Vinhos “caipiras” do Brasil têm o primeiro concurso nacional em São Paulo – faço um brinde a isso!!!

Tempo de leitura: 4 minutos

Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora, fico feliz em divulgar um evento importante para o setor vitivinícola brasileiro: a realização da 1a. edição do Concurso Brasileiro de Vinhos de Mesa – CBVM, de 01 a 03 de agosto na capital paulista. O local ainda não foi divulgado. Explico porque chamo de “caipiras”: este concurso vai avaliar vinhos produzidos no país com uvas híbridas e americanas, tipo vitis labrusca, tradicionalmente produzidas por descendentes de imigrantes, produzidas localmente, e não uvas de vitis viniferas, aquelas “chiques” européias que todos conhecem e que estão no mundo todo.

Gosto do evento porque estas uvas têm uma maior identidade com os produtores, as comunidades e a própria terra, o terroir, porque muitas delas estão sendo produzidas desde a chegada dos imigrantes italianos e alemães. E valorizar o patrimônio dos territórios e das comunidades locais – que chamo de Tesouros no Fundo do Quintal – é um caminho que precisamos trilhar urgentemente.

No Brasil os “caipiras” (também chamados “de mesa”) mais comuns são os vinhos com uvas Isabel e Niágara, as castas mais usadas na elaboração dos vinhos brasileiros até a década de 80, quando começamos a produzir vinhos com outras outras castas agora mais conhecidas como Goethe, Bordô e Concord frequentemente usadas para a produção de sucos, geleias e compotas, e vinhos mais simples e populares.

Qualquer enólogo ou enófilo vai dizer que as uvas européias são melhores para vinhos e eles têm razão: afinal a bebida final tem aspecto mais límpido, com tons mais vivos e brilhantes e as uvas tem uma casca mais grossa, rica em substâncias como taninos e polifenóis, o que é bom para fazer vinhos e para a saúde. Além disso, acumularam uma experiência de séculos de vinificação com estas uvas. E as uvas americanas, chamadas também de mesa, geralmente têm uma concentração maior de açúcar, gerando uma bebida mais doce e menos alcoólica (nossa legislação define como vinhos de mesa aqueles com graduação alcóolica de 8,6 a 14%, o que influencia  fermentação).

Os enólogos brasileiros foram capacitados (na Europa ou no Brasil) a pensarem deste jeito: vinho bom só pode ser feito com vitis viniferas. E jornalistas e enófilos seguem conceitos pré-fabricados como a famosa “boiada com a porteira aberta”: escrevem e compram pela grife, pela fama, sem sequer experimentar vinhos de uvas vitis labrusca, os nossos caipiras.

Mas isso está mudando. O reconhecimento de nossas uvas está se ampliando tanto no que se refere a aspectos técnicos (como com certificações) como no mercado. Em 2012 o INPI concedeu a primeira Indicação de Procedência a um vinho com uva americana para o Estado de Santa Catarina coma a IG Vales da Uva Goethe. E em abril de 2023 o INPI reconheceu a Indicação Geográfica (IG) Jundiahy (SP) para uva Niagara Rosada, uma variedade regional.

Como em muitas categorias de produtos, também na vitivinicutura sofremos aqui no Brasil da chamada “sindrome de cachorro  vira-lata”, conceito criado por Nelson Rodrigo na década de 1950 para denominar uma crença inconsciente de que é uma “etnia” inferior a dos demais, especialmente em face dos europeus. Isso acontecia com queijos – até que nossos produtos de MG, ES, SC e SP passaram a conquistar prêmios internacionais de alta relevância. O mesmo com o azeite de oliva e agora produtos do RS e SP já brilham de maneira efusiva no exterior. No setor de vitivinicultura tem outro exemplo: nossos espumantes (a maioria com vitis viniferas) já estão criando fama no exterior.

O Concurso Brasileiro de Vinhos de Mesa vai premiar vinhos Brancos Tranquilos, Tintos Tranquilos, Secos Rosados Tranquilos, Frisantes, Espumantes, Filtrados Doces, Jurupingas (combinação de vinhos suaves aromáticos) e Mistelas (mosto simples não fermentado, adicionado de álcool etílico vínico).

O evnto é uma iniciativa da M&P Editora, os organizadores do Concurso Nacional de Vinhos e Destilados do Brasil – CVDBque já está na sua 23ª edição e conta com o apoio da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, da Consevitis RS – Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul, da Fecovinho – Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul, do SindVinho – Sindicato da Indústria do Vinho MG e Sindivinho RS.

Para saber rmais sobre Tesouros noFundo do Quntal acesse aqui: https://www.youtube.com/c/TesourosnoFundodoQuintal

https://www.youtube.com/c/TesourosnoFundodoQuintal

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