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O suor escorria da testa e misturado com o protetor solar 30 irritava meus olhos teóricamente protegidos por óculos escuros. Depois de 12 quilometros sacolejando e escorregando em uma estrada de areia grossa, agarrado onde podia em uma Toyota de 14 lugares, e de mais de 1 quilometro subindo e descendo dunas de até 6 metros, eu estava quase desistindo.
E cá prá nós: só não desisti porque ao meu lado um casal de velhinhos japoneses continuava incentivando Jully, a neta de 8 anos, a não desistir. Estávamos, Marisa, minha mulher e eu, quase chegando à Lagoa do Peixe, no Parque Nacional Lençóis Maranhenses, uma área federal protegida e clássico destino de turismo ativo, na região nordeste do Brasil.
O roteiro que fazíamos era considerado leve, mas como era fim de temporada de verão, no mes de dezembro, as lagoas Azul e Bonita, as mais próximas do ponto onde costumam estacionar as Toyotas, estavam vazias – as lagoas ficam cheias entre maio e agosto. Mas valeu a pena, porque o visual é muito bonito e o banho – com água até o peito e cercado de peixinhos – é recompensador.
Com seus 155 mil hectares, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é uma atração encantadora: um deserto tropical com oásis e centenas de lagoas formadas pelas chuvas e alimentadas pelo lençol freático, das quais 90% são temporárias e 70% têm peixes – e é verdade, porque eu vi. Cientistas explicam que quando as lagoas secam ovos e larvas de peixes ficam no solo úmido, e quando a água volta, os peixinhos nascem. Como nunca viu peixes “chovendo” esta deve ser a única explicação viável…
O roteiro em Lençóis tem como entrada a cidade de Barreirinhas (abaixo), a 250 quilometros de São Luis do Maranhão e pode incluir trilhas avulsas, um passeio pelo rio Preguiças, o sobrevôo da região e uma “flutuação” em rio em Cardosa – além de boa gastronomia e da visita a lojinhas de artesanato em palha (especialmente buriti), madeira e tecidos.
O passeio pelo rio Preguiças (abaixo), feito num catamarã de 65 lugares na temporada, é demorado mas bonito, margeado por manguezais e bordado por palmeiras, brilhantemente azul no sol forte e vermelhão no fim da tarde. Embora sejam apenas 38 quilometros de Barreirinhas até a foz no oceano, a viagem pode demorar até 3 horas, o que é demais.
No caminho visita-se Vassouras, ponto de acesso aos “Pequenos Lençóis” – região desértica que fica ao lado direito do rio e fora do Parque Nacional – onde foi construido um bar-restaurante como ponto de apoio para pescadores (e turistas), no qual a atração principal é conviver com um bando de macacos-prego, entre os quais o Pepe, que encanta os turistas com olhos suplicantes por bananas. E que encantou este repórter, como você pode ver nesta foto abaixo.
Outro ponto de parada é o vilarejo de Mandacaru (abaixo), onde o atrativo é subir os 160 degraus de um farol para ter uma maravilhosa vista panorâmica da região (abaixo) – com o sacrifício de enfrentar uma temperatura de até 40 graus Celsius na areia.
Mais cinco minutos e se chega ao ponto final do passeio, o vilarejo de Caburé, uma ponta de areia de cerca de 400 metros que separa o rio Preguiças do mar, e onde foram construídas várias pousadas com boas opções de lazer como passeios com barco “voadeira” até a foz, uns 5 quilometros, piscina refrescante e gastronomia regional, simples mas deliciosa.
A volta proporciona boas fotos ao por-do-sol para os que resistirem ao cansaço e preguiça sem pegar no sono.
Embora arriscado porque o aeroporto de Barreirinha não é homologado, fiz um sobrevôo da região com um Cessna 210H, com asas superiores, para cinco lugares, mas acho que dei azar. Adentramos os Lençóis até o rio Negro, quase no centro do Parque Nacional, sobrevoamos o rio Preguiças e embora tenha tirado algumas fotos, me arrependi porque o avião era apertado e quente e fiquei desejando que pousasse logo…
(*) Rogerio Ruschel é jornalista e esteve em Lençois Maranhenses em 2005 a convite da CVC Turismo