Exportação do cultivo da Uva Goethe para os Estados Unidos agrega valor à Indicação Geográfica

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Por Rogerio Ruschel, com o Portal Litoral Sul

O Portal Litoral Sul, de Criciúma-SC, publicou recentemente uma reportagem sobre a visita de um grupo de especialistas estrangeiros à região para uma visita técnica a vinhedos da Uva Goethe durante a vindima. O grupo tinha três objetivos: 1) conhecer as técnicas e aspectos operacionais da produção da uva Goethe; 2) planejar a exportação de tecnologia e do saber-fazer do plantio destas uvas nos Estados Unidos; e 3) fazer um documentário sobre a uva, provavelmente a mais importante das castas de Vitis Labrusca, as uvas de origem americana. A Uva Goethe faz parte da coleção de variedades de uvas brancas conhecidas como Rogers’ Hybrids, criada por E.S. Rogers em meados do século 19, e é o resultado de um cruzamento de Carter, uma seleção de Vitis labrusca, e Black Hamburg, uma seleção de Vitis vinifera.

As uvas Goethe, tradicionalmente produzidas por descendentes de imigrantes no Brasil ao lado de variedades americanas e híbridas como Niágara, Niágara Rosada, Isabel, Lorena, Bordô, Concord, Martha e variedades Embrapa como Moscato Embrapa e BRS Lorena, são utilizadas para fazer vinho de mesa que ainda tem baixa percepção de valor por uma certa faixa de consumidores brasileiros quando comparados a vinhos produzidos com castas de uvas Vitis Viniferas europeias tradicionais. Mas estes vinhos de mesa que chamo de “caipiras” atendem a mais de 80% do consumo de vinhos no país, e degustei dezenas deles porque fui um dos membros da Comissão Julgadora da 1a. edição do Concurso Brasileiro de Vinhos de Mesa – CBVM, realizado em agosto/2023 na unidade de Viticultura e Enologia da Etec Benedito Storani – Etec BeSt, em Jundiaí – SP. Saiba mais aqui: https://www.invinoviajas.com/vinhos-de-mesa-do-brasil/  e também aqui: https://www.invinoviajas.com/vinhos-caipiras-do-brasil/

No caso da Uva Goethe, que já tem tecnologia apurada, muitos enólogos se dedicando a ela e muitos produtores produzindo vinhos que já contam com uma Indicação Geográfica (IG), a visita destes especialistas estrangeiros confirma que os vinhos de mesa do Brasil estão em rápido crescimento para atingir a maioridade mercadológica – e merecem respeito. Veja a seguir a reportagem sobre a visita da comitiva dos Estados Unidos à região da Indicação Geográfica Uvas Goethe na Serra Geral e litoral Sul Catarinense, publicada pelo Portal Litoral Sul de Santa Catarina.

“Para mim o Brasil é como voltar para casa, embora seja a primeira vez que visito o país”, declarou emocionada a americana Lucie Norton com uma taça de vinho Goethe na mão. Lucie é culturista e trabalha com ampelografia, que é a ciência que identifica as variedades de uva pelas folhas. Acompanhada do cinegrafista francês, Stephan Balay, e do produtor de vinho americano, Nathan Hel, visitaram os Vales da Uva Goethe, no Sul de Santa Catarina, durante a época da colheita da uva. “Não estou aqui apenas por curiosidade, mas para resgatar as minhas origens e realizar o documentário que se chama: Odisseia do vinho Proibido; Exílio e Retorno das uvas históricas americanas (Odyssey if Forbidden Wines)”, explicou.

Os três compartilham o amor e a curiosidade pelas uvas americanas. Variedades que desapareceram no século 19, durante a Lei seca nos Estados Unidos, e que era cultivada pelas famílias dos dois nos estados do Missouri e da Virgínia. “Esse filme é  para mostrar o que aconteceu com essas uvas americanas. Aqui no Brasil, a Goethe é a base de uma indústria vinícola maravilhosa, e diferente da Europa, onde elas são proibidas, aqui nos Vales da Uva Goethe, vi a celebração de uma uva americana, que deu origem a outras atividades como o agroturismo, e eu agradeço toda vez que faço uma degustação, e precisamos levar isso de volta para a América”, ressaltou Lucie.

Pesquisas para cultivar a Goethe também nos EUA

A vinícola Stonehill Winery, no Missouri, foi fundada pela família de Nathan Hell, em 1847, e produzia vinho com essas uvas americanas, até 1920 quando a venda de bebidas alcoólicas foi proibida nos Estados Unidos .“Há 5 anos procurei sobre essas variedades de uva, e descobri que a Goethe continuava a ser cultivada na Alemanha e no Brasil. Iniciamos a pesquisa, com plantas que levamos da Alemanha, e realizamos estudos para eliminação de vírus, e a nossa esperança é produzir vinho com essas uvas quando forem liberadas da quarentena”,esclareceu.

Durante a visita ao Brasil, o grupo participou de degustações, conversou com produtores, conheceu a produção da uva e do vinho. Tanto para Nathan, quanto para Lucie, essa imersão foi um retorno ao passado. “Conhecer e experimentar o vinho dos diferentes produtores foi incrível e superou as minhas expectativas. O vinho é ótimo , com boa acidez, notas florais, um pouco de especiarias, aromas frutados e sabores. Estou muito animado para plantá-la, porque seria maravilhoso recuperar essa variedade histórica de uva, com uma história incrível na América e na minha família”, finalizou.

Para Guilherme Facanali Bianchini, presidente da Progoethe, gestora da Indicação Geográfica, o documentário será importante para levar os Vales da Uva Goethe e o vinho conhecidos em outras partes do mundo. “Para nós é muito gratificante, porque produzimos aqui um vinho típico, único e raro, e saber que eles tem interesse em resgatar essa uva nos EUA, e até quem sabe no futuro possamos fazer uma parceria com os americanos”, destacou.

O vinho Goethe é produzido apenas na região dos Vales da Uva Goethe, a área de produção localiza-se entre as encostas da Serra Geral e o litoral Sul Catarinense. Compreende os municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Orleans, Cocal do Sul, Treze de Maio, Nova Veneza, Içara e Morro da Fumaça. Os Vales da Uva Goethe foi a primeira Indicação de Procedência do Estado de Santa Catarina a obter o registro junto ao INPI, em 2012.

A região tem hoje cerca de 50 hectares de uva goethe cultivados, e o Governo Municipal aprovou a Lei LEI Nº 2871, para fomentar o plantio da uva e a produção de vinho, promover o enoturismo visando a geração de emprego e de renda. Desde que a lei entrou em vigor foram distribuídas mais de 4.800 mudas.

O prefeito de Urussanga, Luis Gustavo Cancellier, falou da importância da visita dos pesquisadores americanos, e do quanto o trabalho realizado por eles dará destaque internacional a uva Goethe. “Isso dá ainda mais valor a essa Lei municipal que incentiva a produção desta variedade única aqui da nossa região. Nos sentimos orgulhosos de receber esse grupo, que realiza esses estudos e aumenta a nossa responsabilidade de plantar cada vez mais a Uva Goethe aqui na região”, concluiu o prefeito.

 

 

 

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