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Por Rogerio Ruschel (*)
Exclusivo – Entrevista com Luís Rasquilha. Meu prezado leitor ou leitora: para felicidade geral a gastronomia é cada vez mais valolrizada e está provocando uma verdadeira revolução econômica, social e cultural em todos os rincões do planeta. Na feira livre das ruas (ou dos rios, como na Tailândia, foto acima) e no cardápio dos restaurantes o ato de alimentar-se ganhou qualidade e hoje é uma mania que invadiu a midia: são chefs brilhando na televisão, cursos de culinária que atraem milhares de cozinheiros amadores (como os da foto abaixo), feiras de produtos orgânicos ou diferenciados, certificação de origem de alimentos e uma enorme onda de food-trucks e bike-trucks nas grandes cidades.
E o assunto está mais complexo porque cada comunidade pode ter sua própria atração alimentícia, como os famosos 2.500 tipos de queijos da França – que harmonizam com 2.500 tipos diferentes de vinhos, é claro….
Os brasileiros dos grandes centros urbanos já estão surfando nesta onda, comprando produtos importados, enchendo salas e cozinhas de cursos de culinária – e desta maneira descobrimos cada vez mais talentos. E só para lembrar dois dos nossos talentos brasileiros de exportação: Helena Rizzo, do Restaurante Mani, Melhor Chef Feminino da América Latina em 2013 e Melhor do Mundo em 2014 e Alex Atala, do do D.O.M. que está na lista dos 50 melhores do mundo desde 2006 e desde 2012 está sempre entre os 10 mais.
Pois é, a sofisticação da culinária está nas ruas, nas casas e isso evidentemente tem alta importância como elemento no turismo. Aliás, até o dia 18/setembro/2015 o Ministério do Turismo do Brasil estará recebendo propostas para divulgar destinos turísticos com ações que valorizem a gastronomia regional como o churrasco gaúcho da foto abaixo; os projetos selecionados poderão contar com um valor mínimo de R$ 100 mil e máximo de R$ 300 mil para sua realização – veja no site do Ministério.
O valor da gastronomia como atracão turística foi o foco do Congresso Internacional do Turismo de Alimentos realizado de 8 a 11 de Abril de 2015 em Estoril, Portugal, no qual especialistas analisaram as tendências da cultura e do marketing do turismo de gastronomia, que tem crescido sem parar e que é tido como uma das grandes estrelas do turismo moderno, o turismo de experiências. Participaram do evento em Portugal pesquisadores, planejadores de turismo, chefs, cozinheiros, autoridades públicas, dirigentes de mídias e várias entidades ligadas ao turismo de alimentos especialmente da França, Peru, Portugal e Espanha, países com reconhecido sucesso no assunto. O evento foi organizado pela Associação Portuguesa de Turismo e Economia da Culinária, que trabalha na construção de marca de Portugal como destino turístico de alimentos. A cozinha caipira mineira (foto abaixo) é tida como uma das melhores do Brasil.
Uma das mais concorridas apresentações foi sobre “As Cinco Mega-tendências do Turismo Gastonômico” feita pelo especialista brasileiro Luis Rasquilha, CEO da AYR Worldwide e Inova Business School sediadas em Campinas, São Paulo. Rasquilha é professor convidado em Universidades e Business Schools na Europa e Brasil e autor e co-autor de 20 livros técnicos sobre Marketing, Comunicação, Futuro, Tendências e Inovação. Para que você pudesse conhecer estas megatendencias de maneira exclusiva In Vino Viajas entrevistou o professor Luis Rasquilha. Veja a seguir. E por falar em concorrida, acredite: a foto abaixo mostra o movimento em uma Feira Gastronomica do Paço de Manaus…
R. Ruschel – Professor, quais são as cinco megatendências do turismo gastronômico?
Luis Rasquilha– Anote aí. 1. Envelhecimento da população e explosão demográfica. Mais pessoas estão vivendo mais; em 2050 haverá percentualmente mais pessoas com idade superior a 50 anos em uma população de quase 16 bilhões até 2100. Isso vai afetar significativamente nossas escolhas alimentares. 2. Globalização e Conectividade social. Atualmente apenas 20% da população mundial está conectada, mas em 2030, 50% estarão conectados e isso vai mudar a forma de procurar e informar-se sobre alimentos. Deve-se esperar mais aplicativos de internet para a entrega de alimentos, restaurantes e socialização. Na foto abaixo, frutos do mar em um restaurante de Alagoas.
3. Mudanças climáticas. O aumento da temperatura continuará a impactar nossos recursos naturais e a ênfase na sustentabilidade vai dominar a nossa abordagem também na alimentação. 4. Conectividade Intergeracional. Vamos ser definidos como nativos digitais (nascidos após 1990) ou imigrantes digitais (nascidos antes de 1990), com os membros mais jovens da sociedade dominante a influenciarem a forma como usamos a tecnologia para nos comunicarmos. Isto vai mudar tudo, inclusive nossas hábitos alimentares. 5. Saúde e Genética. Como as pessoas continuam a morar em grandes cidades, elas terão de lidar com a depressão, isolamento, obesidade e doenças relacionadas as questões urbanas, como a poluição, ameaças de segurança e falta de espaço. A solução estará na forma do que se pode chamar de fast-food saudável, praticar atividades esportivas e no desenvolvimento de novos medicamentos. Feira livres como essa da foto abaixo podem ajudar bastante na alimentação sadia.
R. Ruschel – Por que são megatendências?
Luis Rasquilha – Por megatendências entendemos as transformações pelas quais o mundo passa e que alteram consideravelmente o status assumido. Estas 5 megatendências são hoje, a par de outras, relevantes para entender algumas das mudanças globais por que passamos. Não só as pessoas estão durando mais tempo como há mais gente no mundo e isso é interessante quando pensamos em dimensões de mercados. Também isso influencia o relacionamento entre gerações que cada dia está mais intenso. O avanço da tecnologia tem alargado a globalização e aumentado os índices de conectividade global, dando a oportunidade de maior circulação de conhecimento e maior interação entre pessoas. O ambiente tem sofrido mudanças permanentes e consideráveis alterando a forma como vivemos no globo. E por fim a saúde e a questão da genética também ten trazido descobertas impensáveis no passado sobre como viver melhor. Estas transformações impactam diretamente o negócio da alimentação seja em termos de comportamento seja em termos de negócio. (Food-truck é para os fracos – em Barcelona o negócio é Gourmet Bus…)
R. Ruschel – Quais são os benefícios do turismo de culinária?
Luis Rasquilha – O turismo de culinária apresenta-se como uma excelente escolha para quem valoriza a questão cultural em viagens, sem perder uma descoberta gastronômica. Se para turistas é um atrativo fantástico, para os agentes do negócio é uma forma de ter mais clientes e explorar mercados até agora deixados em segundo plano. E está provada a sua importância para quem atua no turismo, seja restaurante, hotel, produtor, etc. Entender a especificidade do tema e a sua relevância à luz das tendências, ajudará quem atua neste negócio a melhorar as suas performances e no imite o seu negócio. Para quem viaja sem dúvida pode ser uma experiência inesquecivel. Na foto abaixo o professor Luis Rasquilha – que eu imagino que troque a gravata por um avental com mais frequência…
Um dos grandes temas que dominaram o Congresso Internacional do Turismo de Alimentos em Estoril, Portugal, foi a concordância com o fato de que no turismo de gastronomia o grande diferencial é contar histórias, o conhecido storytelling. Chefs, cozinheiros, jornalistas e blogueiros concordaram que o turismo gastronômico é o ambiente ideal para contar histórias de moradores, da comunidade local, de uma forma consciente e memorável, de relatar experiências de forma intimista para reviver astradições culinárias de pessoas, comunidades e culturas – como os temperos da foto abaixo.
Concordo plenamente porque é contando histórias, e não apresentando dados sobre uvas, cor, sabor e técnicas de produção de vinhos que In Vino Viajas vem conquistando a atenção e a fidelidade de leitores de bom gosto: atualmente é o oitavo site de vinhos mais acessado no Brasil e o mais internacional de cultura do vinho da América Latina, com leitores em 126 paises. Contar histórias que valorizem o saber comunitário e seu estilo de comer, beber e viver é o caminho para ser local e ao mesmo tempo global. Brindo a isso!
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas, adora gastronomia de qualidade mas não convide para cozinhar para você…
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Maravilhosas informações, fotos fantásticas.Parabéns Rogério Ruschel, super compartilhado. No MBA em Hotelaria e Turismo que fiz, A & B e Turismo Comunitário Sustentável, foi o foco das minhas pesquisas, inquietações, publicações.
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Me encanto leerlo!!!
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Sempre matérias surpreendentes, recomendo!!!
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Obrigado, Liliana, você é muito gentil.
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Muchas gracias querida Liset!
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Obrigado, Consuelo, espero que continue prestigiando.