No teto do trem, no topo dos Andes: uma viagem maluca no Equador

Tempo de leitura: 5 minutos

Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado leitor ou leitora, o Equador é um país pequeno, mas surpreendente, com muitos atrativos turísticos baseados em rica herança arqueológica, arquitetura histórica, atrativos urbanos, parques naturais, vulcões,  cultura típica tradicional, o tesouro do arquipélago de Galápagos – e estradas de ferro sensacionais.
Ingapirca, um “mini-Cuzco” no Peru
Como parte do Equador fica no litoral do Oceano Pacífico (como a capital econômica e super-porto, Guayaquil) e a outra parte está no alto da Cordilheira dos Andes (inclusive a capital, Quito), chegando a mais de 6.100 metros no pico mais elevado, a linha férrea Ferrocarril Transandino Nacional se tornou uma espécie de símbolo da unidade nacional ao ligar as duas partes do país separadas por grandes montanhas de difícil superação.
Cotopaxi, o vulcão mais alto do mundo em atividade
Primeira obra modernizadora do Equador, a estrada de ferro que une o litoral com a serra equatoriana é considerada até hoje a de construção mais dificil e uma das mais perigosas viagens de trem do mundo – e, acredite, caro leitor, até 2010 as pessoas podiam viajar no teto dos trens, literalmente no teto do mundo.
Olhe bem na foto acima: centenas de jovens aboletados no teto do trem
Em 2009 um acidente pavoroso com dezenas de mortos (o terceiro ou quarto na história da ferrovia) fez o governo suspender as viagens no teto do trem, mas mesmo sem isto, a viagem ainda está no livro “1.000 coisas para fazer antes de morrer.” Com novos investimentos em segurança, atualmente a linha liga Alausi até Riobamba, passando por Guamote e pelo famoso Nariz do Diabo, para chegar à capital, Quito. Pois em 2005 eu fiz esta viagem – e no teto do trem – veja a foto abaixo.
A construção foi iniciada em 1861 e os primeiros 91 quilometros foram inaugurados em 1873, ligando Yaguachi a Milagro, ainda ao longo da costa. Cerca de 4.000 operários morrreram durante a construção (muitos deles trabalhadores jamaicanos trazidos pela empresa de engenharia norte-americana) a maioria de malária, mas muitos despencando Andes abaixo; no quilometro 106 no povoado de Naranjapato foi construido um cemitério para os mais de 150 trabalhadores que morreram só para poder construir o trecho do Nariz do Diabo.
Fiz o roteiro de Guayaquil até Alausi em outro trem, o Chiva Express, criado pela Metropolitan, a maior agencia de turismo do Equador, para receptivo de turistas internacionais. Similar ao Transandino, mas mais confortável, o Chiva Express é um vagão compropulsão própria a diesel e faz paradas em parques ecológicos e estações menores com algum valor turístico ou para refeições, como em Machicho – mas isto voce vai ver aqui no In Vino Viajas, em outro post.
Chiva Express: uma tentativa de viajar no teto do mundo de maneira menos perigosa – mas mais sem graça, creio eu…

 

Como integrante de um grupo de jornalistas convidados pelo Ministério do Turismo do Equador, nosso programa incluia uma visita a Ingapirca – um sitio arqueológico muito interessante, um “mini-cuzco”, que voce tambem vai ver aqui em outro post.

O embarque em Alausi

Alausi é uma pequena cidade em média altitude (uns 2.300 metros, o que é médio para o Equador), geralmente utilizada como ponto de embarque do trem que vai fazer a famosa Rota do Nariz do Diabo, o trecho do Transandino mais perigoso e desejado por turistas, inaugurado em 1901. Cidade simples, sem muitos atrativos, Alausi pode ser um bom local para fotografar famílias de equatorianos, especialmente agricultores com suas roupas coloridas – como as das fotos – e comprar recuerdos que serão úteis como toucas de lã e malhas mais quentes para encarar o frio andino…
Quando o trem encosta em Alausi, centenas de pessoas – especialmente jovens aventureiros falando idiomas estranhos – se aboletam no trem, tentando ocupar as janelas do lado direito, as que permitem uma visão melhor do assustador trecho até Riobamba, incluindo a passagem do Nariz do Diabo. Até 2 anos atrás, a correria era para ocupar o teto do trem, como você pode ver nestas fotos de 2005.
O Nariz do Diabo é uma rocha perpendicular pendurada na montanha a 1.900 metros do nível do mar, em uma região da Cordilheira dos Andes com o sugestivo apelido de Ninho do Condor. Para permitir que o trem pudesse descer (ou subir) por esta pedra perpendicular, foram construídas estruturas de aço literalmente enfiadas na montanha com bandejas suportando trilhos. O trem anda para a frente vagarosamente, para, um ou dois funcionários descem e controlam uma uma ré por um trilho auxiliar para pegar outro trilho e descer mais um pedaço, repetindo este ziguezague por cerca de 2 quilometros, dos quais 800 metros fica literalmente pendurado no espaço.
Funcionários verificam os trilhos antes de chegar no Nariz do Diabo

A viagem é lenta e cuidadosa, e dura cerca de 2 horas e meia. Para meu azar – e agora dos meus leitores – o trecho mais delicado e bonito do Nariz do Diabo estava coberto por neblina quando paqssei por lá – alias, o que acontece quase sempre, porque os Andes mantém vários picos com neves e nuvens eternas.

Um brinde a isso com uma taça do vinho local produzido com a uva Nacional Branca, tomado em um restaurante em Alausi, enquanto esperamos o trem da morte!
(*) Rogério Ruschel é jornalista e consultor especializado em sustentabilidade e esteve no Equador a convite do Ministério do Turismo daquele país.

 

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