Cooperativa da Vidigueira lança uma preciosidade do Alentejo, Portugal: um vinho de talha de videiras centenárias aprovado por produtores da Georgia

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Por Rogerio R. Ruschel

A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito (ACVCA), encravada no território de Vidigueira, distante 22 Km de Beja e 25 Km de Évora, é uma das mais tradicionais do Alentejo e está sempre com novidades. Uma delas é bem recente: o lançamento de um vinho de talha com base em uvas de vinhas centenárias, o Vila Alva Vinhas Centenárias certificado como DOC Vidigueira de Talha 2017 aprovado por vinicultores qvevri, da Georgia (foto acima).

O vinho de talha é uma herança de mais de 2.000 anos levada pelos romanos para o Alentejo, mas tem inspiração ainda mais ancestral, no chamado “Qvevri”, método produtivo registrado na Georgia (antiga região da Rússia) desde o ano 6.000 Antes de Cristo e reconhecido como Patrimonio da Humanidade pela Unesco. Pois o Vila Alva Vinhas Centenárias já nasce com respeito internaconal: uma comitiva de vinicultores da Georgia, liderada pelo Ministro da Agricultura daquele país esteve na adega, provou e aprovou o novo vinho de talha alentejano – veja na foto de abertura.

A tradição vinícola na Vidigueira é muito antiga: em 1519 a vila da Vidigueira foi cedida ao navegador Vasco da Gama por carta régia do Imperador D. Manuel I. Vasco da Gama então se tornou o Conde da Vidigueira e até hoje inspira uma estratégia de branding dos vinhos da ACVCA que é única e muito diferenciada – o que vou contar em outra matéria. Em 1519, meu caro leitor ou leitora, o Brasil havia sido recém descoberto e não tinha sequer um modelo de gestão – as Capitanias Hereditárias seriam criadas em 1534.

Pois a ACVCA nasceu neste ambiente de tradição vinícola e em seus 50 anos de existência tem apostado na inovação (como na parceria de marketing e vendas com a Adega Encostas d’Alqueva que quero contar outro dia) e na valorização dos vinhedos dos associados onde podem ser encontradas algumas das melhores castas autóctones portuguesas, como a da uva Antão Vaz, conhecida como a “casta da Vidigueira”.

Visitei a Casa das Talhas da Vidigueira e provei este vinho em outubro/2017 com outros colegas da FIJEV – Federação Internacional de Jornalistas e Escritores do Vinho, quando fui recebido por José Miguel de Almeida, presidente da Adega (na foto acima me apresentando um dos rótulos premiados) e pelo enólogo Luis Leão Morgado (foto abaixo). Na oportunidade o vinho estava fermentando, processo que foi considerado encerrado pouco tempo depois.

O enólogo Leão Morgado me explicou o processo produtivo, que vou simplificar para você. O vinho é vinificado em grandes potes de barro – as talhas – onde também é armazenado para ser consumido até terminar. As uvas são colocadas pela boca superior para fermentar (foto abaixo).

Para homogeneizar a fermentação, a massa é mexida artesanalmente com um cabo de madeira, pelo menos duas vezes ao dia, durante três semanas. A parte sólida dos cachos se deposita no fundo da talha e ajuda na filtragem do vinho, que sera retirado por baixo (por uma torneirinha com um filtro natural) e adicionado à talha pela boca várias vezes, num circuito que ajuda a clarificação do vinho.

O Vinho de Talha é aberto geralmente em 11 de novembro, dia de São Martinho, e deve ser bebido jovem – nas familias quase sempre em copos e não em taças – porque é um vinho natural. Essa técnica, que vem sendo utilizada no Alentejo há 2.000 anos por familias, agora vem sendo retomada pela Vidigueira e outros produtores do Alentejo e esses vinhos diferenciados estão chegando às cartas de requintados restaurantes portugueses – e em breve no Brasil, posso garantir.

Leão me disse que este projeto começou com a elaboração do cadastro das vinhas dos associados, entre as quais foram identificadas vinhas com mais de 100 anos que participaram do projeto como a da foto abaixo.

O Vila Alva Vinhas Centenárias tem origem nas principais castas brancas da zona vitivinícola da região que foi do navegador Vasco da Gama. Morgado Leão é considerado um dos melhores enólogos portugueses e só em 2016 ele e sua equipe conquistaram para a Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito mais de 70 prêmios. Eu acho que este trabalho de fazer um produto com identidade territorual que ajude a recuperar a história e a cultura de uma região e de um país, merece um prêmio especial: meu brinde. Aliás, faço outro brinde para a Câmara de Vidigueira, que em conjunto com os municípios de Moura, Cuba e Aljustrel e cerca de 150 produtores está preparando a candidatura do Vinho da Talha a Patrimônio da Humanidade junto a Unesco, que deve ser apresentada em 2019 ou 2020. Estas coisas, meu caro leitor ou leitora, não tem preço.

Conheça o Qvevri da Georgia aqui http://www.invinoviajas.com/2013/12/qvevri-cultura-do-vinho-passada-de-pai/

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