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Por Rogerio Ruschel (*)
Marcel Miwa, do suplemento Paladar do jornal O Estado de São Paulo, informou esta semana que “o britânico Steven Spurrier (fotos acima e abaixo) aceitou convite do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) para conduzir uma degustação em que espumantes brasileiros vão enfrentar, às cegas, espumantes produzidos em diferentes países. A prova está marcada para 25 de abril, uma sexta-feira, em São Paulo, logo após a Expovinis. Os vinhos serão avaliados por cem especialistas, numa grande degustação às cegas, em que os degustadores não sabem quais são os vinhos.”
Miwa continua: “A degustação já está sendo chamada de Julgamento de São Paulo, em referência ao Julgamento de Paris, célebre degustação que colocou os vinhos californianos no cenário mundial, em 1976. Na prova às cegas, idealizada e conduzida por Steven Spurrier, brancos e tintos da Califórnia enfrentaram grandes Bordeaux e Borgonhas e, em alguns casos, foram avaliados como superiores. Detalhe: apenas um dos degustadores não era europeu.“ Na foto abaixo Spurrier com duas jornalistas no dia da prova, em maio de 1976.
No evento, o vinho branco californiano tinto Chateau Montelena (acima, à esquerda) ficou vários pontos acima dos franceses e o vinho tinto Stags’Leap (à direita) ganhou dos franceses por meio ponto; Spurrier interpretou isso porque “como era um vinho jovem e fresco, o Stag’s Leap foi considerado frances pelos julgadores”. Veja abaixo cena do filme e mais abaixo ainda uma pintura de Gary Myat da mesma cena, com o nome das pessoas.
A história – que praticamente colocou os vinhos norte-americanos no mercado mundial – se tornou um livro de sucesso no mercado dos vinhos e virou filme (veja cenas acima e foto do poster brasileiro do filme, abaixo). Informa Marcel Miwaque “Ao idealizar a prova, o objetivo do Ibravin é conquistar espaço para o espumante brasileiro e projetá-lo com destaque entre os rótulos do Novo Mundo, segundo afirma o gerente de promoção para o mercado interno do Ibravin, Diego Bertolini, para o Paladar.” In Vino Viajas procurou, mas o Ibravin não confirma a informação em seu site, nem respondeu a e-mails.
O Julgamento de Paris foi realizado novamente em 2006 simultaneamente em dois painéis, em Londres e na Califórnia, com nove juizes de altissimo padrão – e os resultados continuaram bem similares aos de 1976. Steven hoje é um consultor de vinhos na Decanter, escreve sobre vinhos e se diverte como produtor no Spurrier’s Bride Valley Vineyard, na região ingles de Dorset (foto abaixo).
Eu creio que foi uma boa idéia e que os espumantes brasileiros podem se sair bem nesta prova. Mas só por curiosidade, fique sabendo que por causa do resultado do Julgamento de Paris, Steven sofreu perseguições por cerca de dois anos e foi acusado de ter fraudado as notas pela jornalista Odette Kahn, na época badalada editora da Revue du Vinde France, a mais importante do mundo. Spurrier disse em uma entrevista a um jornal britânico no ano passado que “Odette Kahnficou bastante chateada com o resultado. Ela percebeu a importânciadramática dps resultados e exigiusuas notas de volta. Recusei-me a entregar, porisso ela foi embora num acesso de raiva e imediatamente escreveu um artigo dizendo que a votação tinha sido fraudada.Ela não podia ser vista como uma pessoa que foi a uma festa de degustação onde vinhos da Califórnia ficaram à frente defranceses – eventualmente com o voto dela…”
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e aposta na qualidade dos espumantes brasileiros.
Assunto atualizado em 28 de abril de 2014, com texto de Didu Russo
Didu Russo participou da “degustação às cegas” e fala sobre o que assistiu.
Veja a seguir o que Didu Russo, um dos sommelier brasileiros mais respeitados e certamente o que tem a opinião mais independente, escreveu no seu blog sobre a degustação às cegas com Steven Spurrier, realizada dia 25 de abril, durante a Expovinis 2014.
“Eu fui e vou dizer o que acho.
Por Didu Russo (*)
Estive no Evento Panorama dos Espumantes do Hemisfério Sul e “Secondo Me” não foi bom para os Espumantes brasileiros. Antes das críticas quero lembrar aos leitores, que sempre defendi os vinhos brasileiros, quem acompanha minha trajetória sabe bem disso, mas todos sabem também que não posso deixar criticar o que considero merece ser repensado. A crítica neste caso é construtiva, pois acredito que temos muito a oferecer.
Primeiro quero elogiar o que gostei. Gostei por exemplo de ver a Andreia Gentilini Milan, que o Ibravin teve a decência de convidar, afinal o evento fazia parte de sua gestão e estava apoiado em sua tese de mestrado. Gostei de ver o Steven Spurrier avaliando, comentando e elogiando alguns espumantes brasileiros, até pedi que o Mauricio Tagliari me fotografasse com Mr Spurrier, o homem merece respeito pelo que fez e faz. além de ser educado, sério, elegante. Gosto de gente assim.
