Uma doce dica: conheça os méis brasileiros com Indicação Geográfica (IG), seus terroirs, características e sabores.

Tempo de leitura: 8 minutos

Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora, no universo das mais de 110 IGs, o Brasil já tem 06 méis com Indicação Geográfica reconhecida, sendo que 03 deles são Denominações de Origem (DO) – o que caracteriza produtos copm profunda relação com o local onde são produzidos, e os outros 03 são indicacões de Procedência (IP). E pelo menos outros 03 méis estão em processo de análise, veja no fim desta reportagem. Estes seis tipos de méis (ou melhor: cinco tipos de méis e um tipo de melado) são produzidos em centenas de municípios de cinco estados: RS, SC, PR, MS e MG.

Como o mel pode ajudar na prevenção e no tratamento de algumas doenças como câncer, doenças cardiovasculares e Alzheimer e possui propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas e como além disso as abelhas são importantes indicadores de saúde ambiental em um determinado território, devemos divulgar, valorizar e fazer um brinde a isso, não?

A IG brasileira mais antiga entre os méis é a Ortigueira, da cidade paranaense de Ortigueira, que foi concedida oficialmente em setembro de 2015. Publico a seguir trechos das Fichas Técnicas das IGs concedidas, disponíveis no site do INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial – o órgão brasileiro que faz as concessões que terão validade no contexto dos acordos da OMC – Organização Mundial do Comércio. Assim, você pode descobrir boas razões para preferi-los – se encontrá-los, porque infelizmente ainda nnao são conhecidos como drveriam ser, por absoluta falta de promocão.

Ortigueira – Mel de abelha Ortigueira, Paraná – É uma Denominação de Origem – DO, concedida para a Associação dos Produtores Ortigueirenses de Mel – APOMEL. Trata-se de um mel de abelha Apis melífera. A florada de plantas nativas como assapeixe, capixingui, gabiroba, pitanga, lixa, gurucaia, aroeira vermelha e canela, dentre outras, garantem a variedade e qualidade do mel da região, que tem coloração âmbar claro, extra-branco, tem relação com a florada da região. A qualidade da flora melífera de Ortigueira sofre influência do terroir e de diversos fatores, como do solo e sua formação, do clima, da temperatura e da ação do homem. As características físico-químicas do mel (cor, viscosidade, propriedades higroscópicas e pH) foram determinadas pela sua origem botânica, vinculando o mel ao meio geográfico, comprovado por meio da análise de polens, distinguindo o mel da Ortigueira, de coloração clara e sabor suave, como um mel único, de excelente qualidade.

Pantanal – Mel de abelha Pantanal – Mato Grosso do Sul – É uma Indicação de Procedência – IP concedida ao Conselho das Cooperativas, Associações, Entrepostos e Empresas de Afins a Apicultura do Pantanal do Brasil – Confenal, com sede em Aquidauana – MS A área de produção tem uma delimitação enorme, corresponde ao Bioma Pantanal, presente em dois estados ocupando 25% do Mato Grosso do Sul e 7% do Mato Grosso. O Pantanal possui 206 espécies de plantas apícolas catalogadas, sendo 86 ervas, 44 árvores, 44 arbustos e 24 trepadeiras. Dentre estas, a Vermônia polysphaera (assa-peixe), a Dipteryx odorata (cumbaru) e a Vitex cymosa bartero ex spreng (tarumeiro). são as mais procuradas pelas abelhas. Essas variedades de espécies, somadas aos índices de temperatura e umidade, resultam em um mel silvestre singular, consistente, fino, de sabor forte e acentuado, levemente doce. A região não tem inverno rigoroso e está praticamente livre de inseticidas, oferecendo um ambiente favorável à apicultura. Esse tipo de mel está cada vez mais escasso no mundo, em virtude do avanço das fronteiras agrícolas, com seus defensivos. Afirmar que o mel é do Pantanal significa que foi colhido em meio à biodiversidade.

