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Por Rogerio Ruschel (*)
EXCLUSIVO – Largo da Alegria, Arcozelo, Depois da Ponte: meu caríssimo leitor ou leitora, este é o endereço do mais importante museu de brinquedos de Portugal, na simpaticíssima cidade de Ponte de Lima, no norte do país. Estive lá e enquanto caminhava pelos corredores vivi momentos de forte emoção, revivi memórias de menino e me senti mesmo no Largo da Alegria, com vontade de bater no tamborzinho da foto acima, que me lembrou um brinquedo que eu tinha quando pequeno…
O Museu do Brinquedo Português está instalado em uma propriedade arquitetônica de valor histórico em dois andares com amplas estantes, vitrines e displays, em uma área anexa onde está montada uma cidade em miniatura e um belo jardim – aliás, os jardins em Ponte de Lima são muito bem cuidados. A exposição apresenta por ordem cronológica brinquedos portugueses feitos de maneira industrial com madeira, laminados, ferro, aço, zinco, tecido, plástico, massas e outros materiais.
Todas as peças foram produzidos entre o final do século XIX até 1986 – quando o país entrou na Comunidade Econômica Européia e a indústria de brinquedos de Portugal simplesmente desapareceu, engolida pela globalização.
O museu abriu as portas em junho de 2012 e caiu no gosto dos portugueses, atraindo cerca de 20.000 visitantes por ano. Quem me recebeu e guiou no Museu foi Sandra Rodrigues, responsável pelos museus do município de Ponte de Lima, que concedeu uma entrevista com exclusividade para os leitores de In Vino Viajas. Veja a seguir; ao longo da entrevista você vai conhecer parte do acervo exposto.
Em 24 de setembro de 2015 recebi a seguinte mensagem de Carlos Rocha: “Para além do Museu do Brinquedo de Ponte de Lima, Portugal tem o Museu do Brinquedo de Seia, o Brinquedo de (a)brincar de Arronches, o Museu da Boneca, o Museu do Brinquedo da Madeira e o MUSEU do BRINCAR de qual sou CEO”. Obrigado Carlos
R. Ruschel – Como, quando e porque foi criado o Museu do Brinquedo?
Sandra Rodrigues – No dia 01 de Julho de 2007 o Município de Ponte de Lima, o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e o Comité Português para a UNICEF assinaram um protocolo de cooperação para o desenvolvimento do Programa para a Promoção de Cidades Amigas das Crianças.
Um dos projetos era precisamente a criação de um museu que contribuísse para a investigação e promoção do desenvolvimento integral das crianças. Na sequência o Município fez um protocolo com o colecionador Carlos Anjos pagando um valor anual durante 15 anos para expor o acervo. Em simultâneo vai criando a sua própria coleção e estabelecendo parcerias.
R. Ruschel – Quantas peças e quais as caracteristicas do acervo?
Sandra Rodrigues– Na exposição permanente estão 2.626 peças; nas reservas do colecionador com quem temos o protocolo ainda não terminámos o inventário, por isso só temos uma estimativa de que ultrapassarão as 10 000. No acervo que já foi doado ao Museu ultrapassamos as 1.100 peças. Sobre características: o acervo é constituído maioritariamente por brinquedos industrializados, apesar de também existirem livros infantis, jogos, material escolar e outros acessórios associados à vida infantil.
R. Ruschel – Quais as matérias-primas utilizadas?
Sandra Rodrigues – Inicialmente os brinquedos eram feitos de madeira, folha de flandres, chumbo, pasta de papel, ferro, mas a partir da década de 30 do século XX entram as matérias plásticas como o celuloide e mais tarde outros tipos de plásticos. O plástico não eliminou as matérias-primas iniciais, mas foi tomando um lugar muito forte pois era fácil de moldar, não era perigoso como a folha de flandres e tinha cores mais atrativas…
R. Ruschel – É possivel identificar fases ou estilos dos brinquedos expostos?
Sandra Rodrigues – Sim, é semelhante a toda a Europa, claro que aqui em Portugal sempre um bocadinho mais tarde, porque a Revolução Industrial chegou bem mais tarde. No entanto é possível ir analisando os estilos ao longo das décadas, não apenas pela matéria prima, antes pelos acontecimentos históricos. Passo a exemplificar: nos finais do século XIX até à primeira guerra mundial encontramos miniaturas para que as crianças “fossem educadas” com os seus próprios brinquedos, ou seja miniaturas de objetos do quotidiano das senhoras de casa para educar as meninas a serem boas donas de casa e boas mães.