Gostei da temperatura de serviço dos Espumantes e da qualidade desse serviço também. Longe da competência do serviço da Avaliação Nacional, mas bom.
Gostei de ver os diversos jurados falando de cada espumante, ficava bem claro a competência ou não, de cada um deles, a sinceridade ou não, de cada um deles, e a postura de cada um deles. Gostei de ver diversidade de opiniões e firmeza entre alguns desses jurados que considero pela competência.
Gostei também do espaço e do ar condicionado. Parou por aí o que gostei pois acho que o evento foi prematuro, não fez bem ao espumante brasileiro e teve algumas deselegâncias que não contribuíram em nada, ao contrário.
Vamos aos pontos:
1. Eu e todos os outros convidados, de maior estatura que eu, fomos convidados como avaliadores e recebemos crachás de VIP, porém éramos uma platéia degustadora, nossas opiniões ou avaliações não foram consideradas e nem ouvidas. Foi grosseiro isso.
2. O juri que avaliou os espumantes ficou em outra sala (Para que isso?, ficou pedante e presunçoso), com transmissão ao vivo para nós que de avaliadores convidados pelo Ibravin passamos a platéia degustadora sem direito a palpite.
3. O juri foi escolhido com o objetivo claramente promocional, pois tinha gente de todas as revista lá só faltou a Gosto. Nada contra, mas ficou deselegante primeiro ignorar outras mídias, inclusive mais fortes e mais rápidas.
O que você está lendo agora por exemplo, vai esperar uns 40 dias para ler em uma revista. Sorry são os tempos modernos… Depois havia no grupo da platéia ao menos umas vinte pessoas de competência bastante superior a grande parte dos “escolhidos”. Cito apenas cinco nomes aboslutamente incontestes:
- José Luiz Giorgi Pagliari
- Silvia Mascela Rosa
- José Maria Santana
- Philippe Mevel
- Carlos Abarzua
4. Cada avaliador dos “escolhidos” proferiam ao final de cada uma das baterias suas tres amostras preferidas. Mas nós que nos tornamos platéia não fomos considerados, nem ouvidos. Nem por mera curiosidade.
5. O apresentador oficial do evento não era do setor e por conta disso cometeu gafes, errou nomes, coisas desnecessárias. Produziu uma pompa que não cabia, não se usa mais há anos.
6. As amostras foram servidas sabendo-se de que País eram. Por tanto não se sabia as marcas mas a origem delas. Não gostei. Por que isso? Foi preconceituoso.
7. Foram separados os espumantes do método Charmat e do Tradicional, que erradamente foi chamado o tempo todo de Champenoise. Por que? O consumidor sabe a diferença?
8. Ninguém sabia exatamente qual o critério de seleção das amostras. Ouvi diversas versões e a oficial (acredito) do Diego Bertolini dava conta de que os espumantes teriam sido selecionados entre listas de espumantes já consagrados com menção ou prêmio em publicações do setor. Dessa lista o Jorge Lucki teria selecionado os Charmat e o Steven Spurrier as do método tradicional.
9. Foram selecionadas tres amostras brasileiras (isso mesmo 3 amostras) diante de tres argentinas, tres chilenas 1 da Nova Zelandia, 1 Sul Africana e 1 Australiana. Por conta de qual raciocínio se chegou a essa proporcionalidade de amostras?
10. O resultado do painel Charmat teve como espumante preferido do juri dos “escolhidos” (ou seja o mais citado entre os tres preferidos de cada um), um espumante da Nova Zelândia. Ou seja 1 X 0 para a Nova Zelândia contra o Brasil. Para que isso?!…
11. No painel dos espumantes pelo método tradicional ganhou por 1 voto de diferença um espumante brasileiro, que obteve a preferência de 9 jurados contra 8 de outro da Nova Zelândia. Ufa!!… 1 X 1 Nova Zelândia e Brasil… como disse o Spurrier: “Ainda bem que eles não são bons nem no futebol e nem no marketing de seus espumantes…”
12. Não se sabia o preço ao consumidor de nenhum dos espumantes.
13. O que os “outros” avaliadores que se transformaram em espectadores preferiram nunca saberás…
A principal conclusão desse evento para mim foi mostrar que a Nova Zelandia faz excelentes espumantes que rivalizam com os nossos. Isso com toda a imprensa do vinho brasileiro lá! E nosso espumante é líder absoluto no mercado interno. Pra que levantar essa bola gente?!
O que eu acho:
Se eu trouxesse aquí o Steven Spurrier, o Patricio Tapia e o Dirceu Viana que são craques e que podem repercutir a qualidade de nossos espumantes lá fora, eu não preciso de juri daqui. Não preciso colocar nossos espumantes em comparação com nenhum outro, mas mostrar o que temos.