Oeste do Paraná – Mel de Abelhas Africanizada e Jataí, concedida para a  Cooperativa Agrofamiliar Solidária – COOFAMEL para Mel de Abelhas Apis melífera escutelata (apis africanizada) e de Mel de abelha Tetragonisca angustula (Jataí), cuja sede fica em Santa Helena – PR. É produzido em 50 municipios. As características físico-químicas do mel da região oeste têm sido avaliadas nos últimos anos, visando, além do aspecto legal, buscar uma identidade geográfica, pois a flora apícola é bastante característica, pelos reflorestamentos em áreas de preservação permanente às margens do lago da Hidroelétrica de Itaipu, que apoia com assistência técnica a cadeia produtiva do mel. O clima e topografia são dois fatores que fazem de parte do território da região oeste do Paraná propícia à produção do mel em escala comercial, em especial pela possibilidade de ser consorciado a outras atividades econômicas. O produto não pode ser adicionado de açúcares e/ou outras substâncias que alterem a sua composição original.

Capanema – Melado batido e melado escorrido de Capanema – PR – Concedido à Associação de Turismo de Doce Iguassu. O município de Capanema, conhecido como “Terra do Melado”, tem como importante força motriz econômica a agricultura familiar, tornou-se conhecido pela produção de produtos derivados da cana-de-açúcar, principalmente do melado. Destaca-se o sucesso da Feira do Melado, um evento que se tornou tradicional na Região Sudoeste do Paraná, ocorrido desde o ano de 1990. O município conta com uma geografia favorável, que garante uma cana de açúcar diferenciada. O tipo de terreno favorece o cultivo, com muito pedregulho, assim como o clima quente da região. Esses fatores possibilitam a produção de uma cana de açúcar mais doce. Outro fator que influencia é a proximidade do Rio Iguaçu, que garante uma ótima qualidade no processo de irrigação. O resultado é um produto final de cor mais escura, com uma cremosidade diferente e uma doçura especial.

Norte de Minas – Mel de abelha Apis mellifera L. produzido a partir da aroeira Myracrodruon urundeuva Allemão e de honeydew concedido ao Conselho de Desenvolvimento da Apicultura Norte Mineiro, sediado em Bocaiuva – MG. É uma Denominação de Origem. Estando contínuamente exposta a condições extremas de temperatura, a aroeira necessita produzir grandes quantidades de compostos fenólicos para se proteger. Os pulgões, ao sugar a seiva vegetal, induzem a aroeira a produzir essas substâncias fenólicas, que são excretadas pela planta em diversos de seus órgãos, entre os quais os nectários e as flores. As abelhas Apis mellifera utilizam a aroeira-do-sertão como principal recurso alimentar e são também seus principais polinizadores. Para produção do mel, as mesmas coletam um néctar misturado às secreções fenólicas da árvore, bem como a secreção excretada. Os fatores humanos do meio geográfico se expressam no saber fazer dos apicultores. O conhecimento da flora apícola, com a identificação da aroeira-do-sertão para fixação das colmeias, e do momento de floração da aroeira (que pode variar na região) e o rigoroso processo de manejo das colmeias permitem obter um mel de aroeira monofloral com a máxima expressão de suas qualidades e características típicas.

Planalto Sul Brasileiro – Mel de melato da bracatinga – PR, RS e SC, concedido à Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina – abrange total ou parcialmente 134 municípios, sendo 107 de SC, 12 do PR e 15 do RS. Por sua especificidade, é uma Denominação de Origem. O mel de melato, por definição, é um produto natural das abelhas obtido a partir das excreções de insetos sugadores de partes vivas das plantas. O mel de melato difere do mel floral ou extrafloral porque além da presença das enzimas das abelhas, contém enzimas derivadas das secreções das glândulas salivares e do intestino das cochonilhas, que promovem características como coloração mais escura (âmbar), maior condutividade elétrica, maiores teores de açúcares, nitrogênio e minerais, maior pH e, principalmente, maiores efeitos benéficos à saúde quando comparado aos méis florais. Apesar da maior concentração de açúcares, o mel do melato apresenta menores quantidades de frutose e glicose e não cristaliza como o mel floral. Vale destacar que estudos pioneiros com mel de melato da bracatinga da região demarcada demostraram que o mesmo possui, ainda, características diferenciadas quando comparado aos méis florais e de melato de outras origens geográficas e/ou botânicas, com destaque para a maior concentração dos aminoácidos livres serina, prolina, asparagina, ácido aspártico e ácido glutâmico. É altamente exportado para a Europa

Outros 3 méis estão em processo de avaliação: Jandaíra, do RN; Inhamuns, um mel de aroeria de SP e um mel de Prudentópolis – SP.

Espero ter adoçado um pouco mais o seu dia – e o seu bom gosto.

Para saber mais, veja este video que publiquei em 2020: https://youtu.be/6TJG4IV74dU

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