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Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitore ou leitora, segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o município de Feijó, no Acre, é a primeira localidade a receber uma Indicação Geográfica de um produto do bioma amazônico, o Açai de Feijó. Tenho lá minhas dúvidas, porque em dezembro de 2020 a Terra Indígena Andirá-Marau, com 8.000 Km2, localizada na divisa dos estados do Amazonas e do Pará, conquistou a primeira Indicação Geográfica (IG) de Origem concedida a dois produtos locais: o waraná (guaraná nativo) e o pão de waraná (bastão de guaraná). Anunciada como a primeira IG de um povo indígena brasileiro, o waraná na verdade certifica uma origem, a Terra Indígena Andirá-Marau, e não uma comunidade – da mesma forma que o município de Feijó, no Acre.
De qualquer maneira essa é uma ótima notícia: o Brasil aumenta a cada dia a proteção sobre seus produtos típicos, excusivos e identitários.
O reconhecimento do Açai de Feijó, publicado na Revista da Propriedade Industrial (RPI) nº 2.749, de 12 de setembro de 2023, pretende beneficiar as pessoas que extraem e produzem o açaí nesta localidade acreana. Com esse reconhecimento, o INPI chega a 116 Indicações Geográficas, sendo 83 Indicações de Procedência (todas nacionais) e 33 Denominações de Origem (24 nacionais e 9 estrangeiras). O pedido foi encaminhado pela Cooperativa de Produtores, Coletores e Batedores de Açaí de Feijó com o apoio do Sebrae, em 2021.
Sobre o Açai de Feijó
O açaí (Euterpe precatoria) é um produto nativo das várzeas da Amazônia, cujos açaizeiros possuem a genética intrínseca da região. Podem (e devem) existir diferenças entre açaizeiros do Amapá e do Acre, do Sul e do Norte da Amazônia, mas ainda não foram consideradas relevantes para uma IG. No caso de Feijó, os açaizeiros são cultivados de acordo com as técnicas tradicionais da localidade, em conjunto com as boas práticas agrícolas e ações mitigadoras de impactos ambientais, visando à sustentabilidade.
O açaí somente poderá ser colhido maduro. Embora outras formas mais atuais de extração também sejam praticadas, pelo método tradicional o coletor usa o próprio corpo para escalar o açaizeiro e retirar os cachos do fruto. Para isso, ele utiliza a peçonha, um utensílio amazônico similar a um cinto, empregado na escalada de árvores e comumente fabricado a partir de fibras naturais.
Os frutos devem ser beneficiados no máximo 24 horas após a coleta. Desta forma, o produto, transformado em polpa, possui um sabor típico, doce por natureza, de espessura mais grossa e coloração arroxeada bastante concentrada.
A fama do açai de Feijó
De acordo com a documentação apresentada ao INPI, o açaí cultivado e extraído do município de Feijó é muito utilizado na produção de alimentos e bebidas, sendo atualmente o principal produto do município acreano. A produção local acontece durante o ano todo, em regiões distintas do município, com área de 24.202 km², o segundo maior do Acre.
A Cooperativa de Produtores, Coletores e Batedores de Açaí de Feijó, que foi a requerente do pedido de IG, afirmou que a expressão “açaí de Feijó”, muito usada pelos acreanos, funciona como uma espécie de garantia de qualidade e sabor.
Em Feijó, o açaí vai além de um alimento. Ele conecta as pessoas com uma identidade forte e geograficamente muito bem delimitada: “o açaí de Feijó”. É possível encontrar a cor roxa do fruto na pintura de muitas casas, fachadas de instituições de ensino, espaços recreativos e até na pintura dos veículos de táxi locais.
Feijó é sede de grandes eventos relacionados ao fruto, como o Festival do Açaí de Feijó – iniciado em 1999, já teve mais de 24 edições, sempre em agosto. A edição de 2023 reuniu mais de 53 mil pessoas nos três dias de evento, e segundo o Sebrae, deu espaço e trtabalho para mais de 150 empreendedores. Foi demonstrado ainda que a expressão “Feijó, terra do açaí” está presente em diversas imagens e até nas placas de boas-vindas à cidade. Por todo o exposto, ficou comprovado que Feijó se tornou conhecido, local e regionalmente, como centro de extração e produção de açaí.
O colhedor de açai utiliza a peçonha, um utensílio rudimentar amazônico similar a um cinto, utilizado na escalada de árvores, comumente fabricado a partir de fibras naturais.
O açai de fato é um dos produtos brasileiros com maior potencial de aproveitamento. No Amapá o produtor João Capibaribe – ex-governador do estado e ex-senador da República – produz um “vinho de açai” que em testes conduzidos pela Embrapa revelou aromas e sabores similares ao de vinhos de uvas vitis viníferas. Em diversas regiões do Norte, em indústrias beneficiadoras do resto do Brasil e até mesmo no exterior o açai vem se transformando em sucos e polpas, energético e bebida, hidratantes e shampoos para o cabelo, hidratantes para a pele, suplementos e vitaminas, em pó de açaí, sem falar em sorvetes, doces e outros quitutes como geleias, chocolates e até cervejas.
Por isso mesmo, viva o açai!!!!