Tempo de leitura: 5 minutos
Por Rogerio Ruschel
A trajetória dos vinhos com Selo IP Altos Montes é bem curiosa e parece repetir uma síndrome que sofremos no Brasil: quase sempre demoramos para perceber o real valor dos produtos locais, que temos no fundo do quintal, quando comparados a produtos globais, estrangeiros. Por exemplo: dezenas de produtos brasileiros locais, pequenos mas de grande qualidade, que poderiam ter uma percepção de valor maior e buscar mercados mais seletivos, permanecem esquecidos, aguardando que os produtores percebam que o valor está na qualidade, não no volume. No caso do IP Altos Montes, a autorização para emitir certificado para “selar” os produtos foi aprovada pelo INPI em 2012, mas somente agora, quase 10 anos depois, a segunda safra de vinhos vai receber o selo IP e chegar ao mercado. O que foi feito neste período de 9 anos? O que aconteceu com a mobilização inicial?
Vou relembrar aos seletivos leitores ou leitoras de In Vino Viajas: com 173,84 quilômetros quadrados, a Indicação de Procedência (IP) Altos Montes é a maior já certificada no Brasil. Foi aprovada em 11/12/2012 e abrange Flores da Cunha e Nova Pádua, na Serra Gaúcha, municípios que estão entre os maiores produtores de vinhos por volume do país. Foi batizada assim por causa de seu relevo acidentado e pela altitude, que chega a 885 metros. O cultivo da uva na região é marcado pela ocorrência em pequenas propriedades e por empregar basicamente mão-de-obra familiar, o que não impediu que as vinícolas fizessem uso de alta tecnologia para elaborar vinhos cada vez melhores. Isso mesmo, a certificação foi obtida 10 anos atrás.
Pois no dia 2 de dezembro de 2021 a Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes realizou a entrega do Certificado de Produto Aprovado para o uso do Selo de Indicação de Procedência Altos Montes na Safra 2021. A primeira safra de vinhos com o selo de procedência foi certificada em 13 de maio de 2021. Segundo o press-release que recebi, “Doze rótulos receberam a certificação e o lançamento dos primeiros vinhos ao mercado está previsto para março de 2022, com os produtos elaborados com uvas brancas.” Na verdade, de vinhos brancos só tem quatro rótulos elaborados com chardonnay. Então não posso informar ao leitor quando os vinhos tintos como merlot, cabernet franc, tannat e pinot noir, agora certificados, vão chegar ao mercado.
Para lembrar meu estimado leitor, são autorizadas para a I.P. Altos Montes exclusivamente cultivares de Vitis vinifera L.: para Vinhos Finos Brancos Secos: Riesling Itálico, Malvasia de Candia, Chardonnay, Moscato Giallo, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer. Para vinhos Espumantes Finos Brancos ou Rosados: Riesling Itálico, Chardonnay, Pinot Noir, Trebbiano. Para Vinhos Espumantes Moscatel Brancos ou Rosados: Moscato Branco, Moscato Branco: clone R2, Malvasias, Moscato Giallo, Moscato de Alexandria. Para Vinhos Finos Tintos Secos: Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Ancellotta, Refosco, Marselan, Tannat; Para Vinhos Finos Rosados Seco: Pinot Noir, Merlot.
Os vinhos aprovados passaram por avaliação técnica e degustação às cegas em outubro deste ano. Na ocasião, foram avaliadas doze amostras da Safra 2021 e reavaliadas duas da Safra 2020, sendo todos recomendadas, por unanimidade, pelos sete enólogos avaliadores. Essa é a segunda safra de vinhos da Associação a receber o Selo IP.
Jaime Milan, Presidente da Associação Brasileira de Indicações Geográficas comenta: “Um fator que, confesso, me causou surpresa é que os vinhos foram recomendados todos por unanimidade. Isso significa que existe qualidade. O trabalho está sendo feito no campo, na vinícola, está muito bom e o resultado está aí, vinhos do ano passado e deste ano recomendados por unanimidade. Eu tenho acompanhado desde 2001 o Vale dos Vinhedos, Farroupilha, a Campanha Gaúcha e não se tem unanimidades, isso é muito raro, e isso repetiu por dois anos aqui”.
E segundo o enólogo e coordenador da IP Altos Montes, Felipe Bebber, “Os vinhos da safra de 2021 se mostraram com um potencial de guarda muito interessante. Todos com uma acidez viva, um frescor muito presente. Vinhos exuberantes, que com certeza, poderão ter uma vida muito longa e amadurecer muito bem em garrafa”.
A certificação foi um trabalho conquistado pela Associação dos Produtores dos Vinhos dos Altos Montes (Apromontes), criada em 2002, e é composta por doze vinícolas: Boscato Vinhos Finos, Casa Venturini Vinhos & Espumantes, Cave de Angelina Vinhos & Vinhedos, Fante Bebidas, Luiz Argenta Vinhos Finos, Terrasul Vinhos Finos, Valdemiz Vinhos Finos, Vinhos Fabian, Vinhos Viapiana, Vinícola Família Bebber, Vinícola Mioranza e Vinícola Panizzon. Mais informações podem ser obtidas em www.vinhosdosaltosmontes.com.br.
Na região da I.P. Altos Montes a vitivinicultura para vinhos finos começou a se destacar desde as décadas de 1920/1930, quando foram criadas diversas vinícolas como a União de Vinhos, a Vinícola São Pedro e a Companhia Vinícola Rio-Grandense, responsável pela importação e disseminação de muitas variedades de Vitisvínifera L. E o curioso é que nenhuma destas empresas acima está na lista de associadas.
Vinhos da Safra 2021 recomendados para o Selo IP Altos Montes
Boscato Vinhos Finos
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Merlot
Cave de Angelina – Vinhos e Vinhedos
Vinho Fino Branco Seco Chardonnay
Luiz Argenta Vinhos Finos
Vinho Fino Branco Seco Chardonnay
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Merlot
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Cabernet Franc
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda (Corte)
Vinhos Fabian
Vinho Fino Branco Seco Chardonnay
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Merlot
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Cabernet Sauvignon
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Tannat
Vinhos Viapiana
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Pinot Noir
Vinícola Bebber
Vinho Fino Tinto Seco de Guarda Merlot