Viticultor da Borgonha pode ser preso por não usar inseticida que mata abelhas; ambientalistas circulam abaixo-assinado mundial

Tempo de leitura: 4 minutos

 

Por Rogerio Ruschel (*)
Esta é uma história bisonha, da qual com certeza vamos nos envergonhar no futuro, resumida assim pelo jornal francês Le Monde: “Justiça persegue viticultor que diz não a pesticidas”. Emmanuel Giboulot (abaixo), produtor de vinhos orgânicos em Côte- d’Or, Borgonha, França, estará dia 24 de Fevereiro, na próxima segunda-feira, sendo julgado por ter se recusado a aplicar um pesticida perigoso em seu vinhedo orgânico e pode pegar até seis meses de prisão e uma multa de 30.000 Euros. 

 

Há mais de 30 anos Giboulot produz uvas em 10 hectares de vinhedos que utilizam agricultura biológica (veja abaixo em foto do jornal Le Monde) e sempre utilizou soluções naturais para resolver problemas com doenças e pragas, diferentemente de seus vizinhos que aplicam fortes doses de inseticidas poluentes. 

 

Resumo a história. Em junho de 2013, para combater um risco hipotético de epidemia Flavescense ouro, uma doença da videira, o Prefeito de Côte-d’Or departamento frances cuja capital é Dijon, tomou uma decisão radical: todas as vinícolas deveriam tratar as suas vinhas contra a cigarrinha, o inseto que espalha a doença (na foto abaixo). O problema é que mesmo o inseticida menos poluente contra a cigarrinha polui o solo, mata abelhas e destrói todos os insetos que poderiam controlar os parasitas de maneira natural.

 

Emmanuel Giboulot (abaixo, no vinhedo) decidiu lutar contra a cigarrinha com tratamentos naturais conhecidos e eficientes e se recusou a aplicar o inseticida – veja abaixo como isso é possível. Em 30 de julho de 2013 o viticultor se recusou a aplicar o inseticida e um inspetor da Direção Regional de Agricultura informou o Ministério Público que indiciou Emmanuel por crime contra a ordem pública. Emmanuel foi convocado para um acordo amigável com o procurador no dia 24 de Dezembro, que foi cancelado no último momento; em vez de encerrar o caso, o procurador decidiu encaminhar o assunto para o tribunalcriminal, com um julgamento marcado para 24 de Fevereiro.
Emmanuel Giboulot será julgado ao lado de larápios, criminosos sexuais, bandidos e assaltantesporque não quer utilizar produtos poluentes que fazem mal à saúde das pessoas e estão matando abelhas – um problema mundial que está causando escassez de alimentos. Por causa disso a comunidade que sabe o valor de produtos orgânicos está mobilizada, colhendo assinaturas de apoio a Emmanuel Giboulot. O Instituto para a Proteção da Saúde Natural criou um site para isso: entre lá e assine, porque não é mais possível permitir que decisões insensatas como essa continuem a existir. Entre e assine, o link é http://ipsn.eu/petition/viticulteur/

 

Para informar os leitores:
O produtor se apresentou na audiência no dia 24/02/2014 mas o juiz apenas aplicou uma multa (1.000 Euros) no produtor, constrangido por um abaixo-assinado internacional que coletou mais de 474 mil assinaturas em favor de Giboulot. Além disso cerca de 500 pessoas se reuniram em volta do tribunal de Dijon para apoiá-lo neste dia.Alternativas naturais são eficazes


Ao contrário do que as autoridades dizem, há várias maneiras de proteger as videiras contra a cigarrinha respeitando o meio ambiente. Entre estas práticas estão:
• vinhas podem ser protegidas com samambaias e argila calcinada;
• existem armadilhas eficazes para cigarrinhas – está comprovado que a cigarrinha é atraída pela cor laranja;
• plantando palha de aveia entre as videiras, elas crescem e a alta intensidade de luz impede o surgimento do inseto; experimentos têm mostrado que esta medida simples é tão eficaz quanto o inseticida químico;
• mas o mais importante é a preservação da biodiversidade; o que melhor combate a cigarrinha são outros insetos como aranhas e louva-deus, mas estes já foram erradicados por inseticidas de vinhedos não-orgânicos.

 

Essas soluções não devem ser combatidas, mas sim encorajada pelas autoridades. E os agricultores que as utilizam devem ser elogiados e não ficarem sujeitos ao terror da repressão legal. Assinar o abaixo-assinado vai mostrar a juízes, promotores e vendedores de produtos químicos que existem alternativas científicas e que este agricultor não está sozinho em sua luta.

 

Para conhecer melhor o problema acesse https://www.facebook.com/emmanuelviticulteurbioprison
Para ouvir um depoimento de Emmanuel Giboulot acesse: http://www.notre-planete.info/actualites/3876-vin-refus-pesticide-prison

 

 (*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo, ambientalista e consultor há 24 anos em sustentabilidade socioambiental no Brasil.  Na foto acima, Ruschel examina videiras na Borgonha.

 

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