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Por Alfredo e Maria Zenaide Cousandier (*)
Alfredo Cousandier, sua mulher Maria Zenaide e mais 4 pessoas (três companheiros e uma guia) fizeram uma das caminhadas mais importantes do Brasil: o Caminho das Missões, que apresenta testemunhos arquitetônicos, paisagísticos e religiosos dos dois ciclos jesuíticos no Brasil e da guerra guaranítica, onde surgiu a liderança indígena Sepé Tiaraju, lider Guarani considerado um santo popular, que foi declarado “herói guarani missioneiro rio-grandense” por leis federal e gaúcha). Alfredo e Maria compartilham com os leitores do In Vino Viajas um pouco desta aventura que é tão enriquecedora quanto o Caminho de Santiago de Compostela na Europa (que eles já fizeram duas vezes de carro). E como Santiago, as ruínas de São Miguel das Missões (foto acima) também são Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Com a palavra os caminhantes peregrinos.
“É uma experiência gratificante participar deste roteiro. A caminhada de três dias inicia com uma preparação técnica e mística realizada na sede da agência de turismo organizadora Caminhos das Missões em Santo Ângelo-RS, onde os peregrinos recebem as primeiras noções da história da região juntamente com o cajado e a cruz missioneira (Cruz de Caravaca, veja abaixo). Feito isso vem o translado para São Miguel das Missões, onde o projeto tem seu início.
A hospedagem é na Pousada das Missões localizada ao lado do Sítio Arqueológico de São Miguel, redução jesuítica pertencente aos Sete Povos das Missões. Tivemos uma visita guiada ao sítio onde se revive toda a história do povo Guarani. À noite, em frente as ruínas, assistimos a um espetáculo de Som e Luz que complementa esta narrativa com texto e roteiro de Henrique Grazziotin Gazzana interpretado pelas vozes de Lima Duarte, Paulo Gracindo, Armando Bógus, Fernanda Montenegro, Maria Fernanda, Juca de Oliveira e Rolando Boldrin – artistas de padrão global!
Pela manhã, bem cedo, tem o início da caminhada em estradas municipais de São Miguel das Missões, Entre-Ijuís e Santo Ângelo, passando também por dentro de propriedades rurais. O contato com a paisagem local é maravilhoso numa região produtora de cereais e com belas pastagens alimentando gado de diversas raças.
Os peregrinos são tratados com muita cortesia sendo sempre cumprimentados pelos habitantes da região. Existem famílias parceiras do roteiro que acolhem os participantes durante o percurso para as refeições e hospedagem, ou simplesmente para oferecer um chimarrão ou um copo de água.
O percurso de três dias tem cerca de 70 Km, sendo 30 Km no primeiro dia (sexta-feira), 25 Km no segundo dia (sábado) e 15 Km no terceiro dia (domingo), com uma chegada emocionante defronte a Catedral Ângelometropolitana (réplica da Igreja de São Miguel) onde os peregrinos, de mãos dadas, são recebidos aos sons dos sinos da catedral. A agência Caminhos das Missões também oferece caminhadas de 6, 8 e 14 dias, esta última percorrendo todos os Sete Povos das Missões, mas especialmente às ruínas de São Miguel (fotos abaixo) partindo de São Borja com chegada em Santo Ângelo.
A experiência foi fantástica onde, além da peregrinação, da convivência com o grupo, da deslumbrante paisagem, da comida regional, da hospitalidade gaúcha e missioneira, podemos conhecer nossos limites e superar as dificuldades como bolhas nos pés e cansaço físico, mas a amizade, a solidariedade, o espírito peregrino supera todos estes obstáculos rejuvenescendo nossa alma.”
Comentários do editor, R. Ruschel: na área do atual Rio Grande do Sul, indios tupi-guaranis ocuparam as terras férteis do rio Uruguai até o litoral. Foi junto a estas comunidades indígenas que os padres jesuítas (a congregação do Papa Francisco) desenvolveram, a serviço da Coroa espanhola, as Missões Jesuíticas. As Missões Jesuíticas foram uma das formas de colonização na América latina com a dupla função de 1) assegurar territórios conquistados – lutando, ou “peleando” como se diz em gauchês, contra os portugueses; e 2) catequizar os povos nativos; veja abaixo a planta de uma Missão jesuítica.
Um sistema social cooperativo inédito foi implantado durante o século XVII e meados do século XVIII em uma vasta área hoje pertencente ao Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. As disputas e interesses políticos entre Portugal e Espanha determinaram as guerras Guaraníticas (1754-1756), a expulsão dos jesuítas da América latina (1767-1768) e a conseqüente decadência das Missões. Toda a experiência desenvolvida em 150 anos ruiu junto às paredes de pedra e barro.
Hoje milhares de turistas de todos os continentes visitam estas ruínas, e uma das maneiras mais enriquecedoras é fazer o Caminho das Missões Jesuítico-Guarani, uma jornada de auto-conhecimento que pode ser feito de bicicleta ou a pé, com duração entre 3 e 14 dias.
Saiba mais em http://www.caminhodasmissoes.com.br/site/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=1
(*) Alfredo e Maria Zenaide Cousandier moram em Bento Gonçalves e fizeram o Caminho das Missões em julho de 2013 como preparativo para refazer o Caminho de Santiago de Compostela desta vez a pé, já que eles o fizeram duas vezes de carro.
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