Eu faria um painel com os cinco espumantes mais vendidos, charmat ou não, os dez espumantes mais premiados ou citados na imprensa brasileira e alguns espumantes alternativos que mostrem caminhos ousados. Sirvo-os às cegas e então pergunto a eles:
- O que acham?
- São bons?
- Têm personalidade?
- O que falta?
- Que caminho seria ideal seguir para exportar?
O que fizemos, secondo me, não ajudou em nada e não foi nem de perto representativo do que temos (posso citar de cabeça facilmente uns trinta espumantes que deveriam estar alí), inclusive o Marcus James Brut que custa R$ 20,00 e que sempre leva a melhor às cegas…
Pusemos poucos de nossos espumantes em comparação com produtos absolutamente irrelevantes em nosso mercado. Gente, existe um cara chamado consumidor, lembram-se? Aliás ele é a única saída para todos vocês.”
(*) Didú Russo, que já fez mais de 200 palestras pelo Brasil, escreve sobre o vinhos desde 1992 é hoje vice-presidente da Confraria dos Sommeliers, colaborador da Revista 29horas, do Jornal Vinho & Cia, da Prazeres da Mesa onde cobre todas as degustações da Confraria dos Sommeliers, da Revista FECOMERCIO e do Corriere Vinicolo de Milão. Didú é coordenador do Comitê do Vinho FECOMERCIO, Editor do informativo What’s Up e Diretor e Apresentador do programa de entrevistas CELEBRE ! além de ser autor de dois livros “Nem Leigo, Nem Expert” em versão impressa e em áudio-livro e do “Vinho para o sucesso Profissional”.
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Rogerio, bacana a iniciativa.
Vi o filme e li o livro, que alias é bem melhor que o filme, e realmente foi um marco na história dos vinhos da Califórnia.
Nao sei qual a proposta do Ibravin, se realmente quer comparar os espumantes brasileiros (muitos excelentes alias) com champagnes, etc, ou se é um meio apenas de promoção, para que o mundo saiba o que produzimos.
No Julgamento de Paris, Steven Spurrier nao queria comparar os vinhos, mas apenas apresentá-los aos críticos franceses.
Grande abraço,
Alessandra Esteves
http://www.damadovinho.com.br
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Obrigado pelo prestigio, Alessandra. Espero que o tiro do Ibravin não seia pela culatra…
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Creio que a ideia de comparar é boa como forma de eliminar preconceitos que, aliás, transbordam aqui no país da copa e dos doutores em vinho. Bebemos geografia e cada localização tem coisas boas e ruins a nos oferecer.
Tem champagnes e champagnes, bordeaux e bordeaux, sendo que estes genéricos de baixíssima e ridícula qualidade inundam a oferta pelas loja virtuais de picaretas que assolam a internet, e por ai vai..
O bRasil tem ótimos produtores de espumantes e tive a felicidade de ver um deles escolhido aqui na loja; Monte Azzurro Extra Brut 2007 com 48 meses de segunda fermentação na garrafa, obtido das uvas Chardonnay e pinot noir, ficar em segundo lugar entre10 Champgnes, ou seja: a frente de nove em um prova privada as cegas organizada por clientes..Mas vinho não tem campeão…tem momentos..
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Concordo em genero, número e grau com você, Nilson. Tá cheio de bebida de segunda classe na internet e nas importadoras de aproveitamento. E temos ótimos vinhos aqui, não só espumantes, mas também tintos, brancos e alguns orgânicos. Pessoalmente acredito que os consumidores não têm fidelidade com marcas de vinhos como em outros segmentos de consumo (até porque é dificil achar o mesmo vinho de novo) e sim, um permanente estado de pesquisa e descoberta ded novas marcas, Se gostou, pode recomendar e até repetir, mas não vai deixar de comprar outra marca. Grato pelo prestigio
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Bela iniciativa! a SBAV/RS promoveu atividade semelhante em 2013, para 30 convidados. Eram duas garrafas de cada produto: Roederer Cristal, Krug Grande Cuvée, Dom Perignon; e Valduga 130, Geisse Terroir, Adolfo Lona, e Estrelas do Brasil. Às cegas, e fichas técnicas de degustação. No cômputo geral, as francesas tiveram melhor pontuação, tecnicamente empatadas em torno de 92-93 pontos; as nacionais foram lideradas pela 130, com pontuação próxima das francesas; as outras também foram bem pontuadas. Pretendemos repetir o evento em 2014.
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É mesmo uma boa iniciativa, Jorge. Não fiquei sabendo, mas se soubesse ajudaria a divulgar. Agora nesse caso a visibilidade pode ser internacional e desejo boa sorte para nossos vihos. Grato pela visita. Abs