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Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitor ou leitora, já que a opção mais sensata é ficar de resguardo social por causa da pandemia, minha sugestão é relaxar degustando uma taça de vinho em casa, em boa e segura companhia. E para agregar sabor ao seu relaxamento sugiro que abra um vinho da região dos Vinhos de Altitude de Santa Catarina, e harmonize com a leitura de um excelente livro preparado pela Epagri sobre este terroir: “Vinhos de Altitude de Santa Catarina – Caracterização da região produtora, Indicadores e instrumentos para Proposição de uma indicação geográfica”. Como Hamilton Justino Vieira, Eng. Agrônomo da Epagri/Ciram escreve no prefácio, o livro, como os vinhos é “elegante, encorpado, equilibrado, evoluído, maduro e intenso”.
O estudo vai subsidiar a formalização de mais uma Identidade Geográfica de vinhos brasileiros, a IG Vinhos de Altitude. Um produto com IG é único. Significa que só ele tem determinadas propriedades, porque sua elaboração é influenciada por características ambientais ou culturais de determinada região. E isso certamente significa um diferencial de mercado que agrega valor ao produto final no Brasil ou em qualquer parte do mundo. Mas a obtenção da Indicação Geográfica requer a produção de uma série de estudos para compor um dossier sério e definitive – como este estudo que estou apresentando.
A obra foi organizada pelos pesquisadores Cristina Pandolfo e Fernando Luiz Novaes Vianna da Epagri/Ciram, com o apoio do Sebrae, da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc) e da Associação Vinhos de Altitude – Produtores Associados de Santa Catarina. Os capítulos foram redigidos e revisados por uma equipe multidisciplinar composta por 33 pesquisadores e técnicos das áreas de agronomia, ciências biológicas, economia, enologia, farmácia, geografia, meteorologia e química. Participam do projeto os pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho Celito Crivellaro Guerra, Gildo Almeida da Silva, Jorge Tonietto, José Fernando da Silva Protas, Loiva Maria Ribeiro de Mello, Mauro Celso Zanus e a analista Bruna Carla Agustini. Enfim, um trabalho de padrão internacional.
Segundo o Epagri, “O livro está dividido em 12 capítulos que trazem um panorama da primeira década da vitivinicultura de altitude (2009 a 2019) e do processo de delimitação da região produtora, Apresentam a caracterização climática, dos solos, das paisagens naturais e dos principais aspectos socioeconômicos da região produtora que a diferenciam das demais que produzem vinhos finos no Brasil; descrevem o padrão de desenvolvimento da videira em função das peculiaridades climáticas e paisagísticas da região de altitude; apresentam as principais variedades de videiras e o potencial enológico para a região; expõem as leveduras utilizadas na transformação do mosto em vinho como partes fundamentais da qualidade final dos vinhos de altitude.
O livro também exibe os aspectos físico-químicos e sensoriais que representam a qualidade dos vinhos finos de altitude de SC e os elementos do caderno de especificações técnicas e do sistema de controle para a estruturação da indicação de procedência vinhos finos de altitude de SC, que são os principais instrumentos regulatórios para a garantia da qualidade dos vinhos de IG.” Meu caro leitor ou leitora, em resumo, é um trabalho com visão 360 graus.
Conversei com Humberto Conti, presidente da Vinícola Villaggio Conti. Conheço alguns dos vinhos de uvas italianas da Conti e são mesmo excepcionais, e Humberto sabe o que fala: é engenheiro de alimentos pela UNICAMP, Pós-graduado em ciência de alimentos pela Universidade de Milão, Mestre em ciência e tecnologia de alimentos pela UFC e com MBA em gestão estratégica da inovação tecnológica pela Unicamp. Conti é o atual Presidente da Associação Vinhos de Altitude – Produtores Associados de Santa Catarina e foi pesquisador científico e executivo da Souza Cruz por 3 anos na Inglaterra. Veja o que ele me disse:
Rogerio Ruschel – Qual a importância que este estudo tem para a região, produtores e para a IG? Como ele pode ajudar a Associação dos Produtores?
Humberto Conti – “O estudo foi parte dos trabalhos para a submissão ao INPI para obter a nossa IP. Uma IP cria uma identidade em função das caraterísticas únicas que temos em nosso território, na forma que conduzimos nossos vinhedos e as castas vitiviniferas que usamos em nossos vinhos. Seguindo as normas de procedimento e conduta valorizamos nossos produtos e asseguramos qualidade em todos os produtos que conseguem o selo IP.
Rogerio Ruschel – Dentre os vários elementos do terroir identificados no estudo, quais os que você considera os que são fundamentais para a identidade da região – clima, solo, temperatura, variedades, leveduras?
Humberto Conti – O que diferencia de forma mais marcante a nossa região é a altitude. Os vinhedos estão localizados entre 840 e 1400 msnm. A altitude propicia uma maturação mais lenta e um ciclo mais longo devido à amplitude térmica, o que resulta em vinhos mais equilibrados. (Amplitude térmica, meu caro leitor, é a diferença entre as temperaturas máxima e mínima em um dia).
Rogerio Ruschel – Ao que parece as uvas de origem italiana tem um melhor potencial para a IG do que uvas de origem francesa. Isso é verdade? Isso já pode ser percebido no mercado?
Humberto Conti – As castas italianas tem se destacado aqui e em diferentes regiões do Brasil nas últimas décadas, afinal a vitivinicultura de qualidade no Brasil tem somente 30 anos. Não se plantava e não se testava uvas italianas, os primeiros empreendimentos foram em castas internacionais francesas, o mesmo ocorreu em nosso terroir, algumas com muito sucesso como a Sauvignon Blanc que é um ícone nos vinhos brancos da região, por essa razão e por ser um terroir novo com muito a ser explorado é cedo para definir as castas que melhor se expressam por aqui. Na submissão ao INPI deixamos em aberto, com todas as castas que cultivamos por acharmos que não é o momento para amarras.”
O livro é grátis e está aqui: http://sistemas.epagri.sc.gov.br/semob/consulta.action?subFuncao=consultaPublicacoesDetalhe&cdDoc=47709
Saiba mais aqui: http://www.invinoviajas.com/2019/02/convite-comunitario/
Saiba mais aqui: https://invinoviajas.blogspot.com/2020/01/conheca-villagio-conti-o-milagre-do.html
Fotos de Luiz Fernando de Novaes Vianna