhar com a família do proprietário e outros hóspedes do hotel, algumas garrafas de um Bordeaux Superior. Aliás, este é um dos traços mais marcante de Bordeaux: é uma cidade que parece estar sempre comemorando alguma coisa.
Segundo me disseram no Departamento de Turismo (aliás, com ótimo atendimento) outras pesquisas informam que Bordeaux é a cidade de grande porte que oferece a melhor qualidade de vida no país – o que seria outra razão permanente para este espírito comemorativo. E olha que eles não tem problemas para escolher o vinho nas comemorações, não?
Interior do Grande Teatro
Mas nem sempre foi assim. Bordeaux faz sucesso hoje, mas teve que se reinventar. Recentemente, nos anos iniciais da década de 2000 a cidade passou por uma das mais importantes revitalizações urbanas que se tem noticia.
Os prédios do centro histórico que estavam degradados foram limpos e recuperados; automóveis foram explulsos das áreas centrais (mas a cidade oferece transporte civilizado); bulevares foram criados, estátuas foram revitalizadas e praças foram remodeladas. Tudo em grande quantidade: avenidas largas, prédios enormes, praças espaçosas.
Atrações interessantes foram criadas, como o Miroir D’Eau (abaixo), um enorme espelho d’água que refresca as pessoas com névoas refrescantes ou jatos de água de até dois metros de altura em frente a Place de La Bourse, Saint Pierre, que atrai crianças e adultos.
O resultado do investimento foi imediato: quase metade da cidade – 1.808 hectares ou 18 quilometros quadrados! – foi tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 2007. Trata-se do maior conjunto urbano protegido do mundo cercado pela mais importante região produtora de vinho do mundo. O tombamento inclui cerca de 350 construções do século XVIII, entre os quais as igrejas Saint-André, Saint-Michel e Saint-Seurin.
Caminhar pela cidade é uma delícia. Entre as atrações estão ruas antsigas (como a Sainte-Catherine) e bairros como Saint-Michel, com ruas estreitas e mágicas e Chartrons, com os antiquários e seus “brocanteurs”; os prédios do Grande Teatro, sede da Ópera e do Balé Nacional de Bordeaux na Place de La Comédie, onde está também o Grand Hotel de Bordeaux e Spa.
Interior do Grande Teatro

Também foram tombados o Palácio Rohan e o Palácio da Bolsa; a esplanada das Quinconces, a mais larga praça da Europa, impressionamemente bem no centro da cidade e os Quais, as esplanadas na beira do rio Garonne.

Em todo o lugar existem monumentos bonitos, praças iluminadas, avenidas largas como promenades, jardins e locais para passeios, passarelas, ciclovias e bares simpáticos.
O rio Garonne – não poluido, evidentemente – participa da vida dos habitantes de Bordeaux e é usado como recurso econômico (com o cais do porto), mas também como um lugar privilegiado para o lazer com as margens remodeladas e cercadas por praças, onde os moradores se divertem e os turistas relaxam.
Em termos economicos Bordeaux já era importante desde os tempos romanos por causa de seu porto que exporta muitas mercadorias e especialmente vinhos, mas importa mercadorias e turistas para a França: a cidade é a segunda parada dos cruzeiros na costa atlântica francesa que ancoram quase no centro da cidade, em frente à Place de la Bourse.
Bordeaux não tem nem um décimo do patrimônio cultural de Florença; não tem os jardins charmosos e surpresas arquitetônicas de Paris; não tem tantos museus quanto Berlim; não tem a importância histórica de Roma e não é encantadora como Praga ou Siena ou surpreendente como Genebra. Acho que grande parte do turismo, do movimento em hotéis e nas ruas ainda é ligado às atividades do vinho, e não à cidade em si.
Mas isso não é um problema – é uma oportunidade, um espaço que a cidade tem para crescer. Não sei se Bordeaux é mesmo a cidade mais simpática da França, como os bordoléus e as pesquisas afirmam, mas é bonita, tem os melhores vinhos do mundo, preços razoáveis e um sensacional sistema de transporte público para turistas, com tramways e onibus que qualquer um entende e pode utilizar.
Em outros posts vamos falar sobre a gastronomia, os vinhedos e evidentemente, os vinhos de Bordeaux.
Um brinde a isso, caro leitor.

Saiba mais sobre a cultura do vinho e a Unesco

·      Saiba porque Madalena, vila da Ilha do Pico, nos Açores, um Patrimônio da Humanidade pela Unesco, foi eleita a Cidade Portuguesa do Vinho de 2017 http://migre.me/wkJp1

(*) Rogerio Ruschel – rruschel@uol.com.br– é jornalista de turismo e consultor especializado em sustentabilidade; foi a Bordeaux por conta própria, e porisso escreve com independência.

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *