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Por Rogerio Ruschel
eu prezado leitor ou leitora, veja outra histrória de valoreização do produtro local e do patrimônio territorial – desta vez vindo de Portugal. Produtores portugueses de vinho recuperaram um processo único e ancestral de vinificação de uvas do tempo dos romanos, o vinho de lagar rupestre. O processo foi oficialmente reconhecido em 2020 como método tradicional de Trás-os-Montes. O “Calcatorium”, como foi batizado este que é o primeiro vinho de lagar rupestre certificado e rotulado em Portugal, e foi apresentado dia 13 de agosto de 2021, em Santa Valha, localidade do municipio de Valpaços, Distrito de Vila Real, provincia de Trás-os-Montes, no Nordeste de Portugal, onde foi produzido na vindima de 2018.
Esta tecnologia produtiva tem vários séculos. A ocupação romana na região se manteve por vários séculos, até o início do século V, quando povos Suevos, Vândalos e Alanos se instalaram, pondo fim ao domínio romano. Mas entre as heranças romanas ficaram os lagares rupestres, escavados em rochas, onde as uvas eram pisadas para extração do suco e produção de vinho. Calcatorium é o nome romano do local onde são colocadas e pisadas as uvas. Até agora cerca de 120 lagares de sete tipologias diferentes escavados na rocha já foram identificados no município de Valpaços.
“O nosso objetivo é colocar Valpaços no mapa da enologia, da cultura e do turismo”, afirmou Augusto Lage, da Associação de Vitivinicultores Transmontanos (AVITRA). Estes vinhos assumem a designação de “vinho de lagar rupestre”, cabendo à Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes (CVRTM) as funções de controle da produção e do comércio, de promoção, defesa e certificação dos vinhos da região.
As uvas do “Calcatorium” foram colhidas numa vinha muito velha, com castas autóctones, brancas e tintas; a lagarada (processo de amassamento com os pés) foi feita em lagares rupestres e, depois, o estágio dos vinhos foi feito em pipas antigas de carvalho de madeira, na adega do produtor local Nuno Miguel Neves.
Foram engarrafadas 260 garrafas de “Calcatorium” tinto e outras tantas de rosé. Todas elas estão numeradas e a primeira vai ser oferecida ao Presidente da República. O calcatorium é o local onde são colocadas e pisadas as uvas. “Nós hoje fizemos história, quer para a região quer especificamente para os vinhos de Trás-os-Montes”, afirmou Ana Alves, enóloga da CVRTM.
“Esperamos, agora, que os produtores agarrem nesta possibilidade e que façam muitos mais vinhos de lagar rupestre na região de Trás-os-Montes”, afirmou a enóloga da CVRTM, acrescentando que vários viticultores já se mostraram interessados em avançar com a produção deste tipo de vinho. O propósito foi, segundo Ana Alves, fazer o lançamento do vinho, motivar os viticultores para aproveitaram a “ancestralidade e identidade da região” e fazerem um produto “de referência” para Trás-os-Montes.
Quanto ao lagar, o arqueólogo Pedro Pereira, explicou que o que foi usado para a produção do vinho é, a nível técnico, “um dos mais interessantes, porque ainda tem as zonas de estabelecimento de uma prensa mecânica lateralmente e uma série de veios escavados na rocha com outros intuitos para além da produção, como para o escoamento de água. Há também um castro romanizado aqui próximo, uma larga ocupação deste espaço pelo menos até à alta Idade Média. Aqui podemos dizer que será certamente medieval e com algum grau de certeza podemos dizer que poderá ter sido romano, de instalação inicial”, salientou.
Em 2018 foi criada a Associação Portuguesa de Lagares Rupestres (LAROUP) para incentivar “tanto o estudo como a proteção” deste patrimônio, estando previsto o arranque de uma inventariação nacional para breve. Augusto Lage defendeu ser necessário classificar os lagares rupestres, primeiro a nível municipal e, depois, nacional, de forma a proteger e preservar este patrimônio. O objetivo último, frisou, é a sua classificação como Patrimônio Mundial da Humanidade, uma candidatura que está a ser trabalhada em conjunto com a Galiza (Espanha).
Meu caro leitor ou leitora, Portugal recupera também outra tecnologia ancestral de viticultura, o vinho de talha, produzido também pelos romanos, há 2.000 anos atrás, especialmente na região do Alentejo e que “In Vino Viajas” acompanha há vários anos. Veja aqui: https://www.invinoviajas.com/?s=talha