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Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitor ou leitora, a arte, assim como a tecnologia, é um dos caminhos que o cérebro humano pode utilizar para construir um mundo melhor, com mais sabor e qualidade de vida. E quando o dono do cérebro tem real talento artístico e coragem para se expressar, o resultado pode ser espantoso, surpreendente, revolucionário.
Recentemente tive a comprovação disso ao visitar a grandiosa exposição “Escher”, com mais de 200 obras e uma duzia de oportunidades interativas do artista gráfico holandês Maurits Cornelis Escher (foto acima), no Museu de Arte Popular de Lisboa.
Parte desta exposição já esteve no Brasil em 2003 com 95 obras no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasilia, Rio de Janeiro e São Paulo; voltou em 2010 a São Paulo, desta vez ampliada, com 400 obras, quando bateu um recorde mundial, com mais de 1,2 milhões de visitantes (eu fui um deles) e creio que em 2013 esteve em Belo Horizonte, também com grande sucesso. É sempre um show, porque de fato Escher é um espetáculo.
Maurits Cornelis Escher (1898-1972) ficou famoso por obras expressas em xilogravuras, litografias e meio-tons repletas de ilusão de ótica e hiper-realismo, pela construção artística de paradoxos gráficos e por impossibilidades malucas que ele colocou em sua arte – como nesta gravura das formigas, acima. Escher costumava dizer que “somente aqueles que tentam o absurdo conseguem o impossivel”.
Creio que foi o artista que melhor compreendeu a forma mais completa de fazer o preenchimento regular do plano, criando vários planos no mesmo plano. Assim surgiam figuras de homens, peixes, aves, lagartos, todos envolvidos de tal forma que nenhum poderia mais se mexer. Tudo representado num plano bidimensional como na obra acima que parece 3D mas se expressa em 2 dimensões onde morcegos viram anjos, que viram morcegos, que viram anjos…
Escher foi o criador da arte dentro da arte, dentro da arte, dentro da arte com as explorações do infinito – como na foto acima acima no qual estou dentro de uma bola que está dentro de uma bola, que está na mostra e é uma das brincadeiras interativas da mostra. Ou neste video: https://youtu.be/YY40k9Bbnps
Escher foi o autor de pelo menos tres peças em xilogravura denominadas Metamorfoses (acima oito seções da Metamorfose 2), padrões geométricos entrecruzados e sequenciais de até 7 metros que se transformam gradualmente de maneira ininterrupta em formas gráficas diferentes, geralmente no fim voltando ao padrão original do começo. O show da vida: tudo se transforma e tudo volta ao pó!
Especialistas dizem que as duas maiores influências de Escher vieram de viagens: a primeira delas através da Itália, onde visitou Florença, San Geminiano, Volterra, Siena, Ravello e outras comunidades, que simplesmente o deixaram maluco. Ele chegou a escrevever em seu diário que nunca imaginou que poderia ver tanta beleza em um só lugar. Vilarejos italianos como o da obra acima passaram a fazer parte de sua arte para o resto da vida, constituindo-se em parte da estrutura ou do cenário, ou do contexto de obras. No caso da Metamorfose 2, acima, é possivel ver esta influência na seção 7.
A outra viagem foi ao Alhambra, um castelo mouro do século XIV localizado em Granada, na Espanha, onde o artista conheceu e se encantou pelos mosaicos e seus entrelaçamentos que podem ser vistos no palácio de construção árabe. Escher ficou impressionado com a forma como cada figura se entrelaçava na outra e se repetia, formando belos padrões geométricos – veja acima e abaixo.
A arte de Alhambra foi o ponto de partida para alguns dos trabalhos mais famosos de Escher, aqueles com preenchimento regular do plano, normalmente utilizando imagens geométricas e não figurativas, como os árabes faziam porque sua religião muçulmana proíbe representações figurativas. Pois é: a cultura moura manifesta em seus padrões geométricos também passou a fazer parte de sua obra. Abaixo, a xilogravura “Day and Night”, que mostra a mesma cena invertida e complementar entre si.
Escher acabou criando outra tendência: a “eschermania”. Seu trabalho diferenciado e original exerceu enorme influência na arte do século XX e continua exercendo. Escher se tornou um artista pop cultuado por grupos de rock, incluindo o Pink Floyd (veja foto acima alguns dos LPs “eschernianos”), produtores culturais, artistas pop em geral e até mesmo fabricantes de brinquedos como a Lego (abaixo).
Não sei quando a obra de Escher volta ao Brasil, mas em Lisboa ficará até maio de 2018. Então, onde quer que seja, meu caro leitor ou leitora, aproveite, porque artistas como Escher nos ajudam a aproveitar melhor nossa passagem por esta dimensão em que estamos. Mergulhei no infinito da mostra (foto abaixo) e brindo a isso!