Respeitando a natureza: 50% dos vinhos de Bordeaux, França, já são produzidos com práticas mais sustentáveis

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Por Rogerio Ruschel (*)

Meu estimado leitor ou leitora, tenho boas notícias ambientais. O Conselho Interprofissional dos Vinhos de Bordeaux (CIVB) – sem ennhuma dúvida o mais importante do mundo – apresentou, na sua conferência de imprensa anual, em março de 2017, um relatório atualizado sobre as medidas que vem sendo tomadas para a viticultura sustentável. O CIVB vem liderando um processo de aprimoramento de gestão ambiental dos vitivinicultores associados que entre outros indicadores hoje fornece um atlas para alertar os produtores de vinho sobre a proximidade de áreas sensíveis nas comunidades como creches, escolas, lares de idosos e ambientes em situação de risco. Atualmente 55% dos vinhedos de Bordeaux estão comprometidos com uma abordagem ambiental (produzindo de maneira biológica, integrada ou racional), e a meta é a integração de 100% da vinha com o processo industrial. Na foto abaixo um vinhedo em Saint Emilion.

O programa de sustentabilidade da CIVB começou formalmente com a criação em 2010 de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que vem facilitando o intercâmbio de boas práticas ambientais entre as empresas dentro de grupos de trabalho. 680 produtores estão atualmente envolvidos neste processo (eram 28 no lançamento em 2010), o que corresponde a 50% do volume de vinhos produzidos e 18% da área plantada em Bordeaux. Destes 680, 145 deles já foram certificadas pela ISO 14001.

O Conselho Interprofissional dos Vinhos de Bordeaux realiza uma pesquisa permanente, com orçamento de vários milhões de euros, para identificar práticas e ferramentas que possam ser aplicadas de maneira mais generalizada no futuro. O trabalho é orientado sobre temas diversos. A luta contra doenças e pragas da uva é um dos focos e o desenvolvimento de processos para gerar confusão sexual nos insetos e assim eles não se reproduzirem é um deles – In Vino Viajas já reportou em uma matéria sobre a Quinta do Seixo, no Douro, Portugal, este processo, veja aqui: http://migre.me/wkuG8

   Acima, foto que fiz de um vinhedo da Alsácia, que já utiliza práticas mais sustentáveis. Aliás, outra vinícola de Portugal, a Herdade do Esporão, realiza desde 2011 um projeto que oferece “casa e comida” para morcegos que comem insetos que poderiam atacar os vinhedos – veja aqui: http://migre.me/wkuGM Na África do Sul, uma vinícola utiliza centenas de patos para comer insetos e adubar os vinhedos – veja na foto abaixo e aqui: http://www.invinoviajas.com/2016/05/patos-adubadores-morcegos-protetores-e/

Os planos para acelerar a redução do uso de pesticidas refletem a consciência dos produtores e das autoridades públicas, mas principalmente atende as solicitações de uma geração mais exigente dos novos consumidores. Busca-se a redução da pegada ambiental global da viticultura, e o Plano Climático 2020 do CIVB define metas agressivas como redução de 20% produtos que produzam gases de efeito estufa, redução do consumo de energia e água utilizadas, e em paralelo, a criação de sistemas de produção de energia renovável que devem aumentar em pelo menos 20%.

Os primeiros efeitos do plano de Bordeaux já estão sendo sentidos. A pegada de carbono do setor medida em 2013 (770.000 toneladas de CO2 equivalente) indica uma redução de 9% em comparação com a pegada de carbono em 2008 (840.000 toneladas), números encorajadores que devem mobilizar o prosseguimento dos esforços e investimentos. São ótimas noticias, mas até pouco tempo atrás isso não era tão praticado na França e a historia de Emmanuel Giboulot, produtor de vinhos orgânicos na Borgonha, que quase foi preso por ter se recusado a aplicar um pesticida perigoso, é bastante reveladora. Veja aqui: http://www.invinoviajas.com/2014/02/viticultor-da-borgonha-pode-ser-preso/

A Espanha realiza um projeto chamado “ Viñas por calor”, nascido em Vilafranca de Penedés no contexto da “Estrategia Española del Cambio Climático y Energía Limpia”, que vem reunindo esforços na busca da geração energética auto-sustentável da própria vinha.

(*) Por Rogerio Ruschel, editor e consultor em sustentabilidade socioambeintal

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