Entrevista exclusiva com José Peñin, criador e presidente do Guia Peñin, uma lenda viva da vitivinicultura espanhola e europeia

Tempo de leitura: 7 minutos

Por Rogerio Ruschel

EXCLUSIVO Meu caro leitor ou leitora, mais uma vez In Vino Viajas faz jornalismo de qualidade com essa entrevista exclusiva com José Peñin, fundador e presidente do Guia Peñin, uma das mais importantes personalidades do vinho da Espanha e da Europa; esta é a primeira entrevista exclusiva concedida a um jornalista brasileiro. Esta entrevista está disponível em espanhol aqui: http://www.invinoviajas.com/2018/07/jose-penin-nuestro-gran-patrimonio/

José Peñin, nascido em 1943 em Santa Colomba de la Vega, La Bañeza, León, e apreciador de vinhos com as uvas prieto picudo e mencía, da região de sua infância, é uma lenda viva da vitivinicultura espanhola e mundial, um pioneiro de grande respeito e credibilidade. Em 1975, com 32 anos, comprou um Land Rover e começou a percorrer as vinícolas da Espanha. Foi o primeiro a criar um lagar, o primeiro a criar um clube de vinhos, o primeiro a fazer um guia de vinícolas e também o primeiro a avaliar vinhos e colocá-los em um guia – a primeira edição foi publicada em 1990. Na foto de abertura, foto de Penin publicada por el blog “Dastatu Rioja Alavesa” durante una entrevista para fortalecer a Candidatura da Paisagem Cultural do Vinho e  Vinhedo de La Rioja e Rioja Alavesa a Patrimônio da Humanidad da UNESCO (https://blogriojaalavesa.eus/ ) .

Dizem que Peñin já degustou mais de um milhão de vinhos. Pode ser exagero, mas ele mesmo diz que já visitou quase todas as regiões vinícolas do mundo como um excelente escritor, palestrante, consultor, membro prestigiado de diferentes júris internacionais, e ganhador de inúmeros prêmios por sua atuação profissional de 43 anos na indústria do vinho. Atualmente o Guia Peñín tem uma equipe reconhecida de especialistas que avaliam cerca de 11.000 vinhos por ano e publicam os resultados em espanhol, inglês, francês e alemão. O guia é um dos mais importantes do mundo e tem sido utilizado como uma alavanca estratégica para a Espanha conquistar e manter seu lugar entre os três maiores países produtores e exportadores de vinhos do mundo. Este ano o Guia Peñin já realizou salões (mostras gigantescas de produtores espanhóis, como este da foto abaixo) em Nova Iorque, Tóquio, Moscou e México City, além dos Salões na Espanha; e em breve estará novamente na China.

In Vino Viajas é o primeiro veículo de comunicação do Brasil a publicar uma entrevista exclusiva com o Mestre José Peñin, feito do qual muito me orgulho, com perdão dos meus estimados leitores. Veja a seguir.

R. Ruschel – Como surgiu a sua abordagem ao mundo dos vinhos? Foi inspirado pela família, por amigos da Faculdade ou por acaso? Você tem herdeiros com a mesma paixão?

José Peñin – Foi com alguns amigos que criamos um clube de vendas de vinho por correspondência, com entregas pelo correio, em 1975. A intenção era puramente comercial. Infelizmente, meus filhos não entraram nessa cultura em nível profissional.

R. Ruschel – Na trajetória de mais de 25 anos do Guia Peñin, quais são as principais dificuldades que você enfrentou para fazer o Guia Peñin se transformar no sucesso que você tem hoje? E quais foram os momentos mais gratificantes?

José Peñin – Tive muita sorte na primeira edição que foi paga por um grande banco espanhol. Esta iniciativa permitiu conhecer os vinhos espanhóis com avaliação de qualidade pelos consumidores. Eram tempos com pouca informação sobre marcas de vinho. Eu não queria criar um livro pessoal, mas um vademécum que orientasse o consumidor. Por esse motivo e desde então, contabilizamos duas vezes o número de marcas do segundo guia de vinhos da Espanha. Os momentos mais gratificantes foram verificar que as vinícolas assimilaram melhor as críticas do que eu pensava. Talvez tenha sido o modelo de crítica, em um país que, como o nosso, onde as formas são tão importantes quanto o conteúdo em si.