Entre as duas grandes guerras surgem os brinquedos de menino de cariz bélico; é a “arte da Guerra”. Quando chegamos à época do plástico ainda Portugal era colonizador e até 1975 teve um mercado muito grande para escoar os seus produtos. Nesta altura existiam as bonecas de pele escura, os jeeps e os camiões similares aos do quotidiano dos adultos. O estilo artístico dos brinquedos está sempre associado à história diária dos adultos, pois os objetos dos pequeninos são pura mimese do quotidiano.
R. Ruschel – É possivel fazer um paralelo com os brinquedos de outros paises europeus?
Sandra Rodrigues – No museu temos uma sala que faz precisamente essa comparação. Como já disse, a Revolução Industrial chegou a Portugal muito mais tarde, a ruralidade do nosso país não permitiu o desenvolvimento desta indústria e assistimos a uma evolução tecnológica muito lenta. Copiavam-se modelos, mesmo desconhecendo as técnicas. Só a partir dos anos 30 do século XX temos alguma competitividade na Europa, particularmente porque a mão-de-obra em Portugal era mais barata e por isso algumas marcas estrangeiras encomendavam os seus brinquedos a empresas portuguesas, como por exemplo a Schleich, a famosa marca alemã que tinha a patente dos Estrunfes, agora conhecidos como Smurfs….” . Nas fotos abaixo veja aspectos de uma das atrações: uma cidade em miniatura que ocupa uma grande área anexa no jardim e é técnicamente perfeita nos detalhes.
Sandra Rodrigues (na foto acima especial para In Vino Viajas com alguns de seus brinquedos de infância) é formada em História e Pós-graduada em Museologia pela Universidade do Porto. Atualmente é responsável pelos museus da cidade de Ponte de Lima (o Museu dos Terceiros e o Museu do Brinquedo Português) e está implantando o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde e do Território.
(*) Rogerio Ruschel (na foto acima sem seus brinquedos) é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, e leva o jornalismo a sério – mesmo quando tem que escrever sobre brincadeiras de criança
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Fantástico! Nada como os brinquedos para mexerem com a nossa infância! Abraço
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Melhor ainda quando tem pessoas qualificadas e atenciosas que organizam estes brinquedos para que os visitantes possa reviver as emoções da infancia!
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Caro Rogério Ruschel:
Fiquei feliz por dar a conhecer património português para além fronteiras, especialmente o do brinquedo. No entanto julgo importante retificar algumas informações.
Na realidade em Portugal existem vários museu do brinquedo, sendo o de Ponte de Lima provavelmente o último a surgir e o Museu do Brinquedo de Sintra o 1º a surgir em Portugal e o primeiro a desapaparecer para tristeza de todos.
Para além do Museu do Brinquedo de Ponte de Lima, tem o Museu do Brinquedo de Seia, o Brinquedo de (a)brincar de Arronches, o Museu da Boneca, o Museu do Brinquedo da Madeira e o MUSEU do BRINCAR de qual faço parte.
Espero não estar a cometer nenhum erro ao omitir algum outro museu dedicado ao brinquedo.
Na reralidade todos são dignos de serem visitados, apresentando cada um algumas características diferentes.
Lembra-se no seu artigo de dizer que "revivi memórias de menino e me senti mesmo no Largo da Alegria, com vontade de bater no tamborzinho da foto acima, que me lembrou um brinquedo que eu tinha quando pequeno…"
Pois no MUSEU do BRINCAR situado em Vagos | PORTUGAL, pode brincar e recordar agindo, os seus brincares de infância.
Por poder agir sobre os brinquedos lhe chamamos museu do Brincar e não do brinquedo,, apesar do riquíssimo espólio que possuímos.
Convido-o a visitar-nos quando voltar a Portugal.
Até lá poderá visitar o nosso site em:
http://www.museudobrincar.com
NOTA-Não se esqueça também de visitar os outros museus que lhe referi.
Um abraço,
Carlos Rocha
Chairman do MDB
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Estimad Carlos Rocha, agradeço muitissimo sua mensagem que corrige minha matéria e enriquece a cultura dos meus leitores nos 126 países – muitos não lêem português mas entendem a emoção.
Quando pesquisei o assunto soube apenas do Museu de Sintra que tinha fechado, mas agora temos uma visão ampliada das possibilidades de reviver os melhores momentos da vida.
Agradeço o convite e quando estiver em Portugal vou até o Museu do Brincar para … brincar.
Muito obrigado pelo prestigio de sua leitura
Um grande abraço.
Rogerio Ruschel
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Fantástico! Clap! Clap! Clap!
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Obrigado, Rute. Vamos csurtir nossa infância! Abs Rogerio
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