R. Ruschel – Você disse recentemente que os vinhos que mais te entusiasmam hoje são os das aldeias, os vinhos da terra. Por quê? Você pode destacar qualquer região, tipo de uva ou um produtor em particular?

José Peñin – Em geral, os vinhos que mais me entusiasmam são os das áreas mais selvagens, com vinhas velhas e que durante décadas não foram trabalhadas e, portanto, ainda são mais virgens. Eles são principalmente vinhedos em áreas mais acidentadas com mato e floresta, dificeis.

R. Ruschel – Atualmente, qual é a atividade que você mais gosta: degustar vinhos já consolidados, descobrir novos vinhos ou escrever sobre o mundo do vinho?

José Peñin – Sempre gostei de escrever e descobrir novos vinhos ou novas experiências de vinho, mais do que beber os vinhos já consolidados.

R. Ruschel – Você é o autor e/ou editor de muitos livros. Qual deles deu mais prazer em ver pronto? Qual é o livro que você gostaria de ter escrito e ainda não escreveu?

José Peñin – Talvez o livro que mais me satisfez foi “12 Grandes Bodegas”, um livro que se refere às vinícolas mais antigas da Espanha, ainda em atividade. O livro que estou escrevendo agora é sobre minhas lembranças de 43 anos no mundo do vinho. Não se esqueça que este período coincidentemente tem sido a revolução do vinho em todo o mundo, não só em Espanha.R. Ruschel – Você visitou muitos territórios de produção de vinho. Na sua opinião, quais são as três regiões vinícolas mais bonitas da Espanha? E do mundo?

José Peñin – Na Espanha, por sua orografia variada, há muitas paisagens evocativas. É possível que El Priorat, na Catalunha e El Bierzo, em León ainda me fazem parar para contemplá-las.

R. Ruschel – Quais são os principais aspectos positivos, facilidades e oportunidades dos vinhos espanhóis no contexto internacional? E quais são os principais aspectos negativos, as dificuldades, limitações?

José Peñin – O aspecto positivo é a grande variedade de estilos e marcas de qualidade dos vinhos espanhóis. Temos uvas evinhos para todo tipo de envelhecimento, de variedade, para todo tipo de clima, para sua multiplicidade de solos e para nosso grande património, único do mundo, que é ter o maior número de vinhas velhas relacionadas com variedades autóctones. O aspecto negativo é que o produtor de vinho espanhol não sabe vender bem o seu produto.

R. Ruschel – Quais são os principais desafios que os vinhos da Espanha enfrentarão em geral, nos próximos 10 anos?

José Peñin – Conseguir maior competitividade em relação a outros países na promoção e comercialização e também que as Comunidades Autônomas espanholas tenham um objetivo comum de promoção para evitar a promoção solitária.

Veja a imagem acima. José Peñin sempre teve independência intelectual e cresceu fazendo alianças, mas sem depender de favores das vinícolas. No caso em que é um vinho sem permissão para identificar o DO, em uma caixa, da borda da estrada: quantos sommeliers você sabe quem recomendaria um “pecado” tão grande em seu próprio blog?

Recentemente perguntado sobre o que o emociona mais neste mundo de vinho, Peñin respondeu: “O discurso sincero de pessoas que respeitam a paisagem. Respeitar a paisagem significa avaliar tudo o que a paisagem lhe proporciona. Tudo. Árvores, arbustos, plantas silvestres e, acima de tudo, a videira. Que esta vinha é cultivada naquela paisagem selvagem é o que determina um caráter para o vinho que não tem um vinhedo geométrico, instalado com todas as precauções agronômicas “.
Brindo a José Peñin pelos valores que professa e por sua percepção, dedicação e coragem.

In Vino Viajas já publicou mais de 50 reportagens sobre a cultura do vinho na Espanha. Algumas delas estão aqui:

 

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